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Clima

24 de outubro de 2009

A poucas semanas da Cúpula de Copenhague, entidades ambientalistas divulgam pesquisa afirmando ser possível tornar a Alemanha um país climaticamente neutro, que emite 95% a menos de gases-estufa.

Para ambientalistas, só corte de 95% na emissão de CO2 pode salvar o climaFoto: AP

As negociações para um acordo sucessor ao Protocolo de Kyoto encontram-se na rodada final. O novo documento deverá ser aprovado em dezembro próximo em Copenhague por líderes de 192 países. A questão principal é: a comunidade internacional conseguirá fechar um documento que comprometa seus signatários a impedir um aquecimento global superior a dois graus centígrados em relação à época pré-industrial?

Especialistas em questões climáticas acreditam que essa meta só pode ser atingida através de uma redução de 95% da emissão de gases-estufa até o ano de 2050, algo que acham ser possível. A representação alemã da organização ambientalista WWF (World Wild Fund), o instituto de ecologia aplicada Öko-Institut e o instituto de pesquisa Prognos apresentaram em Berlim o estudo Modelo Alemanha – proteção climática até 2020, que enumera as medidas que o país deverá tomar para transformar essa utopia em realidade.

"Yes, we can!"

A mensagem do estudo, resumida na frase "yes, we can!", é uma tentativa de mostrar que o país pode reduzir suas emissões de dióxido de carbono em até 95% em relação às taxas registradas em 1990, sem haver perda da qualidade de vida, contanto que sejam tomadas determinadas medidas.

Em um relatório de 499 páginas, repleto de gráficos, tabelas e estudos de caso, os pesquisadores do Instituto Prognos e do Öko-Institut contabilizam o que empresários, sociedade e políticos terão que fazer para reduzir a emissão per capita de dióxido de carbono na Alemanha das atuais 11 toneladas para 0,3 tonelada até o ano até 2050.

Primeiramente, os especialistas calcularam quanto gás carbônico seria poupado, caso as medidas atuais de proteção climática, hoje em prática na Alemanha, se perpetuem no futuro. "Constatamos que ainda estamos muito longe do objetivo e que, dessa forma, só conseguiremos uma redução de 45% nas emissões de gases poluentes até 2050. Esse foi um resultado muito interessante, usado como ponto de partida para nosso documento", afirmou o pesquisador Almut Kirchner, do Instituto Prognos:

Para isso, a equipe de cientistas projetou um cenário englobando todas as esferas da vida na Alemanha. O ponto mais importante neste contexto é o momento em que se iniciou a redução do dióxido de carbono, diz o pesquisador Felix Matthes, do Öko-Institut. Pois a maior parte das emissões de gás carbônico é gerada por unidades e aparelhos de vida longa, como usinas energéticas, edifícios e infraestruturas de trânsito.

Energias renováveis, saída para a proteção climática?Foto: picture-alliance / ZB

"Essa redução de dióxido de carbono se torna impossível ou extremamante cara, caso não se tome o cuidado de ajustar essa redução de emissões a reformas de infraestrutura que já sejam necessárias de antemão. Ou seja, uma casa tem que ter seu sistema de vedação térmico melhorado quando tiver que que ser, de qualquer forma, reformada. A infraestrutura para o transporte ferroviário tem que ser ampliada com uma antecedência de 10 ou 20 anos. E usinas de energia têm que ser substituídas quando estiverem precisando de todo jeito de uma reforma", explica Matthes.

O especialista chama essa idéia de "lei oportuna". Ou seja, quem perder o momento certo para a redução de emissões também não conseguirá mudar o curso em 2045, a fim de atingir suas metas em 2050, já que muitas reduções de poluentes dependem de infraestruturas.

Período preparatório

"Só conseguiremos implementar completamente a eletromobilidade se tivermos redes de eletricidade inteligentes. Só conseguiremos aumentar a utilização da energia eólica quando as redes de alta tensão forem ampliadas. E só poderemos estocar dióxido de carbono sob o solo quando tivermos os gasodutos adequados .Essa infraestrutura exige um período de preparo de 15 ou 20 anos", afirma Matthes.

Ele vê na utilização consequente de energias renováveis o grande potencial de economia de emissões na Alemanha, seja, por exemplo, no setor de eletricidade, trânsito ou calefação de prédios. Além disso, Matthes acha indispensáveis medidas amplas de eficiência energética para equipamentos elétricos ou no isolamento térmico de construções. O estudo prevê um potencial de economia da ordem de 60%, caso tais medidas sejam implementadas de forma consequente.

"Mas são somente 60% ou dois terços do total do potencial para redução de emissões", ressalta o pesquisador. "Com relação ao terço restante, devemos nos preocupar com os processos industriais, agricultura, dejetos. E temos que garantir que as florestas mantenham sua função de redutores de emissões", acrescenta.

Menos gado

Sobretudo a agricultura é uma área muitas vezes esquecida, na qual percentuais de dióxido de carbono e outros poluentes poderiam ser economizados. Neste contexto, Matthes aponta também que os alemães comem carne demais, ou pelo menos mais do que seria aconselhável para a saúde

"O gado é uma fonte importante de metano, um gás de grande efeito poluente – 21 vezes mais potente que o gás carbônico. No futuro, teremos que reduzir de alguma forma o consumo de carne para níveis mais saudáveis", diz ele.

Neste sentido, o estudo conduzido pelos especialistas não deverá angariar muitos adeptos entre os açougueiros alemães. A pesquisa feita pelos ambientalistas, contudo, projeta certamente uma utopia que poderá se tornar realidade na busca de um país isento de emissões de poluentes. Para as próximas gerações de políticos, empresários e governantes, essas constatações poderão ser de grande valia.

Autor: Richard Fuchs (md)

Revisão: Soraia Vilela

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