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Reino Unido dificulta imigração no pós-Brexit

19 de fevereiro de 2020

Governo britânico anuncia sistema de pontuação que deve privilegiar qualificação profissional e conhecimentos de inglês a partir de 2021. Bares, restaurantes e assistência social dizem que ficará difícil contratar.

Casal polonês diante do restaurante onde trabalha, em Londres
Casal polonês diante do restaurante onde trabalha, em LondresFoto: picture alliance/AP Photo/M. Dunham

O governo do Reino Unido anunciou nesta quarta-feira (19/02) que vai priorizar o ingresso de trabalhadores estrangeiros altamente qualificados e falantes do inglês no país e pôr um fim à dependência da "força de trabalho barata vinda da Europa".

O novo sistema deverá começar a funcionar em 1º de janeiro de 2021, quando, se tudo correr como o planejado, estará concluída a chamada fase de transição da saída do Reino Unido da União Europeia (UE).

O novo modelo de imigração prevê um sistema de pontos para os trabalhadores estrangeiros, não importa se vindos da União Europeia ou de outros locais. Somente aqueles que alcançarem a pontuação mínima receberão um visto de trabalho.

Entre os critérios considerados no sistema de pontuação estão conhecimentos de inglês, qualificação profissional, garantia de salário e também qual a profissão do candidato.

O ministra do Interior, Priti Patel, disse que a reforma – a maior na política migratória em 50 anos – vai facilitar a obtenção de vistos por trabalhadores altamente qualificados e dificultar o ingresso de pessoas de baixa qualificação profissional.

O Partido Trabalhista disse que alguns setores dependem tanto de trabalhadores estrangeiros que o governo se verá forçado a abrir muitas exceções, o que tornará a reforma insignificante. 

As novas regras de imigração implicam uma mudança radical para o mercado de trabalho do Reino Unido e principalmente para os setores que se apoiam fortemente nos trabalhadores vindos do Leste Europeu.

Em 2004, vários países do Leste Europeu ingressaram na União Europeia, e seus cidadãos passaram a ter o direito de trabalhar em qualquer país do bloco. Na época, vários países da UE optaram por um período transitório de controle imigratório, que ia até 2011. O Reino Unido optou por abrir imediatamente suas fronteiras e viu um grande ingresso de migrantes a procura de trabalho.

A imigração foi um dos principais temas durante a campanha eleitoral que antecedeu o referendo de 2016, no qual a população britânica optou pelo Brexit, ou seja, por deixar a UE. O governo do primeiro-ministro Boris Johnson, que apoiou o Brexit, já anunciou que pretende diminuir drasticamente os números de imigrantes e retomar o "controle total" sobre as fronteiras.

Setores que dependem da mão de obra estrangeira reagiram imediatamente e argumentaram que poderá faltar pessoal em clínicas, restaurantes, bares e nas lavouras. Isso, afirmam, poderá prejudicar duramente a quinta maior economia do mundo.

O setor de frutas e verduras, por exemplo, depende do trabalho de 80 mil pessoas vindas da União Europeia somente para as colheitas. O governo quer que apenas 10 mil venham para o trabalho sazonal.

A Confederação da Indústria Britânica disse que, em alguns setores, as empresas não saberão onde encontrar as pessoas de que necessitam.

A deputada liberal Christine Jardine afirmou que a reforma tem a xenofobia como base e que hoje muitos setores já não sabem onde encontrar trabalhadores.

Entre os setores que deverão ser mais afetados estão a indústria de alimentos, a assistência a idosos e doentes, a construção civil e o setor de hotéis, bares e restaurantes. Empresas temem que faltarão também porteiros, seguranças e pessoal de limpeza.

O Migration Advisory Committee (MAC), um órgão independente que assessora o governo em questões de migração, estima que 70% das pessoas que foram da UE para o Reino Unido desde 2004 não teriam obtido um visto pelas novas regras.

A imigração da UE já está em queda no Reino Unido desde a vitória do grupo pró-Brexit no referendo. Estatísticas mostram que a "imigração líquida" (pessoas que chegaram menos as que partiram) é o menor desde 2009 e gira em torno de 200 mil por ano.

Como funciona o sistema de pontos

Pelo sistema, um trabalhador estrangeiro deverá alcançar no mínimo 70 pontos para se candidatar a um visto de trabalho no Reino Unido.

Os três critérios obrigatórios garantem 50 pontos: oferta de emprego por uma empresa autorizada (vale 20 pontos), comprovar qualificação adequada ao emprego oferecido (vale mais 20 pontos) e falar inglês no nível exigido pelo emprego (vale 10 pontos).

Um salário anual de no mínimo 23.040 libras vale mais 10 pontos. Se for acima de 25.600, vale 20 pontos.

Se o emprego oferecido for num setor onde há carência de mão de obra, o candidato soma mais 20 pontos. Um doutorado numa área relevante para o emprego desejado vale 10 pontos. Se for nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, são 20 pontos.

AS/rtr/afp

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