Relatório da ONU prevê recorde de temperatura anual até 2025
27 de maio de 2021
Documento também projeta aumento do número de ciclones tropicais no Atlântico e clima mais seco na região sudoeste da América do Norte.
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Há 90% de chances de que pelo menos um ano de 2021 até 2025 será o mais quente de todos os já registrados, e 40% de chances de quea temperatura média nesse período exceda os níveis pré-industriais em 1,5ºC, limite recomendado pelo Acordo de Paris para evitar efeitos mais catastróficos das mudanças climáticas.
As previsões estão em um relatório divulgado nesta quarta-feira (26/05) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), vinculada à ONU, preparado com dados do Escritório Meteorológico do Reino Unido. O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, afirmou que "estamos chegando mais perto [do limite] de forma mensurável e inexorável".
O Acordo de Paris estabeleceu o objetivo de manter o aumento da temperatura global neste século "bem abaixo" de 2ºC, embora exija esforços contínuos dos países para manter o aquecimento global abaixo de 1,5ºC. O texto considera a temperatura média em um período de 30 anos, e não a de um ano específico.
Em 2020, as temperaturas globais aumentaram 1,2ºC acima dos níveis pré-industriais, um valor muito semelhante ao de 2016, até agora o ano mais quente de todos os registrados. Segundo o documento, todos os anos de 2021 a 2025 provavelmente serão pelo menos 1 grau mais quente do que a era pré-industrial.
Ciclones mais frequentes
O relatório considera altamente provável que as temperaturas aumentem em todas as regiões, exceto em partes dos mares do sul e do Atlântico Norte.
A entidade também prevê o aumento da precipitação em altas latitudes, na transição entre o deserto do Saara e a savana africana e na Austrália, enquanto a região sudoeste da América do Norte deve ficar mais seca.
O documento projeta ainda um aumento do número de ciclones tropicais no Atlântico, após um 2020 que já registrou uma incidência sem precedentes de ciclones tropicais, com 30 tempestades desse tipo na região.
"Há sempre algumas oscilações para cima e para baixo nas temperaturas anuais, mas essas trajetórias de longo prazo são persistentes", disse Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard para Estudos Espaciais, da NASA.
"Parece inevitável que cruzaremos esses limites, pois há atrasos no sistema, há inércia no sistema, e nós ainda não fizemos um corte significativo das emissões globais", afirmou.
bl (Reuters, EFE)
Mudanças climáticas reduzem populações de pinguins
Fevereiro foi mês mais quente já registrado na Antártida. Alterações do clima afetam seriamente a região remota, e a população de pinguins de Chinstrap caiu para menos da metade, como cientistas constataram recentemente.
Foto: Reuters/U. Marcelino
Em missão antártica
Uma equipe de cientistas de duas universidades americanas partiu para uma expedição antártica no início de 2020. Por várias semanas eles estudaram o impacto das mudanças climáticas sobre a região remota. Mais especificamente, queriam avaliar quantos pinguins de Chinstrap restavam na Antártida Ocidental em comparação com a última contagem da população, na década de 1970.
Foto: Reuters/U. Marcelino
Manso e curioso
Os pinguins de Chinstrap habitam as ilhas e costas do Pacífico Sul e dos oceanos antárticos. Seu nome se deve à estreita listra preta na parte inferior da cabeça. Mesmo antes de os cientistas escutarem os estridentes sons dos pássaros, um cheiro cáustico de excrementos indica a proximidade de uma colônia. Os pinguins não aprenderam a temer os seres humanos, por isso ignoram seus visitantes.
Foto: Reuters/U. Marcelino
Resultados chocantes
Os cientistas usaram técnicas de contagem manual e por drones para contabilizar os pinguins de Chinstrap. Suas constatações revelaram que algumas colônias sofreram uma queda de mais de 70%. "Os declínios que vimos são definitivamente dramáticos", disse à agência de notícias Reuters Steve Forrest, biólogo da conservação que fez parte da expedição.
Foto: Reuters/U. Marcelino
Cadeia alimentar em declínio
Os pinguins de Chinstrap se alimentam de pequenos animais marinhos, como krill, camarões e lulas. Eles nadam até 80 quilômetros todos os dias à busca de alimentos. Suas penas bem compactas funcionam como um casaco impermeável e permitem nadar em águas geladas. Mas as mudanças climáticas estão diminuindo a abundância de krill, o que dificulta a sobrevivência das aves.
Foto: Reuters/U. Marcelino
Desafios de reprodução
Pinguins de Chinstrap preferem aninhar em lugares particularmente inacessíveis e remotos. Quando procriam, constroem ninhos circulares de pedras e põem dois ovos, que o macho e a fêmea se revezam para incubar, em turnos de cerca de seis dias. Como o aquecimento global está derretendo as camadas de gelo e reduzindo a abundância de alimentos, porém, a reprodução é menos bem-sucedida.
Foto: Reuters/U. Marcelino
Implicações mais abrangentes
Estima-se que haja 8 milhões de pinguins de Chinstrap em todo o mundo, razão pela qual eles não foram motivo de preocupação até agora. Mas nos últimos 50 anos sua população na Península Antártica foi reduzida a menos da metade. Eles não estão em perigo iminente de extinção, mas o declínio de suas populações é um forte alerta sobre as grandes mudanças ambientais em curso.