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Reino Unido acusa Rússia de estar por trás de ciberataques

4 de outubro de 2018

Londres acusa diretamente a inteligência russa de sabotar democracias ocidentais ao apoiar ações de hackers, como no caso dos ataques cibernéticos ao Partido Democrata dos EUA e à Agência Internacional Antidoping.

Mão digita em teclado
Segundo o governo britânico, hackers trabalhavam sob a tutela da GRU com o consentimento do KremlinFoto: picture alliance/MAXPPP/R. Brunel

O governo britânico acusou nesta quinta-feira (04/10) a inteligência militar russa (GRU) de estar por trás de ataques cibernéticos "irresponsáveis e indiscriminados" contra governos democráticos e instituições do Ocidente, interferindo em questões que vão desde o esporte e os transportes públicos até as eleições presidenciais dos Estados Unidos de 2016.

Um comunicado emitido pelo ministro britânico do Exterior, Jeremy Hunt, afirma que investigações do Centro Nacional de Cibersegurança (NCSC) concluíram que hackers conhecidos por ciberataques realizados em todo o mundo trabalhavam sob a tutela da GRU, com o consentimento do Kremlin.

Esses ataques, que ocorreram em "flagrante violação das leis internacionais", teriam afetado "cidadãos de um grande número de países, incluindo a Rússia", gerando prejuízos milionários às economias nacionais.  

Segundo o governo britânico, a GRU estaria por trás de ciberataques à Agência Internacional Antidoping (Wada) em 2017, quando hackers roubaram arquivos médicos de atletas internacionais, e ao Comitê Nacional do Partido Democrata dos EUA durante a campanha presidencial de 2016. A inteligência militar russa também teria invadido as comunicações internas de uma emissora de televisão com sede no Reino Unido em 2015. O nome da emissora não foi divulgado por motivos legais.

O Ministério do Exterior britânico especificou seis ciberataques que teriam sido realizados por hackers apoiados pela GRU e identificou 12 grupos que agiam como cobertura para inteligência militar russa, entre estes, Fancy Bear, Voodoo Bear, CyberCaliphate e Tsar Team.

Entre os ciberataques atribuídos pelo NCSC a grupos acobertados pela GRU estão o ransomware – tipo de ataque que exige pagamento de resgate para restabelecer acesso a dados de sistemas invadidos – conhecido como BadRabbit, que causou distúrbios no metrô de Kiev e no aeroporto de Odessa, ambos na Ucrânia, além do Banco Central russo e dois grupos de mídia do país.

Saiba mais sobre os ciberataques

01:15

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No ataque de 2016 ao Partido Democrata dos EUA, foram roubados milhares de e-mails internos da legenda durante a campanha presidencial de Hillary Clinton, que seriam posteriormente publicados pelo portal Wikileaks, influenciando os resultados das eleições americanas vencidas pelo republicano Donald Trump.

O ciberataque foi repetidamente atribuído a hackers russos, mas esta é a primeira vez que os serviços de inteligência britânicos acusam diretamente o país de estar por trás do crime.

"As ações da GRU são irresponsáveis e indiscriminadas; eles tentam sabotar e interferir em eleições em outros países e estão preparados até mesmo para causar danos a empresas e cidadãos russos. Esse padrão de comportamento demonstra a intenção de operar em desobediência às leis internacionais e às normas estabelecidas, com uma sensação de impunidade e sem consequências", diz o comunicado de Hunt.

"Nossa mensagem é clara: junto com nossos aliados, vamos expor e reagir às tentativas da GRU de sabotar a estabilidade internacional", afirmou.

O ministro britânico da Defesa, Gavin Williamson, disse que essas ações resultarão num isolamento ainda maior da Rússia em relação ao Ocidente.

"Estas não são ações de uma grande potência, mas sim de um Estado pária. Continuaremos a trabalhar com nossos aliados para isolar e fazê-los compreender que não podem continuar a proceder dessa forma", afirmou.

A GRU – considerada a sucessora da antiga KGB, a agência de inteligência da União Soviética – está submetida ao Ministério russo da Defesa.

A acusação britânica à GRU é anterior ao caso do envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal, ocorrido no mês de março na cidade inglesa de Salisbury.

O caso gerou uma grave crise diplomática entre Moscou e Londres, que culpa o Kremlin pelo ocorrido. A Rússia nega qualquer envolvimento no caso, apesar de evidências apresentadas pela inteligência britânica afirmarem o contrário.

As principais nações do Ocidente apoiaram as conclusões das investigações realizadas pelo Reino Unido e adotaram medidas punitivas, como a expulsão em massa de espiões e diplomatas russos de diversos países. O episódio gerou a pior crise diplomática entre as nações ocidentais e Moscou desde o fim da Guerra Fria.

RC/rtr/ots/afp

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