Reino Unido derruba restrições de visto para Ai Weiwei
31 de julho de 2015
Artista chinês recebe permissão completa de seis meses e um pedido de desculpas das autoridades britânicas, que justificam falha afirmando que o ativista havia deixado de declarar uma condenação penal em seu pedido.
Anúncio
Autoridades britânicas pediram desculpas pela retenção de um visto de longa duração ao artista e dissidente chinês Ai Weiwei e decidiram, nesta sexta-feira (31/07), emitir uma autorização de seis meses, depois que a secretária do Interior do Reino Unido, Theresa May, interveio.
"A secretária do Interior não havia sido consultada sobre a decisão de conceder um visto de um mês ao senhor Ai Weiwei. Ela analisou o caso e já instruiu a emissão de um visto completo de seis meses", disse uma porta-voz do Ministério do Interior. "Escrevemos ao senhor Ai Weiwei nos desculpando pela inconveniência causada", acrescentou.
Na última semana, Weiwei recebeu o passaporte chinês de volta. Na quinta-feira, ele chegou à Alemanha, onde dirigiu o filme "Berlim, eu te amo" via Skype. O artista também ocupa um cargo oficial, o de professor visitante, na Universidade de Artes de Berlim, desde abril de 2011.
Estava programado o ativista chinês visitar Londres para uma exposição de seu trabalho na Academia Real Inglesa (Royal Academy School of Arts, em inglês), pelo qual Weiwei recebeu apenas um visto curto de permanência. Após desembarcar em Munique, Weiwei postou uma carta da embaixada britânica que dizia que o governo estava dando a ele um visto de 20 dias, alegando que o ativista não havia completado corretamente a informação sobre seus antecedentes penais na solicitação de visto.
Com o presidente da China, Xi Jinping, também realizando uma visita ao Reino Unido, em outubro, o primeiro-ministro britânico, David Cameron se viu confrontado com as críticas de estar colocando o comércio à frente dos direitos humanos nas relações com Pequim.
Em 2011, Ai Weiwei foi preso depois de ser acusado pelas autoridades chinesas de retenção de impostos na fonte. Ele ficou detido por 81 dias. Ativistas de direitos humanos acusaram a China de perseguição política. O artista de 57 anos nunca foi condenado criminalmente em seu país.
PV/dpa/aprtr
Ai Weiwei: um artista e a política
Celebrado no Ocidente, escultor, performer e criador de instalações foi tratado como criminoso na China. Depois de quatro anos, Ai Weiwei recebeu o passaporte de volta. E a primeira viagem programada é para a Alemanha.
Foto: Getty Images
Visto alemão
No dia 24 de julho de 2015, o artista chinês Ai Weiwei divulgou em sua conta no Instagram uma imagem do visto que obteve para viajar à Alemanha. O escultor, performer e criador de instalações irreverente ficou proibido de deixar a China durante quatro anos. O artista quer viajar a Berlim para ver o filho de seis anos, que vive na Alemanha desde 2014.
Foto: https://instagram.com
Passaporte de volta
O artista plástico e ativista social recebeu o passaporte de volta no dia 22 de julho de 2015. Acusado de fraude fiscal pelas autoridades chinesas, Ai Weiwei ficou detido de abril a junho de 2011. Desde então, o documento estava confiscado. "Quando peguei o documento senti que meu coração estava em paz", disse em entrevista ao jornal britânico "The Guardian".
Foto: Instagram/Ai Weiwei
Flores pela liberdade
Ai Weiwei fez uma campanha de 600 dias para recuperar o passaporte. Ele fotografou diferentes ramos de flores na cesta de uma bicicleta em frente ao seu ateliê e divulgou as imagens diariamente em sua conta no Instagram.
Foto: https://instagram.com
"Berlin, eu te amo"
Proibido de deixar a China, Ai Weiwei começou a dirigir um filme via Skype com a ajuda de um produtor alemão. "Berlin, ich liebe dich" ("Berlim, eu te amo") deve ser lançado no Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale), em 2016. O filme, que faz parte da série "Cities of love", trata da relação do artista com seu filho, Ai Lao.
Foto: picture-alliance/dpa/L. Schulze
Superstar e provocador
Para muitos chineses, o escultor, performer e criador de instalações Ai Weiwei representa uma espécie de consciência social. Ele se engaja por maior liberdade de opinião em seu país e critica a repressão política de uma forma que alcança o grande público.
Foto: picture-alliance/dpa
Título revelador
A maior exposição de Ai Weiwei – "Evidence" ("prova") foi inaugurada em 2014 no museu Martin-Gropious-Bau, em Berlim. O título é pertinente, pois, em 34 esculturas e instalações, ele reflete sobre a realidade social da China. "Wooden stools", por exemplo, reúne 6 mil bancos de madeira no pátio interno do espaço de exposições, organizados de acordo com um reticulado geométrico.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Tradição e modernidade
Os bancos, oriundos da dinastias Ming e Qing, foram coletados no norte da China pelo artista e seus colaboradores ao longo de vários anos. Antigamente eles compunham o inventário padrão das residências chinesas, sendo herdados de geração em geração, dentro das famílias. Desde a Revolução Cultural, contudo, os bancos não são mais peças únicas de madeira, e sim artigos de massa, de matéria plástica.
Foto: Mathias Völzke
81 dias
Sem mandado de prisão, em 2011 o artista foi mantido num presídio secreto fora de Pequim, vigiado 24 horas por dias por câmeras e policiais militares, com a luz acesa dia e noite. Acusado de sonegação de impostos, teve seu passaporte apreendido e só foi libertado após pressão internacional. Ele reproduziu essa cela com precisão em Berlim, intitulando a obra "81" – número de dias de seu cativeiro.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Vigilância marmórea
Mesmo depois de libertado, o dissidente, hoje com 57 anos, continuou sob vigilância. Diante de seu ateliê em Pequim estão instaladas 17 câmeras, o Estado sabe sempre quem entra ou sai. Mas, pelo menos artisticamente, Ai Weiwei virou a mesa, esculpindo os aparelhos em mármore, com todos os detalhes: um símbolo da própria repressão política, através do filtro da arte.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
"Souvenir from Shanghai"
Até algum tempo atrás, o governo de Pequim ainda tentava se beneficiar da popularidade de Ai Weiwei. Ele foi encorajado a montar um estúdio em Xangai, como parte de uma gigantesca aldeia de artistas. Em 2011, como suas críticas desagradavam ao Partido Comunista, o ateliê já pronto foi demolido. Em Berlim, o artista expõe os destroços, dentro de uma cama de madeira tradicional chinesa.
Foto: Getty Images
Crustáceos ambíguos
Em protesto contra a demolição de seu estúdio, Ai Weiwei promoveu uma "festa de caranguejos", irritando Pequim mais uma vez. Pois a palavra chinesa para o crustáceo é foneticamente idêntica a "he xie", a "harmonia" tão exaltada como imagem ideal da sociedade chinesa pela propaganda do regime. Os caranguejos em Berlim são de porcelana.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Bicicletas evocativas
Ai Weiwei mandou soldar 150 bicicletas para essa impressionante instalação. Ele não só lembra como esse meio de transporte está sendo extinto na China, em favor dos automóveis, mas também evoca um espetacular processo de fachada. Alguns anos atrás, um jovem foi preso por andar com uma bicicleta não registrada, sofreu maus tratos no cárcere e mais tarde chegou a ser condenado à morte.