Reino Unido planeja infectar voluntários para testar vacinas
20 de outubro de 2020
Pesquisadores britânicos querem expor ao coronavírus jovens saudáveis entre 18 e 30 anos, em ambiente controlado. Objetivo é acelerar aprovação de imunizante eficaz.
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Pesquisadores do Reino Unido estão planejando infectar deliberadamente voluntários jovens e saudáveis com o novo coronavírus para entender como pessoas imunizadas com diferentes vacinas respondem à exposição controlada ao vírus. O governo britânico anunciou nesta terça-feira (20/10) que pretende investir 34 milhões de libras no projeto, o equivalente a R$ 245 milhões.
O estudo liderado pelo Imperial College de Londres deverá começar em janeiro de 2021 e ser realizado no Royal Free Hospital, na capital britânica, em ambiente controlado. Os voluntários, jovens saudáveis entre 18 e 30 anos, serão monitorados por pelo menos um ano para garantir que não sofram nenhum efeito a longo prazo.
Segundo os pesquisadores, o estudo é importante pois pode descartar mais rapidamente vacinas candidatas ineficazes e acelerar a chegada ao mercado de um imunizante eficiente e seguro.
Nesse tipo de estudo, chamado de teste de desafio humano, em vez de testar as vacinas da maneira usual, aguardando que as pessoas imunizadas se deparem com o vírus em seu dia a dia, os pesquisadores expõem os voluntários ao coronavírus em um ambiente controlado.
"Infectar deliberadamente voluntários com um patógeno humano conhecido nunca é feito levianamente", disse o professor Peter Openshaw, coautor da pesquisa. "Esses estudos são enormemente informativos sobre uma doença, mesmo uma doença tão bem estudada como a covid-19", acrescentou.
Na primeira fase do estudo, os cientistas vão determinar, com o uso de gotas nasais, as menores doses do vírus necessárias para infectar os até 90 voluntários saudáveis.
Depois, em um segundo estágio, os pesquisadores começarão a comparar as vacinas contra o coronavírus imunizando as pessoas e, em seguida, infectando-as deliberadamente. O governo ainda não anunciou quais vacinas serão testadas.
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Estudo questionável
Alguns especialistas em ética médica questionam a realização do estudo, uma vez que ainda não existe um tratamento altamente eficaz contra a covid-19. Embora não tão comuns, outros testes de desafio humano já foram realizados, mas com doenças que podem ser curadas facilmente com medicamentos já existentes, como cólera, malária e febre tifóide.
Outra preocupação é que a covid-19 é uma doença imprevisível e, embora não seja comum que jovens fiquem gravemente doentes, há casos críticos de infecção entre eles, inclusive com a ocorrência de mortes.
Kate Bingham, líder da força-tarefa de vacinas do governo britânico, defendeu que o projeto vai melhorar a compreensão do vírus e ajudar os cientistas a tomarem decisões sobre os rumos da pesquisa.
"Há muito que podemos aprender em termos de imunidade, duração da proteção da vacina e reinfecção", disse em comunicado.
O estudo será monitorado por especialistas independentes e precisará da aprovação da Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido, antes que os voluntários sejam inscritos.
A pesquisa será conduzida em parceria com o Departamento de Negócios, Energia e Estratégia Industrial do governo, o Royal Free London NHS Foundation Trust e a hVIVO, uma empresa que tem experiência na condução de testes de desafio humano.
Governos em todo o mundo estão financiando projetos para desenvolver uma vacina na esperança de acabar com a pandemia, que, além de deixar mais de 1,1 milhão de mortos, atingiu a economia internacional, fechando empresas e deixando milhões de pessoas sem trabalho.
Ao todo, 46 potenciais vacinas estão em testes em humanos, 11 delas em estágio final. A esperança é ter os resultados desses estudos ainda neste ano ou no início de 2021.
LE/ap,ots
Doenças prevenidas com vacinas
Vacinas protegem o corpo, criando resistência contra doenças. As vacinas são feitas com substâncias e microrganismos inativados ou atenuados que, quando introduzidos no organismo, estimulam a reação do sistema imune.
Foto: picture-alliance/imagebroker
Catapora
Também chamada de varicela, é uma doença infecciosa altamente contagiosa, causada pelo vírus Varicela-Zoster. Os principais sintomas são manchas vermelhas e bolhas no corpo, acompanhadas de muita coceira, mal-estar, dor de cabeça e febre. As bolhas costumam surgir primeiro no rosto, tronco e couro cabeludo e, depois, se espalham. Em alguns dias, elas começam a secar e cicatrizam.
Foto: Dan Race/Fotolia
Sarampo
É uma doença infecciosa grave, que pode ser fatal, causada por um vírus do gênero Morbilivirus, transmitida através de secreção oral ou nasal. É tão contagiosa que uma pessoa infectada pode transmitir a doença para 90% das pessoas próximas que não estejam imunes. Os principais sintomas são: manchas avermelhadas na pele, febre, tosse, mal-estar, conjuntivite, coriza, otite, pneumonia e encefalite.
Foto: picture-alliance/dpa/KEYSTONE/U. Flueeler
Hepatite B
Um dos cinco tipos de hepatite existentes no Brasil, a B é causado por um vírus. A falta de sintomas na fase inicial dificulta o diagnóstico. Muitas vezes, é detectada décadas após a infecção, por sintomas como tontura, enjoo, vômito, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados. Hepatite B não tem cura, mas o tratamento pode reduzir o risco de complicações, como cirrose e câncer hepático.
Foto: picture-alliance/dpa
Caxumba
É uma infecção viral aguda e contagiosa, que na maioria das vezes afeta as glândulas parótidas, que produzem a saliva, ou as submandibulares e sublinguais, próximas ao ouvido. É causada por um vírus e transmitida através de gotículas de saliva. O sintoma mais característico é o aumento das glândulas salivares. O agravamento da doença pode levar à surdez ou esterilidade.
Foto: Imago Images
Rubéola
É uma doença viral aguda, altamente contagiosa. A forma congênita, transmitida da mãe para o filho durante a gestação, é a mais grave porque pode provocar, por exemplo, surdez e problemas visuais no bebê. A transmissão acontece por meio de secreções expelidas ao tossir, respirar ou falar. Os principais sintomas são dor de cabeça e no corpo, ínguas, febre e manchas avermelhadas.
Foto: picture-alliance/dpa/J.P. Müller
Difteria
É uma doença transmissível causada pela bactéria Corynebacterium diphtheriae, que atinge as amígdalas, faringe, laringe, nariz e, ocasionalmente, outras partes do corpo, como pele e mucosas. A transmissão ocorre por meio da tosse, espirro ou por lesões na pele. Entre os principais sintomas estão: membrana grossa e acinzentada cobrindo as amígdalas, gânglios inchados e dificuldade para respirar.
Foto: picture-alliance/OKAPIA KG/G. Gaugler
Tétano
Ao contrário da maioria das doenças evitadas com vacina, o tétano não é contagioso. É causado por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium tetani, que, sob a forma de esporos, é encontrada em fezes, na terra, em plantas e em objetos e pode contaminar pessoas por meio de lesões na pele, como feridas, cortes ou mordidas de animais. Um dos sintomas é a rigidez muscular em todo o corpo.
Foto: Imago Images
Tuberculose
É uma doença infecciosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis, também chamado bacilo de Koch. Afeta principalmente os pulmões, mas pode acometer outros órgãos e sistemas. Tem como principais sintomas tosse por mais de duas semanas, produção de catarro, febre, sudorese, cansaço e dor no peito. A transmissão ocorre pela respiração, por espirros e pela tosse.
Foto: picture-alliance/BSIP/NIAID
Febre Amarela
É uma doença infecciosa febril aguda, causada por um vírus transmitido por mosquitos vetores. Não há transmissão direta de pessoa para pessoa. Os principais sintomas são início súbito de febre, calafrios, dor de cabeça intensa, dores no corpo, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. No ciclo silvestre, os vetores são mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes e, no ciclo urbano, é o Aedes aegypti.
Foto: R. Richter
Coqueluche
É uma infecção respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis. Se não for tratada, pode levar à morte de bebês menores de seis meses. A transmissão ocorre, principalmente, pelo contato direto com gotículas eliminadas por tosse, espirro ou fala. No começo, os sintomas são parecidos com os de um resfriado, mas podem evoluir para tosse severa e descontrolada, comprometendo a respiração.
Foto: Imago Images/blickwinkel/McPhoto
Poliomielite
Também chamada de pólio ou paralisia infantil, é uma doença contagiosa aguda causada pelo poliovírus, que pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas doentes. Nos casos graves, acontecem paralisias musculares irreversíveis. Devido à intensa vacinação, com a famosa "gotinha", no Brasil não há circulação do vírus desde 1990.