Relatório: 6 mil menores ucranianos enviados a campos russos
15 de fevereiro de 2023
Pesquisa indica que parte das crianças da Ucrânia levadas pelo governo russo recebe doutrinamento e treinamento militar, enquanto outras são colocadas para adoção. Especialistas apontam possível crime de guerra.
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A Rússia teria enviado ao menos 6 mil menores ucranianos, com idades que variam de quatro meses a 17 anos, para campos de reeducação política ou os teria inserido no sistema de adoção do país, segundo um relatório financiado pelo Departamento de Estado dos EUA divulgado nesta terça-feira (14/02).
Pesquisadores da Universidade de Yale identificaram ao menos 43 campos ou instalações na Crimeia ou na Rússia para onde foram levadas crianças ucranianas como parte de "uma rede ampla sistemática" operada por Moscou desde o início da invasão na Ucrânia, que completará um ano em 24 de fevereiro.
Entre as crianças, estão as consideradas órfãs pela Rússia, as que estavam em instituições ucranianas antes da invasão, algumas que possuem pais ou que estavam sob a tutela de algum parente e também menores cuja tutela é incerta devido à guerra.
O relatório indica ainda que pais ucranianos são pressionados a permitir o envio dos filhos aos campos com a promessa de retorno deles. No entanto, há relatos de famílias que perderam o contato com as crianças e de menores que permanecem nesses locais por um tempo muito maior do que o prometido por agentes russos.
A maior parte dos menores enviados para esses campos são das regiões de Donetsk e Lugansk, em particular de cidades evacuadas no leste ucraniano. A criança mais nova identificada nesse programa russo tinha apenas quatro meses. Alguns menores foram colocados no sistema de adoção da Rússia e em orfanatos do país.
"O objetivo principal dos campos que identificamos parece se reeducação política", afirmou Nathaniel Raymond, diretor-executivo do Laboratório de Pesquisa Humanitária da Escola de Saúde Pública da universidade americana, conhecido como Yale HRL, que elaborou o relatório.
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Formação militar e patriotismo cultural
Raymond chamou a atenção sobre o alcance geográfico "massivo" das atividades russas, já que os centros para onde crianças e adolescentes ucranianos são levados estão em várias partes do país, como na península da Crimeia, em Moscou, na região do Mar Negro e na Sibéria.
Inclusive, acrescentou o diretor do laboratório, há uma instalação desse tipo em Magadan, na costa russa do Pacífico, "mais perto dos EUA continental do que de Moscou".
Segundo o pesquisador, foi possível identificar cerca de 32 centros em que estão sendo feitos "esforços sistemáticos de reeducação" para dar às crianças formação militar, além do método de ensino acadêmico russo e de patriotismo cultural.
De acordo com a pesquisadora Caitlin Howarth, o treinamento militar consiste no manuseio de armas de fogo. "Temos imagens em vídeo e fotografias [dos menores] fazendo percursos com obstáculos, em treinos físicos, conduzindo viaturas e manuseando armas", disse.
No entanto, Raymond afirmou que não foram encontradas evidências de que essas crianças foram, posteriormente, enviadas para a guerra.
Crime de guerra
Raymond destacou que há "provas" de que a Rússia violou a Convenção de Genebra e "outros elementos" da lei internacional sobre os direitos dos menores de idade e a proteção deles em conflitos armados. O pesquisador disse ainda que transferir crianças com o propósito de mudar, alterar ou eliminar a identidade nacional pode ser uma evidência de que Moscou estaria cometendo o crime de genocídio na guerra.
Segundo ele, a Rússia adota um enfoque governamental para reeducar, reassentar e promover adoções forçadas de crianças ucranianas. "Isso é exatamente consistente com o que concluíram alguns dos primeiros julgamentos de nazistas nos tribunais de Nurembergue", afirmou.
O relatório aponta ainda que essa operação está aparentemente sendo controlada pelo governo federal da Rússia e há agentes em todos os níveis governamentais envolvidos nela, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin.
Rússia diz que crianças fugiram da Ucrânia
A Embaixada da Rússia em Washington afirmou que aceita crianças que foram forçadas a fugir da Ucrânia. "Fazemos o nosso melhor para manter menores em famílias e, em caso de ausência ou morte de pais e parentes, para transferir os órfãos sob tutela".
A embaixada acusou ainda a Ucrânia de estar atacando a infraestrutura civil das regiões ocupadas e negou atacar intencionalmente alvos civis no país invadido.
O relatório indica que 350 crianças ucranianas foram adotadas por famílias russas e mais de mil estariam na fila da adoção. O documento pede a suspensão de processos de adoção de crianças ucranianas na Rússia e o acesso de um grupo internacional independente aos campos para onde foram levados os menores.
cn/bl (Reuters, Efe, Lusa, AFP, ots)
Ataques da Rússia a alvos civis na Ucrânia
Vladimir Putin nega que o exército russo esteja atacando alvos civis na guerra na Ucrânia. Mas os fatos o contradizem, como mostra esta galeria de fotos, que nem de longe abrange todos os ataques russos.
Foto: Maksim Levin/REUTERS
Mais de 5.500 civis mortos
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou no fim de junho: "O exército russo não está atacando alvos civis". Observadores independentes discordam: de acordo com dados da ONU, mais de 5.500 civis morreram na Ucrânia desde o início da guerra e mais de 7.800 ficaram feridos como resultado de ataques russos. Na foto, um centro comercial destruído em Kremenchuk, 27/06/2022.
Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance
Chaplyne: 25 mortos em bombardeio
Uma enorme cratera em Chaplyne. A pequena cidade no leste da Ucrânia, com cerca de 3.800 habitantes, foi alvo de um ataque russo em 24 de agosto, como admitiu mais tarde o Ministério da Defesa em Moscou. O alvo foi um trem de transporte de armas, mas o ataque também atingiu civis. Segundo a companhia ferroviária ucraniana, 25 foram mortos, incluindo duas crianças.
Foto: Dmytro Smolienko/Ukrinform/IMAGO
Vinnytsia: 28 vítimas em ataque com foguete
Em 14 de julho, o exército russo atingiu com um míssil a Casa dos Oficiais de Vinnytsia, onde teria ocorrido "uma reunião da liderança militar das Forças Armadas ucranianas e fornecedores estrangeiros de armas". Entre os 28 mortos, estavam três crianças e três oficiais, além de mais de 100 feridos. Vinnytsia se localiza a sudoeste de Kiev.
Foto: State Emergency Service of Ukraine/REUTERS
Chasiv Yar: 48 mortos em bombardeio
Na noite de 9 de julho, a pequena cidade de Chasiv Yar, no leste da Ucrânia, foi bombardeada. Segundo a mídia, os lançadores de foguetes múltiplos Uragan foram disparados em áreas residenciais. Um edifício residencial de cinco andares foi duramente atingido, e 48 corpos foram resgatados de seus escombros.
Foto: Nariman El-Mofty/AP/dpa/picture alliance
Serhiyivka: 21 mortos em ataque com mísseis de cruzeiro
Um ataque a Serhiyivka em 1º de julho custou pelo menos 21 vidas. O porto perto de Odessa aparentemente foi atingido por mísseis de cruzeiro durante a noite, como a Anistia Internacional informou após investigações no local. Pelo menos 35 ficaram feridos nos ataques. Por ser um resort de saúde, Serhiyivka é particularmente popular entre os turistas russos.
Foto: Maxim Penko/AP/picture alliance
Kramatorsk: 61 mortos na estação de trem
Imagens terríveis de Kramatorsk deram a volta ao mundo em 8 de abril: vários mísseis submarinos russos 9K79-1 Tochka atingiram a estação ferroviária da cidade no leste da Ucrânia, enquanto passageiros esperavam pelo trem. 61 foram mortos, incluindo sete crianças. Cientistas de balística determinaram que os mísseis haviam sido disparados da área da Ucrânia controlada pelos russos.
Foto: Ukrainian President Volodymyr Zelenskyy's Telegram channel/dpa/picture alliance
Bucha: encontrados 1.316 corpos
Bucha tornou-se sinônimo das ações brutais do Exército russo: depois que as tropas inimigas partiram, em 30 de março, vários corpos jaziam na rua Jablunska. No total, foram encontrados 1.316 corpos em Bucha e arredores. Embora a Rússia tenha negado quaisquer massacres, verificadores de fatos internacionais e equipes de investigação confirmaram execuções de civis por soldados russos.
Foto: Zohra Bensemra/Reuters
Mykolaiv: 36 mortos em ataque à administração regional
Em 29 de março, um ataque aéreo atingiu o prédio da administração regional de Mykolaiv. A parte central do edifício foi completamente destruída, do primeiro ao nono andar, restando apenas um esqueleto do prédio. A explosão também danificou vários edifícios residenciais e administrativos próximos, causando a morte de 36 cidadãos.
Em 16 de março, uma bomba destruiu o teatro no centro de Mariupol. De acordo com a Human Rights Watch, mais de 500 civis estavam se abrigando dos ataques no prédio na época. A palavra "Crianças" escrita em enormes letras brancas na frente e atrás do prédio não serviu como escudo. Segundo a prefeitura, 300 morreram.
Foto: Pavel Klimov/REUTERS
Mariupol: quatro mortos em ataque a clínica
Um ataque aéreo russo em 9 de março destruiu o hospital infantil e a maternidade de Mariupol. Houve menos quatro mortes, incluindo uma grávida e seu bebê, 17 ficaram feridos. Enquanto o Ministério da Defesa russo falou de uma "provocação encenada", o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chamou o atentado de "crime de guerra".
Foto: Evgeniy Maloletka/AP/picture alliance
Charkiv: foguete mata 24 pessoas
Um vídeo de vigilância divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia mostrou um foguete atingindo o prédio da Administração Estatal Regional de Kharkiv em 1º de março, causando 24 mortes, inclusive de transeuntes.
Foto: Pavel Dorogoy/AP/picture alliance
Inquérito do Tribunal Penal Internacional
As autoridades ucranianas relatam mais de 29 mil crimes de guerra, do início do conflito, em 24 de fevereiro de 2022, até 26 de agosto. Investigações independentes prosseguem. O Tribunal Penal Internacional enviou equipes para coletar informações. De acordo com as Convenções de Genebra, ataques deliberados a civis são crimes de guerra. No entanto, a Rússia não reconhece a corte sediada em Haia.