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Queda de renda no campo

Geraldo Hoffmann18 de fevereiro de 2007

Relatório aponta queda de renda e crescente concentração da propriedade na agricultura alemã. Ministro diz que só fazendas com mais de 75 hectares são rentáveis.

Imagem idílica do campo enganaFoto: transit-Archiv

A literatura e arte alemãs costumam transmitir uma imagem idílica da vida no campo que há muito não corresponde mais à realidade. As profundas transformações sofridas pelo setor agropecuário nas últimas décadas ficam evidentes no Relatório Agrícola 2007, que acaba de ser publicado pelo governo alemão.

A maioria dos poucos agricultores que ainda existem no país é formada por empresários, executivos e especialistas do agronegócio. Muitos deles conhecem melhor a internet do que o arado e a lavoura. E passam boa parte do tempo ocupados com a burocracia alemã e européia.

Só os grandes sobrevivem

A Alemanha é o terceiro maior produtor agrícola da União Européia, depois da Itália e da França. Na safra 2005/2006, o país tinha 353 mil empreendimentos agrícolas com dois ou mais hectares de área útil, 3,5% a menos do que no ano anterior (366 mil).

Estados do Leste alemão têm as maiores propriedades agrícolas

Em 1949, ainda eram 1,6 milhão de empreendimentos, que empregavam 4,8 milhões de trabalhadores. Hoje cerca de 1,2 milhão de pessoas trabalham no campo (850 mil como empregados).

A tendência apontada pelo relatório do governo é que este número continuará caindo. Primeiro, porque a renda média bruta mensal de um trabalhador rural é de apenas 1900 euros, o que não é muito na Alemanha. Segundo, porque há cada vez mais fazendeiros que não encontram sucessores na família.

Segundo o ministro da Agricultura, Horst Seehofer, somente propriedades com mais de 75 hectares de área útil são rentáveis. "Mas ainda há muitas fazendas que trabalham com menos de 50 hectares", diz.

Queda de lucros

Os lucros do setor caíram, em média, 1,4% na safra passada para um nível de 36 mil euros por empreendimento. Essa queda foi mais drástica no Leste alemão (-22,3%), devido a prejuízos na safra de cereais e de beterraba sacarina, bem como cortes nos subsídios da União Européia.

Enquanto o lucro dos que trabalham na lavoura caiu 16,7% e o dos avicultores e suinocultores 12,5%, em outros ramos houve um aumento dos lucros: criadores de gado leiteiro (+11,1%), floricultores (+17,7%) e fruticultores (+44,6%).

Em média, os agricultores orgânicos tiveram um lucro 31% superior ao dos convencionais. Devido ao boom das exportações alemãs, ao aumento da produtividade e à forte demanda de orgânicos, Seehofer diz que "a situação no campo como um todo é positiva".

Também o presidente da Federação dos Agricultores, Gerd Sonnleitner, acredita numa melhora após anos de estagnação. "Hoje é impossível garantir uma remuneração justa dos fatores trabalho, solo e capital na maioria das empresas agrícolas", reclama.

O processo de concentração e mecanização no campo fez com que hoje, estatisticamente, um único agricultor alimente 143 alemães – em 1949, essa relação era de um agricultor para 10 consumidores.

Queda drástica do número de empresas e trabalhadores no campo

A estrutura fundiária mostra uma Alemanha dividida: as maiores fazendas (veja número entre parênteses no gráfico acima) encontram-se no Leste, são as sucessoras das cooperativas de produção agrícola (LPG) da ex-Alemanha Oriental. Sobretudo nesta região situam-se os 8% dos empreendimentos de detêm metade da área cultivável do país.

Dependência de subsídios

Uma das críticas mais freqüentes aos agricultores europeus e, por tabela, aos alemães é que eles só sobrevivem graças aos subsídios da UE. "Mas a política agrícola européia mudou muito nos últimos anos. Os subsídios são apenas uma compensação para os custos causados pelos elevados padrões de proteção aos animais e ao meio ambiente da UE", diz Sonnleitner.

Ele até admite que, "sem a política da UE, nossa agricultura não existiria mais. Mas sem a agricultura também não existiria a UE. O orçamento agrícola tem se transformado num importante elo de união dos países europeus. Afinal, uma das máximas na criação do bloco em 1957 era 'fome nunca mais'", diz.

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