Representante dos EUA na coalizão contra o EI renuncia
22 de dezembro de 2018
Brett McGurk segue o secretário de Defesa e decide deixar o cargo após decisão de Trump de retirar as tropas americanas da Síria. Enviado especial desde 2015, ele defende que "Estado Islâmico" ainda não foi derrotado.
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O diplomata Brett McGurk, que representa os Estados Unidos na coalizão internacional em combate ao grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI), pediu demissão do cargo, segundo informou neste sábado (22/12) uma autoridade do Departamento de Estado americano.
A saída de McGurk, que será efetivada em 31 de dezembro, teria sido motivada pela decisão do presidente Donald Trump de retirar as tropas americanas da Síria, anunciada nesta semana. O argumento do republicano foi de que o EI já havia sido derrotado no país árabe.
O mesmo motivo teria contribuído com a renúncia do secretário de Defesa, Jim Mattis, no dia seguinte ao anúncio de Trump. Em sua carta de demissão, ele deixou claro que decidiu sair do governo por discordar das visões do presidente.
McGurk também se mostrou contrário à retirada dos 2 mil soldados americanos que atuam na Síria. Em 11 de dezembro ele afirmou ser "imprudente" considerar que o "Estado Islâmico" foi derrotado e, portanto, seria, segundo ele, insensato cancelar as operações militares no país. "Acho que qualquer um que tenha olhado para um conflito como esse concordaria com isso", disse.
O enviado especial, de 45 anos, foi nomeado para a função em 2015 pelo então presidente Barack Obama. Ao assumir a Casa Branca em 2017, Trump manteve-o no cargo. McGurk já havia anunciado que deixaria o posto em meados de fevereiro de 2019, mas acabou antecipando a saída.
Em sua carta de demissão, ele reitera que os jihadistas do EI ainda não foram vencidos, embora estejam enfraquecidos, e que a retirada prematura das forças americanas pode levar à recriação das condições que permitiram a ascensão do grupo terrorista.
McGurk também menciona na carta ganhos conquistados pela coalizão em acelerar a campanha contra o grupo extremista, mas afirma que o trabalho não foi concluído.
A carta, entregue na sexta-feira ao secretário de Estado, Mike Pompeo, foi descrita à agência de notícias Associated Press por uma autoridade que tem conhecimento de seu conteúdo, falando em condição de anonimato.
Logo após a notícia da demissão de McGurk, Trump voltou a defender sua decisão de retirar as tropas americanas da Síria em mensagens no Twitter. "Era para ficarmos lá por três meses, e isso foi há sete anos – nós nunca saímos", escreveu o republicano.
"Quando me tornei presidente, o EI era indomável. Agora está amplamente derrotado, e outros países da região, incluindo a Turquia, devem ser capazes de cuidar facilmente do que quer que tenha restado. Nós estamos voltando para casa!", concluiu.
A Casa Branca anunciou na quarta-feira que os Estados Unidos começaram a retirada de suas tropas da Síria, onde lutavam ao lado dos aliados da milícia curda Forças Democráticas da Síria (SDF), liderada pelas Unidades de Proteção Popular (YPG).
A decisão foi criticada por políticos americanos, autoridades militares, aliados estrangeiros e especialistas, que frisam que o grupo jihadista continua controlando uma série de aldeias ao longo do rio Eufrates, no leste da Síria, onde resistem há semanas a ataques sucessivos das SDF.
Segundo estimativas militares americanas, vivem na região cerca de 15 mil pessoas, entre elas aproximadamente 2 mil combatentes do EI. Outras fontes, como o Observatório Sírio de Direitos Humanos, estimam que o número de soldados jihadistas na Síria seja de até 8 mil.
O que se iniciou com protestos pacíficos em 2011 virou uma guerra civil brutal que já matou centenas de milhares de pessoas e fez milhões de refugiados. Reveja os principais acontecimentos.
Foto: Reuters/Stringer
2011: O início
Em 15 de março de 2011, protestos pacíficos contra a detenção de jovens acusados de fazer pichações antigoverno em sua escola, na cidade de Daraa, são reprimidos por forças de segurança, que abrem fogo contra manifestantes desarmados, matando quatro. Os protestos continuam por vários dias, fazendo 60 mortos e se espalham por todo o país. Segue-se um período de repressão violenta.
Foto: Anwar Amro/AFP/Getty Images
2011/2012: Isolamento internacional
O ex-presidente Barack Obama insta o presidente Bashar al-Assad a renunciar, e os EUA anunciam sanções a Assad em maio e congelam bens do governo sírio nos EUA em agosto de 2011. A União Europeia também anuncia sanções, em setembro. Em novembro, a Liga Árabe suspende a Síria e impõe sanções ao regime. Também a Turquia anuncia uma série de medidas, incluindo sanções, em dezembro.
Foto: AP
2012: Observadores internacionais desistem
Em dezembro de 2011, a Síria permite a entrada de observadores da Liga Árabe para monitorar a retirada de tropas e armas de áreas civis. A missão é suspensa em janeiro de 2012. Em fevereiro, os EUA fecham sua embaixada em Damasco. Em abril de 2012, chegam observadores da ONU, que partem dois meses depois por falta de segurança.
Foto: REUTERS
2013: Ataque com gás
Em março, um ataque com gás mata 26 pessoas, ao menos a metade deles soldados do governo, na cidade de Khan al-Assal. Investigação da ONU conclui que foi usado gás sarin. Em agosto, outro ataque com gás mata centenas em Ghouta Oriental, um subúrbio de Damasco controlado pelos rebeldes. A ONU afirma que mísseis com gás sarin foram lançados em áreas civis. Os EUA e outros países culpam regime sírio.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2013: Destruição de armas químicas
Em agosto, investigadores da ONU chegam à Síria para averiguar o uso de armas químicas, em meio a denúncias de médicos e ativistas. EUA afirmam que 1.429 pessoas morreram num ataque, e Obama pede ao Congresso autorização para ação militar. Em setembro, o Conselho de Segurança da ONU ameaça usar a força e, em outubro, Damasco inicia a destruição de seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: AFP/Getty Images
2014: EUA atacam "Estado Islâmico"
Em setembro, os EUA iniciam ataques aéreos a alvos do "Estado Islâmico" na Síria. Em outubro, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, começa a negociar uma trégua ao redor de Aleppo, mas o plano fracassa meses depois.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Ghirda
2015: Rússia entra no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao governo sírio nos bastidores, entra ativamente no conflito, bombardeando opositores do regime. A ajuda se mostra decisiva, e a guerra civil passa a pender para o lado de Assad, que nos meses seguintes recupera território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
A ONU e a Opac afirmam que tanto militares sírios quanto o "Estado Islâmico" usaram gás em ataques a opositores. O ano é marcado por várias tentativas de tréguas. Em setembro, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos por forças pró-Assad num fim de semana. Em dezembro, as forças governamentais assumem controle de Aleppo, encerrando quatro anos de domínio dos rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque em Idlib
Em fevereiro, Rússia e China vetam resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo sanções ao governo sírio pelo uso de armas químicas. Em abril, ao menos 58 pessoas morrem na província de Idlib, dominada pelos rebeldes, no que aparenta ser um ataque com gás. Testemunhas afirmam que o ataque foi executado por jatos sírios e russos, mas tanto Moscou quanto Damasco negam bombardeio.
Foto: Getty Images/AFP/O. H. Kadour
2017: Resposta dos EUA
Em abril, os EUA lançam dezenas de mísseis sobre a base militar de onde se acredita ter saído o ataque em Idlib. Em maio, o presidente Donald Trump aprova planos para armar combatentes das milícias curdas YPG na luta contra o "Estado Islâmico". A medida enfurece a Turquia, que vê as YPG como um grupo terrorista. Em outubro, o "Estado Islâmico" perde o controle de Raqqa, sua autoproclamada capital.
Em janeiro, aviões turcos bombardeiam a região curda de Afrin, dando início à operação contra as YPG intitulada "Ramo de Oliveira". A Turquia anuncia a morte de centenas de "terroristas", mas entre os mortos estão dezenas de civis, dizem ativistas. Em fevereiro, as milícias YPG chegam a acordo com o regime sírio para o envio de tropas pró-governo para auxiliar no combate aos turcos em Afrin.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Ofensiva em Ghouta Oriental
Em 21 de fevereiro, tropas pró-regime executam ofensiva em larga escala contra enclave rebelde localizado ao leste de Damasco. Em torno de 400 mil civis ficam sitiados, com acesso limitado a alimentos e cuidados médicos. Os ataques matam centenas de pessoas. No dia 24 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU aprova trégua humanitária de 30 dias vigente em todo o território sírio. Ela fracassa.
Foto: Reuters/B. Khabieh
2018: O bombardeio ocidental
Após dias de ameaça, em 14 de abril Trump anuncia o lançamento de mais de cem mísseis, em conjunto com França e Reino Unido, na Síria. O ataque é uma retaliação ao ataque químico na cidade de Duma, que matou dezenas de civis e que o Ocidente atribui ao regime de Bashar al-Assad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Matthews
2019: Estados Unidos começam a se retirar da Síria
Em janeiro de 2019, os Estados Unidos começaram a se retirar da Síria. O presidente americano afirmou que o Estado Islâmico havia sido derrotado e, por isso, a presença dos EUA não seria mais necessária. A decisão foi contestada dentro do próprio governo e também pelas milícias curdas na Síria, aliadas dos EUA, que temiam enfraquecer-se.
Foto: Getty Images/AFP/D. Souleiman
2019: fim do autoproclamado califado do EI
Em março de 2019, as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança liderada por curdos, anunciaram que o autoproclamado califado do Estado Islâmico foi totalmente eliminado, após combates em Baghouz, considerado o último reduto jihadista na Síria. Militantes curdos e árabes das FDS, apoiados pela coalizão internacional liderada pelos EUA, combatiam há várias semanas os jihadistas.