Envelhecer sozinho ou em asilo está fora de questão para muitos aposentados alemães. Por isso, muitos acima dos 65 anos escolhem viver em moradias compartilhadas com outros idosos ou até com estudantes.
Anúncio
É hora de encolher o passado, empacotar as lembranças e se mudar da antiga casa onde cresceram os filhos. Mas muitos não querem que o asilo seja a última parada. Cada vez mais idosos que vivem na Alemanha decidem curtir a velhice em comunidade, permanecendo ativos e independentes. Com 17 milhões de pessoas com 65 anos de idade ou mais, que representam pouco mais de 20% da população, o país vive um boom de repúblicas para idosos.
Os moradores ajudam uns aos outros e, às vezes, cozinham juntos. Cada um acomoda a longa vida em poucos metros quadrados, num quarto com banheiro, e compartilha a cozinha e outros espaços da casa. As repúblicas costumar ter boa localização, perto de padarias e supermercados, para facilitar a locomoção dos moradores.
Cada um organiza o que irá fazer no tempo livre: dormir, andar de bicicleta, ir ao cinema ou tomar um café com um colega de WG (abreviação para "república", em alemão) num local próximo.
Além do aluguel, os moradores costumam pagar uma taxa adicional para que uma pessoa contratada auxilie na limpeza e na preparação da comida. Ainda assim, tudo fica mais barato do que num asilo, que sempre implica altos custos. Na internet, há sites especializados de busca de WGs para pessoas com idade a partir dos 50 anos.
Outros modelos de compartilhamento de moradia funcionam como alternativa ao Altersheim (asilo). Muitos idosos que querem uma companhia alugam quartos em suas próprias casas a estudantes por preços abaixo do mercado. Em troca, esperam ter ajuda com as compras, a preparação das refeições e o trabalho doméstico. Há projetos em várias cidades alemãs para conectar jovens e idosos para que compartilhem a vida.
Esse princípio é semelhante às "casas multigeracionais” (Mehrgenerationenhaus, em alemão), onde aposentados convivem com famílias jovens e com crianças pequenas que dependem de moradia social. O aluguel dos quartos é bem mais barato. O princípio é viver em comunidade, fazendo as refeições juntos e compartilhando momentos de conversas e distração. Atividades em comum são frequentes.
Outro modelo que ganha popularidade é o Seniorendorf, em que aposentados alugam uma casa em pequenas vilas construídas para casais e solteiros acima dos 65 anos. No condomínio, os moradores compartilham os anos de velhice juntos, com festas, hortas conjuntas e passeios coletivos. Muitas dessas vilas são construídas com financiamento coletivo, e o dinheiro doado pelos futuros moradores é descontado do valor do aluguel.
Com esses modelos alternativos, a solidão não tem vez, e a experiência de envelhecer ganha novos significados.
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos na área de sustentabilidade e é mestre em Direitos Humanos.
----------------
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App
Apelidos dados aos alemães em outros países
Etnofaulismo é a forma depreciativa de se tratar membros de um grupo étnico diferente. E isso aconteceu com os alemães, que ao longo de séculos, guerras e invasões, receberam as mais diversas alcunhas de seus vizinhos.
Foto: imago/bonn-sequenz
Krauts
Desde a Segunda Guerra Mundial, a palavra "Kraut" (erva, em alemão) é usada na língua inglesa para designar, pejorativamente, os alemães. Provavelmente, o apelido teve origem no "Sauerkraut" (chucrute), um prato bastante popular da cozinha alemã. O termo deu origem também a um gênero musical chamado "krautrock", que se refere à produção musical de bandas alemãs ocidentais nos anos 1960/70.
Foto: Colourbox
"Hun" (huno)
Muitos dos apelidos recebidos pelos alemães na Europa provêm da Primeira Guerra Mundial, como "Hun" (huno, em inglês). A origem do nome pejorativo é pouco anterior e vem de uma célebre fala que o imperador Guilherme 2° proferiu em 1900, na partida das tropas alemãs para combater a Revolta dos Boxers na China. No "Discurso dos Hunos", ele comparava seus astutos súditos àqueles soldados bárbaros.
Foto: DW/Wanner
Fritz
Tanto na Primeira quanto na Segunda Guerra Mundial, "Fritz" foi um apelido bastante difundido entre os soldados britânicos para denominar os inimigos germânicos. Em alemão "Fritz" é o diminutivo do nome próprio Friedrich. Outra alcunha também bastante popular entre os militares do Reino Unido era "Jerry", forma curta para se designar "German" (alemão, em inglês).
Foto: picture-alliance/akg-images
Heinie
Além de Fritz, Hans e Jerry, outros apelidos utilizados, principalmente por americanos e canadenses, para denominar pejorativamente os alemães na Segunda Guerra era "Heinie", que é a forma curta do nome Heinrich. Na Alemanha, "Heini" é um termo coloquial comum e com um significado ligeiramente pejorativo, usado quando se faz referência a alguém "tolo" ou "idiota".
Foto: olly - Fotolia
Piefke
Quando um austríaco quer menosprezar um alemão, ele o chama de "Piefke". Inicialmente, o termo fez referência somente aos prussianos. Provavelmente, a sua origem remonta ao compositor Johann Gottfried Piefke, que na segunda metade do século 19 compôs marchas militares como "Preussens Gloria" ("Glória da Prússia"). Hoje, o termo se aplica principalmente aos alemães do norte do país.
Foto: picture-alliance/M. C. Hurek
Marmeladinger
Este é outro termo pejorativo usado na Áustria para seus vizinhos. Sua origem remonta à Primeira Guerra Mundial. Enquanto os soldados austríacos usavam manteiga ou banha de porco para passar no seu pão, os germânicos empregavam geleia ("Marmelade", em alemão), que era um substituto mais barato. Os alemães ganharam então dos aliados o nome de "Marmeladinger" ou "Marmeladenbrüder" (irmãos-geleia).
Foto: picture-alliance/Arco Images/O. Diez
Moffen
"Mof", plural "moffen", é um etnofaulismo que os holandeses usam para zombar dos alemães. Na Alemanha do séc. 17, habitantes de regiões próximas à Holanda eram chamados de "Moffen". Olhando com desdém para seus vizinhos pobres, os ricos holandeses da época passaram a empregar o termo para todos os alemães. A palavra "Mof" também pode ter sua origem em "Muff" (mofo, em alemão).
Foto: picture-alliance/dpa/I. Wagner
Crucco
Esta palavra depreciativa é usada na Itália para definir os alemães. O termo foi cunhado para designar soldados austríacos de língua servo-croata capturados durante a Primeira Guerra e que, esfomeados, pediam sempre por "kruh" (pão). Mais tarde, a variante italianizada "crucco" passou a ser usada pelos combatentes da resistência italiana na Segunda Guerra para denominar tudo que era alemão.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Knecht
Gummihals
"Gummihals" ou "pescoço de borracha" é um etnofaulismo usado para designar os alemães na Suíça, a quem são atribuídos um caráter oportunista, pois acenariam o tempo todo com a cabeça em sinal de concordância com seus superiores. A origem da palavra, no entanto, é controversa. Mas é certo que com o aumento da emigração de alemães para o país alpino, desde 2000, o termo ganhou um novo impulso.
Foto: Colourbox
Ossi/Wessi
Apelidos existem até mesmo entre os próprios alemães: "Ossi", do alemão "Osten" (Leste), é uma palavra usada para designar pessoas que nasceram ou moram na região da antiga Alemanha Oriental. "Wessi", de "Westen" (Oeste), se refere às pessoas provenientes da ex-Alemanha Ocidental. Embora não seja um etnofaulismo, já que não se trata de etnias, o termo não deixa de ter um caráter depreciativo.