Reino Unido se despede de vez da UE
1 de janeiro de 2021O início de 2021 marca a ruptura definitiva do Reino Unido com a União Europeia (UE), mais de quatro anos depois de os britânicos terem votado, em 23 de junho de 2016, a favor do processo de desligamento do bloco, batizado de Brexit.
O Reino Unido já havia deixado o chamado "clube dos 27", em referência aos países-membros da União Europeia, em 31 de janeiro de 2020, mas foi beneficiando com um período transitório para amortecer o choque.
No último dia do ano vencia o prazo para a saída britânica do mercado comum e da união aduaneira, finalizando o processo de transição depois de meio século de integração europeia.
A partir de agora, o Reino Unido, como afirma o governo, se torna um país com controle das águas, que tem liberdade para negociar acordos comerciais com nações de fora do bloco, que está sujeito unicamente às próprias leis e sob jurisdição de seus tribunais.
"É um momento inacreditável. Temos a nossa liberdade nas nossas mãos e cabe a nós aproveitá-la ao máximo", declarou o premiê Boris Johnson, no seu discurso de Ano Novo.
No plebiscito de 2016, 51,9% dos eleitores votaram a favor do Brexit, e 48,1% contra. O pleito teve uma participação de 72,2% daqueles que estavam aptos, índice muito mais alto do que o registrado nas eleições gerais, por exemplo.
Integração turbulenta
Desde 23 de junho, Reino Unido e União Europeia iniciaram um "amargo e sinuoso caminho", como descreveu a presidente da Comissão Europeia, Ursula van der Leyen, para estabelecer os termos da futura relação comercial e de cooperação entre as partes.
Essa rota foi concluída no último dia 24, com um amplo acordo de livre-comércio, que foi ratificado no Reino Unido.
O projeto de lei de emergência transpõe para a legislação britânica os compromissos assumidos com a UE sobre a relação entre as duas partes.
O acordo alcançado após nove meses de negociações garante que o Reino Unido pode comercializar e cooperar com os 27 países da UE, "nos mais próximos termos de amizade e boa vontade".
A virada do ano marcou uma ruptura sem precedentes no projeto europeu, iniciado após a Segunda Guerra Mundial. O Reino Unido deixou para trás, assim, uma relação ambivalente e conflituosa com a União Europeia.
O debate sobre as vantagens e desvantagens de estar na UE sempre esteve presente entre políticos britânicos de diferentes correntes, mas foi o Partido Conservador, de Boris Johnson, que teve mais problemas internos nas últimas décadas devido ao forte euroceticismo.
Paradoxalmente, foram os "tories" que incluíram o Reino Unido na então Comunidade Econômica Europeia (CEE), em 1973, durante o mandato do primeiro-ministro Edward Heath, que conseguiu a entrada no bloco após duas tentativas frustradas em 1963 e 1967, quando a França, do presidente Charles de Gaulle, apresentou veto.
A saída do bloco, no entanto, nunca foi tratada como surpresa, já que os britânicos sempre foram reticentes à uma maior integração europeia, sobretudo na política monetária. O país, por exemplo, conseguiu manter a libra esterlina, enquanto o restante da UE adotou o euro.
Para Boris Johnson, um dos líderes da campanha a favor do Brexit, no referendo de 2016, a saída do país da União Europeia não implica em um abandono total dos vínculos com o bloco continental.
"Culturalmente, emocionalmente, histórica, estratégica e geograficamente, este país permanecerá unido à Europa", disse o premiê, logo após a conclusão do acordo, no último dia 24.
rpr/efe/afp/ots