Relatório aponta falhas do governo Netanyahu em Gaza
28 de fevereiro de 2017
De acordo com análise de órgão oficial, governo sabia de ameaça de túneis usados pelo Hamas no conflito de 2014 e mesmo assim seguiu adiante com ofensiva. Silêncio impediu preparação adequada das Forças Armadas.
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Um relatório do órgão oficial de fiscalização do governo de Israel acusou nesta terça-feira (28/02) o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e militares do alto escalão de terem falhado na preparação das Forças Armadas diante da ameaça dos túneis de guerra usados pelo Hamas durante o conflito na Faixa de Gaza em 2014.
De acordo com o relatório, os militares sabiam da existência de uma vasta rede de túneis usada pelo Hamas, mas não avaliaram adequadamente essa ameaça. Como resultado, forças de segurança não estavam preparadas para a situação e tiveram que improvisar ações sem o devido planejamento.
Já Netanyahu e o então ministro israelense de Defesa, Moshe Yaalon, são acusados de terem conhecimento da situação, classificada por ambos como "ameaça estratégica", e não informarem o resto do Gabinete de Segurança sobre os túneis. Esse silêncio impediu a preparação adequada para o combate nesses locais.
"Os responsáveis políticos e militares e os serviços de inteligência foram informados da ameaça que representavam estes túneis e chegaram a qualificá-los como 'estratégica'. Ainda assim, as ações tomadas perante esta ameaça não corresponderam a esta definição", afirmou o documento.
O conflito em 2014 começou em 12 de junho, após o sequestro de três adolescentes israelenses na Cisjordânia. Em retaliação, Israel prendeu centenas de integrantes do Hamas na região, o que levou o grupo radical islâmico a lançar mísseis de Gaza em direção a territórios israelenses. Após a localização do corpo dos jovens, o conflito se intensificou e culminou com a ofensiva de Israel em Gaza, em 7 de julho.
Ofensiva em Gaza
Destruir os túneis de guerra e impedir que os militantes palestinos lançassem mísseis contra Israel foram os principais objetivos declarados da ofensiva. Os túneis tiveram um papel fundamental na estratégia do Hamas. Alguns foram usados por combatentes, que conseguiram dessa forma entrar em Israel e realizar ataques mortais. Outros foram usados para surpreender as forças israelenses dentro de Gaza.
Embora Israel afirme que destruiu 32 túneis na operação, o relatório indicou que apenas a metade deles foi completamente destruído.
Num comunicado divulgado após a publicação do relatório, o primeiro-ministro defendeu a operação, classificada com um sucesso, e destacou o "silêncio sem precedentes" em Gaza desde o fim do conflito. Netanyahu disse que Israel está agindo com responsabilidade e tranquilamente para implementar as "lições significantes" da operação.
Já as Forças Armadas de Israel disseram que estão analisando o relatório e aplicando as lições aprendidas no conflito.
Durante os 50 dias de conflito, mais de 2,2 mil palestinos, a grande maioria civis, foram mortos, segundo as Nações Unidas. Do lado israelense, a guerra deixou 74 mortos, incluindo ao menos seis civis. Muitos soldados foram mortos por combatentes do Hamas que saíram de túneis.
CN/lusa/afp/ap
Os 50 dias de guerra em Gaza em 2014
Os momentos-chave do conflito entre Israel e Hamas, que deixou mais de 2 mil mortos.
Foto: Reuters
Governo de unidade palestino
Em 2 de junho, en Ramallah, na Cisjordânia, Hamas e Fatah oficializam um governo de unidade. Europeus e americanos manifestam apoio, porém com cautela. O governo israelense reage e suspende as negociações de paz mediadas pelos Estados Unidos, por considerar o Hamas uma organização terrorista.
Foto: Reuters
Sequestro de três estudantes
Em 12 de junho, três estudantes israelenses são sequestrados. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu culpa o Hamas pelo desaparecimento dos jovens. No final de junho, os corpos são encontrados. Em 23 de agosto, pouco antes do cessar-fogo duradouro, o Hamas assumiria envolvimento no assassinato dos três.
Foto: Menahem Kahana/AFP/Getty Images
Assassinato de jovem palestino
Em 2 de julho, o corpo de um adolescente palestino, de 16 anos, é encontrado numa floresta perto de Jerusalém. A família acusa colonos israelenses do assassinato. Na parte árabe de Jerusalém, há confrontos com a polícia israelense. Após seguidos lançamentos de foguetes a partir da Faixa de Gaza, o Exército israelense move tropas adicionais à divisa com o território palestino.
Foto: Getty Images
Começa a guerra
Em 8 de julho, o conflito entre israelenses e palestinos torna-se novamente uma guerra. Em poucas horas, dezenas de foguetes são lançados da Faixa de Gaza contra Israel. Não há feridos, já que grande parte dos mísseis são destruídos no ar. Nos ataques aéreos israelenses, mais de 20 pessoas são mortas.
Foto: Reuters
Iniciam-se as negociações
Após uma semana de conflito, em 14 de julho surge a primeira esperança de um cessar-fogo. O Egito intervém como mediador. Israel concorda com uma trégua prevista para o dia seguinte. O Hamas rejeita a proposta egípcia. "Um armistício sem um acordo com Israel está fora de questão", disse o porta-voz do grupo. A guerra, então, já tinha 180 mortos.
Foto: Reuters
A primeira trégua
Em 17 de julho, pela primeira vez desde o início dos combates, Israel e Hamas concordam com um cessar-fogo de cinco horas. Após o período, Israel começa uma ofensiva terrestre. Netanyahu detalha os objetivos da operação: a infraestrutura do Hamas deve ser destruída, especialmente os chamados "túneis do terror".
Foto: DAVID BUIMOVITCH/AFP/Getty Images
Protestos pelo mundo
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apela por uma suspensão dos ataques. Um dia depois, em 20 de julho, ele viaja com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, ao Cairo para discutir uma trégua. Em Gaza, milhares de pessoas fogem de suas casas e procuram abrigo. Em alguns países, há protestos contra a ofensiva de Israel. Em Paris, há manifestações e ataques contra instituições judaicas.
Foto: Reuters
Ataque a escola da ONU
Em 24 de julho, 15 pessoas morrem e mais de 200 ficam feridas em um ataque israelense a uma escola das Nações Unidas. O Exército de Israel argumenta que havia avisado sobre a investida antes de ela ocorrer. A agência de refugiados da ONU informa que a evacuação da escola não era possível. Mais de 570 palestinos e 25 soldados israelenses são as vítimas da guerra até então.
Foto: Reuters
Novo cessar-fogo
Em 26 de julho, começa um cessar-fogo de 12 horas. Em Paris, ministros do Exterior se encontram para discutir uma trégua permanente. Muitos palestinos usam a suspensão dos ataques para comprar medicamentos e alimentos. Os serviços de emergência retiram mais de 130 corpos dos escombros. Israel anuncia o prolongamento do cessar-fogo por algumas horas, mas o Hamas dispara foguetes novamente.
Foto: imago
Tréguas violadas
Uma nova trégua é violada, em 1º de agosto. Nos dias seguintes, o caso se repete. No início de agosto, Israel dispara novamente contra uma escola da ONU e, em seguida, retira as tropas terrestres da Faixa de Gaza. No Cairo, as partes envolvidas no conflito negociam um cessar-fogo duradouro.
Foto: picture-alliance/dpa
Chance à paz
A mais longa trégua desde o início da guerra possibilita, a partir de 10 de agosto, negociações. O cessar-fogo que era para durar três dias se estende por nove. O mediador, Egito, evita a longa lista de exigências dos dois lados. Um pequeno texto seria promissor para um possível acordo. A abertura das fronteiras de Gaza e a expansão gradual da zona de pesca são discutidas.
Foto: picture-alliance/AP
Mortes passam de 2 mil
Um armistício permanente é quase alcançado em 19 de agosto. Mas foguetes são novamente lançados. Israel responde e mata, entre outros, a mulher e filho de um chefe militar do Hamas nos ataques. Dois mil palestinos foram mortos e mais de 10 mil ficaram feridos na guerra. O lado israelense contabiliza as mortes de 64 soldados e três civis. Uma criança israelense morre por um foguete lançado de Gaza.
Foto: Menahem Kahana/AFP/Getty Images
Cessar-fogo permanente
Depois de 50 dias de guerra, em 26 de agosto o Egito consegue fazer as duas partes chegarem, enfim, a um cessar-fogo permanente. O acordo entre os palestinos e Israel garante que as fronteiras de Gaza serão reabertas. As negociações para tratar de mais detalhes do acordo continuam em quatro semanas.