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Relação entre mãe e bebê na gestação evita complicações após o nascimento

Magali Moser21 de setembro de 2013

Especialistas de Brasília afirmam que a relação afetiva com o bebê que está para nascer é fundamental para a formação e o fortalecimento do vínculo materno.

Foto: picture-alliance/dpa

Estudos mostram que os primeiros seis anos são decisivos na vida da pessoa, especialmente devido ao desenvolvimento cerebral. A formação do bebê, no entanto, já começou antes do seu nascimento.

O médico pediatra Laurista Corrêa Filho teve a certeza da constatação após uma experiência no Centro Internacional da Infância, em Paris, em 1991. No retorno dele a Brasília, seis anos depois, foi um dos idealizadores de um grupo de estudos multidisciplinar sobre o tema. O trabalho cresceu a ponto de o grupo prestar consultoria para o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria, além de fazer palestras em vários estados brasileiros.

"Até então, o paradigma existente era a parte física, diagnóstico e tratamento. A parte de saúde mental ficava para trás", lembra o médico. A Associação Brasileira de Estudos para o Bebê foi fundada em Brasília em decorrência do movimento.

O médico afirma que uma gravidez não desejada pode gerar uma criança problemática. "A pior doença do futuro é a mental", adverte. Segundo ele, o reconhecimento de que todos os sentidos do bebê já funcionam mesmo antes do nascimento era até então apenas uma suposição, que foi comprovada cientificamente. A maneira como a mãe reage à gestação é fundamental para a formação da criança, garante o médico. Por isso, a comunicação com o bebê é muito importante.

O feto é capaz de captar as vibrações dos sons das palavras emitidas pela voz materna, com todas as emoções que as acompanham. Para os médicos, a relação de troca com o feto é fundamental para a formação e fortalecimento do vínculo materno. É uma forma de garantir a saúde e o bem-estar do bebê. Por isso é importante que as mães conheçam as formas de desenvolvimento dele do ponto de vista físico e mental.

"Se o bebê não for desejado pela mãe, como será essa criança? Será um sobrevivente e não um ser humano. Como ele vai se desenvolver?", questiona o médico.

Na saúde pública, o especialista acredita que a falta de conhecimento é um dos problemas mais graves em relação aos procedimentos com a mãe. Isso faz com que o bebê seja recebido por uma equipe despreparada. Falta acolhimento, na avaliação dele. A intenção com o grupo de estudos é modificar essas atitudes. Por isso, as ações se concentram em melhorar a formação dos profissionais.

Foto: imago/CHROMORANGE

A importância da comunicação na gravidez

Durante a gravidez já se estabelece um vínculo afetivo, diz Roselle Bugarin Steenhouwer, médica cirurgiã pediatra, coordenadora geral de Saúde da Asa Sul e diretora geral do Hospital Materno Infantil de Brasília. "O bebê reconhece a voz, até o cheiro do líquido amniótico onde está inserido", afirma.

Para a médica, o bebê é receptivo a tudo o que acontece no ambiente. Ele escuta e sente. Por isso não há nada que a mãe faça que não influa no desenvolvimento da criança ainda no útero. Os casos mais graves são os de bebês rejeitados.

"Ele não pode sentir que não é bem-vindo, que a mãe não o quer ou o rejeita. Caso contrário, esse bebê vai nascer triste. O amor é o segredo do sucesso de um desenvolvimento psicomotor e afetivo saudável", defende.

Ela explica que a mãe pode estar cheia de vontade de ter uma gravidez tranquila e ter problemas. Por isso o mais importante é o bebê sentir que é desejado, apesar das adversidades. "Ela deve parar em algum momento do dia e pensar nele, falar com ele, colocar uma música que ela goste para ouvir e relaxar", sugere.

Os hormônios que a mãe libera, sobretudo os neurotransmissores, passam para o bebê pelo cordão umbilical, explica o médico Raulê de Almeida, especialista em desenvolvimento infantil pela Universidade de Brasília (UNB).

"O bebê percebe o comportamento da mãe e associa com o tipo de hormônio. Se a mãe está muito intranquila, vai liberar catecolaminas, hormônios liberados em situações de estresse. Se a mãe está tranquila, serena, feliz, vai liberar endorfina, e vai transmitir ao bebê uma condição de bem-estar", avalia.

Almeida explica que uma mãe depressiva, triste, que não é capaz de se comunicar com o seu bebê, poderá ter surpresas negativas. A ausência dessa ponte com a criança vai dificultar a formação do vínculo. Consequentemente, o bebê terá uma formação comprometida, sem apego. Poderá desenvolver neuroses, psicoses e problemas na sua vida futura que o impedirão de ser feliz plenamente.

Entre as posturas recomendadas pelos médicos para melhorar a relação entre mãe e bebê estão conversar diariamente com a criança, ouvir música com ela, contar histórias para ela, evitar situações de estresse e de conflito durante a gravidez.

O Ministério da Saúde recomenda ainda que, para garantir uma gestação tranquila e a segurança do bebê, é fundamental que a gestante faça o acompanhamento pré-natal e adote um estilo de vida saudável, com alimentação balanceada e evitando o consumo de bebidas alcoólicas e cigarros.

Número de crianças prematuras é alto no país

Segundo um estudo do Unicef divulgado em agosto, a prevalência de crianças prematuras é de 11,7% em relação aos partos no país. O percentual coloca o Brasil no mesmo patamar de países de baixa renda, onde a prevalência é de 11,8%. Os pesquisadores investigaram os números da prematuridade no Brasil e também o baixo peso ao nascer.

Para Laurista Corrêa Filho, não se pode relacionar a falta de afeto entre mãe e filho durante a gravidez com o caso de prematuridade. Para ele, são vários fatores que contribuem para isso, especialmente gravidez na adolescência.