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Renúncia de primeiro-ministro eleva crise política na Tunísia

20 de fevereiro de 2013

Político islamista reage à falta de apoio à sua proposta de formação de um governo de tecnocratas. Vácuo no poder aumenta temores de instabilidade, agravada após assassinato de político da oposição.

Tunesien Premierminister Hamadi Jebali RücktrittFoto: Reuters

Com a renúncia do primeiro-ministro da Tunísia, Hamadi Jebali, cresce no país o temor das consequências de uma grave crise política. Nesta quarta-feira (20/02), o presidente Moncef Marzouki se reúne com Rachid Gannouchi, líder do maior partido da coalizão de governo, o islamista Ennahda, que possivelmente será encarregado de formar uma nova coalizão governamental. O presidente também terá encontros com outros líderes partidários.

Considerado um político moderado, Jebali entregou o cargo na noite desta terça-feira, depois de um encontro com Marzouki. A medida foi uma reação à rejeição da sua proposta de formar um governo composto por tecnocratas apartidários. Jebali não tinha mais apoio mesmo em seu próprio partido.

Esse passo já era esperado há dias. "Prometi que caso minha iniciativa fracassasse, eu renunciaria como chefe de governo. Foi o que eu fiz, após me encontrar com o presidente Marzouki", declarou.

Há meses que o político, de 63 anos, vinha tentando salvar sua coalizão entre islamistas, centristas e social-democratas. Após o assassinato do político de oposição Chokri Belaid, há duas semanas, Jebali ameaçou renunciar. Foi o seu próprio partido que mais fez oposição à ideia de um gabinete de tecnocratas.

Islamitas rejeitam governo de tecnocratas

O islamista Ennahda não conseguiu chegar a uma conclusão se, até a próxima eleição, deveria ou não ser formado um gabinete de transição. Jebali fazia pressão, pois o atentado contra Belaid, em 6 de fevereiro, abalou a Tunísia como poucos acontecimentos desde o início da revolução, há dois anos.

Líder do partido Ennahda, Rached GhannouchiFoto: Reuters

Protestos, tumultos, greve geral. A situação se tornou grave. "Convido os membros da Assembleia Constituinte, os membros do Parlamento e o presidente da Assembleia para que elaborem, junto com os partidos políticos, um calendário claro, para que eleições sejam realizadas o quanto antes", afirmou o premiê na época, acrescentando que quanto mais rápido estas fossem organizadas, mais cedo o país conseguiria sair de sua grave situação econômica, social e de segurança.

Aplicação da lei islâmica divide

Mas o primeiro-ministro não foi ouvido. Antes das eleições deve haver uma nova Constituição, mas nem o próprio governo conseguiu chegar a um acordo quanto ao assunto. Especialmente a questão sobre uma possível criação de um conselho de fatwa, um alto conselho islâmico como autoridade suprema, leva ainda mais controvérsia à já dividida sociedade da Tunísia.

A renúncia de Jebali, apesar de tardia, é coerente e infelizmente típica para as jovens democracias árabes. O islamista moderado passou 15 anos nas masmorras do ditador Zine el Abidine Ben Ali, chegando à liderança do governo em 2011, depois do despertar democrático no país. Mas ele não conseguiu se impor no cargo.

Medo de crise política

O político oposicionista Mehdi Ben Gharbia, da Aliança Democrática, expressou em entrevista à emissora de TV France 24 seu respeito à decisão de Jebali e à sua tentativa de formar um novo governo. "Nós apoiamos a sua iniciativa, porque você podia ver uma intenção sincera de dar um governo ao país, pois temos aqui, nos últimos dois meses, uma crise do governo, um governo que praticamente não funciona", declarou.

Agora existe um governo sem chefe, mas Jebali pediu aos seus ministros que intensifiquem os esforços para garantir que o Estado continue funcionando. Para a formação de um novo governo há regras claras, que a oposição reconhece, ressalta Gharbia. "Temos hoje uma pequena Constituição, segundo a qual o presidente deverá determinar que o maior partido, que é o Ennahda, forme um novo governo. Acho que a bola está no campo do Ennahda."

Ao se despedir, Jebali disse que seu fracasso não significa o fracasso da revolução tunisiana. Agora, seu partido deve ter que entrar num acordo sobre um sucessor, esperado ansiosamente também pela oposição.

Autor: Stefan Ehlert (md)
Revisão: Alexandre Schossler

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