Controle do maior e mais letal surto na história do país africano é dificultado pela recusa de algumas comunidades de receber tratamento e devido à insegurança na região atingida, onde operam grupos armados.
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O surto de ebola em duas províncias no nordeste da República Democrática do Congo (RDC) já causou 970 mortes em aproximadamente 1.500 infecções registradas, segundo os dados divulgados na quarta-feira (1º/05) pelo Ministério da Saúde do país africano.
O número de mortos pelo vírus ebola – que afeta desde o 1º de agosto de 2018 as províncias de Kivu do Norte e Ituri – passou de 630 para 970 pessoas em pouco menos de um mês: um aumento de mais de 50%.
Os casos de ebola e de mortes em comunidades, ou seja, que ocorreram fora de um centro de tratamento, dispararam – somente na semana passada foram registrados 126 casos. O ápice foi registrado no domingo, com 27 casos registrados apenas naquele dia.
O controle desse surto, o maior e mais letal na história da República Democrática do Congo, tem sido dificultado pela recusa de algumas comunidades em receber tratamento e devido à insegurança na região atingida, onde operam numerosos grupos armados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e organizações como a Médicos Sem Fronteiras (MSF) foram forçadas a paralisar algumas de suas atividades em áreas como Butembo – um dos principais pontos ativos do vírus – devido a ataques a seus centros.
No mais grave desses ataques morreu o epidemiologista congolês Richard Mouzoko, que havia sido enviado pela OMS para Butembo para ajudar nos esforços para controlar a atual epidemia de ebola.
O diretor-geral da OMS, o etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou estar profundamente preocupado depois de uma visita à cidade afetada de Butembo e prestou sua consternação pela morte do médico congolês.
Desde agosto de 2018, quando foram iniciados os procedimentos de vacinação, mais de 105 mil pessoas foram inoculadas, principalmente nas cidades de Katwa, Beni, Butembo, Mabalako e Mandima, segundo o Ministério da Saúde da República Democrática do Congo.
O governo congolês também divulgou os resultados de investigações realizadas nos últimos anos que revelam que dois em cada dez sobreviventes do ebola desenvolvem problemas oculares de diversos tipos, desde inflamação dos olhos até perda total da visão.
Esses problemas ocorrem devido aos efeitos colaterais do tratamento experimental, que não tem a aprovação oficial das autoridades de saúde, mas que tem tido bons resultados nos últimos surtos. O governo congolês, em conjunto com a OMS, instalou centros oftalmológicos nas cidades de Beni e Butembo para fazer exames médicos em sobreviventes.
A República Democrática do Congo foi atingida nove vezes pelo vírus ebola – a primeira manifestação do vírus no país foi em 1976.
No entanto, trata-se da primeira vez que um surto de ebola ocorre numa zona de conflito. A presença de grupos armados leva ao deslocamento contínuo de centenas de milhares de pessoas que podem ter tido contato com o vírus e dificulta o trabalho de organizações de socorro.
O atual surto na República Democrática do Congo somente é excedido em magnitude pela epidemia declarada em março de 2014, com casos que datavam de dezembro de 2013 na Guiné, antes de se estender a Serra Leoa e Libéria.
Em janeiro de 2016, a OMS declarou o fim daquela epidemia, com o balanço de 11.300 mortes e mais de 28.500 pessoas infectadas – mas a própria agência admitiu que esses números podem ser conservadores.
O vírus ebola é transmitido por meio do contato direito com sangue ou fluidos corporais contaminados, causa febre hemorrágica e pode atingir uma taxa de mortalidade de 90% caso não seja tratado a tempo.
PV/lusa/efe/dpa/apd
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Apesar das medidas preventivas, algumas pessoas já se contaminaram com o vírus na Europa e Estados Unidos. Cuidadores utilizam trajes para prevenir a propagação, mas na África a proteção ainda deixa a desejar.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Woitas
Traje de proteção
Na luta contra o ebola, roupas de proteção adequadas para médicos e enfermeiros são essenciais. Toda a pele deve ser coberta com material impenetrável pelo vírus. Mas trajes apenas não bastam, também é necessário seguir corretamente as prescrições de segurança.
Trabalho em conjunto
Os profissionais de saúde devem treinar a colocação correta dos trajes protetores. Como aqui, na unidade especial de isolamento de Düsseldorf. Novos trajes são utilizados a cada vez, para que não haja risco de contaminação no processo. Dessa forma, cuidadores sem proteção também podem ajudar os colegas a se vestir.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Isolamento total
Os quartos dos pacientes na unidade de isolamento em Düsseldorf são completamente protegidos do mundo exterior. O ar é filtrado e as águas residuais são tratadas separadamente. As vestes de proteção, que os cuidadores trajam permanentemente, são pressurizadas. Essas medidas de segurança vão além do necessário: o ebola pode ser transmitido por objetos contaminados, mas não pelo ar.
Após o tratamento dos pacientes, todo o traje é aspergido por fora com desinfetante, a fim de eliminar potenciais contaminações viróticas. Somente após essa ducha as vestimentas podem ser removidas, cuidadosamente.
Foto: picture-alliance/dpa/Sebastian Kahnert
Ajuda externa
Durante a remoção dos trajes protetores, os profissionais de saúde devem ser extremamente cautelosos. Luvas de proteção permanentemente instaladas nas aberturas da câmara permitem ajuda externa sem contato direto com o traje. Após o uso, estes são imediatamente descartados e incinerados.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Enfermeiras contaminadas
Apesar dos altos padrões de segurança, , na Espanha e Estados Unidos três enfermeiras contraíram a doença. As circunstâncias da contaminação ainda não foram esclarecidas. As residências das profissionais (na foto, Texas) foram isoladas e desinfetadas após a descoberta do contágio.
Foto: Reuters/City of Dallas
Proteção na África
Agora, médicos e enfermeiros da África Ocidental também foram equipados com trajes protetores. No entanto, estes nem sempre obedecem as normas para uma proteção efetiva. Por vezes, pequenas áreas da pele ficam descobertas ou o material usado é permeável. Além disso, colocar e retirar o traje pode ser arriscado.
Foto: picture alliance/AP Photo
Isolando os mortos
Os funerais das vítimas do ebola também requerem cuidados extremos. Na África Ocidental, a tradição de os familiares de lavarem os corpos dos mortos resultou em numerosas novas infecções. Para família e amigos, costuma ser difícil compreender e acatar as rigorosas medidas de isolamento.
Foto: Reuters/James Giahyue
Isolamento em barracas
Numa região onde os cuidados médicos são extremamente precários, uma epidemia das atuais proporções representa um enorme desafio. Os infectados são tratados em barracas improvisadas, como se vê na foto feita na Libéria. No entanto, até mesmo um país como a Alemanha ficaria sobrecarregado nessas circunstâncias. No momento, há apenas 50 leitos nas unidades de isolamento alemãs.
Foto: Zoom Dosso/AFP/Getty Images
Incineração em vez de sol
Em algumas regiões afetadas na África Ocidental, os trajes contaminados são pendurados para secar ao sol, numa tentativa de desinfetá-los para reutilização. No entanto, é muito mais seguro as roupas serem imediatamente incineradas após o uso, como ocorre na Guiné. Escassez e altos custos dos trajes dificultam essa medida: as roupas de proteção custam entre 30 e 200 euros.
Foto: Cellou Binania/AFP/Getty Images
Controles nos aeroportos
As viagens aéreas são a maior ameaça na transmissão de longa distância do vírus. Por esse motivo, a temperatura dos passageiros está sendo monitorada em alguns aeroportos. Entretanto, o método não oferece garantia absoluta, já que o período de incubação do ebola é de 21 dias.