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Repressão e crise econômica causam evasão de cérebros no Irã

Shanli Anwar (sv)13 de junho de 2013

Iranianos no exílio descrevem a atmosfera em seu país, que vai às urnas para escolher um novo presidente: a difícil situação econômica gera um clima de resignação e leva à fuga de mão de obra qualificada.

Foto: picture-alliance/dpa

A especialista em islã Parisa Tonekaboni deixou o Irã há 15 anos para estudar na Alemanha, mas mantém contato com seus amigos de Teerã através de redes sociais.

Assim ela consegue acompanhar o cotidiano em seu país, que vai às urnas nesta sexta-feira (14/05) para escolher um novo presidente. E as notícias ficam mais preocupantes a cada dia que passa: "As consequências das sanções econômicas tornam-se cada vez mais visíveis e afetam, sobretudo, a população mais carente", descreve a especialista de 32 anos.

Tudo começa já com os preços dos alimentos, que segundo ela não para de subir. "O governo admite uma inflação de 30%, mas dados extraoficiais apontam para um índice de mais de 50%. Isso é inacreditável. Uma amiga pensou outro dia que um vendedor ambulante estava tentando enganá-la, quando este quis o equivalente a três euros por umas poucas frutas. O valor corresponde ao dobro do preço antigo no Irã. Aí é que eu me pergunto como as pessoas mais simples conseguem sobreviver", diz Tonekaboni.


Difícil conjuntura econômica

Preços subiram violentamenteFoto: Mehr

A especialista percebe que as sanções têm atingido cada vez mais a classe média iraniana. Isso se reflete tanto no âmbito do lazer quanto no do trabalho. Tradicionalmente os iranianos gostam de convidar amigos e familiares para refeições em casa: num país onde o espaço público é extremamente controlado, as festas particulares são uma possibilidade de comemorar em paz.

"Mas, diante dos altos preços dos alimentos, quase ninguém mais pode arcar com essas despesas. Meus amigos me contam que recebem cada vez menos convites", fala Tonekaboni. Pior ainda é o caso dos proprietários de fábricas – empresas de médio porte, que não conseguem pagar seus funcionários, devendo salários durante meses a fio. Segundo Tonekaboni, a atmosfera no país é desolada diante da situação econômica. Também porque as atuais eleições presidenciais possivelmente não trarão muitas mudanças, acredita.

Jornalistas acuados

"O governo conseguiu fazer com que os iranianos só consigam pensar em manter o emprego e se alimentar – quase ninguém reivindica também maior liberdade política", fala a jornalista Shabnam Azar, de 35 anos. Ela foi obrigada a deixar o país há quatro anos, após a controversa reeleição de Ahmadinejad. E esteve prestes a ser presa por causa de suas reportagens críticas.

Junto com o marido, ela fugiu para a Alemanha. Ele frequentou em Colônia uma escola de cinema e ela nutria esperanças de poder trabalhar como jornalista, embora não haja muitas mídias em persa, para as quais seja possível trabalhar fora do próprio Irã. No mais, é bastante difícil noticiar a respeito dos acontecimentos no Irã quando se está tão distante.

No entanto, Shabnam Azar não teve escolha. E ela sabe que teve sorte, comparada a outras pessoas. Muitos jornalistas e blogueiros foram detidos depois dos tumultos de 2009. "O trabalho dos que ainda estão em liberdade é altamente vigiado pelo Estado", explica Azar. Agora, perto da eleição, seus antigos colegas receberam cartas oficiais, nas quais foram intimidados a não noticiar nada sobre os candidatos dos reformistas.

2009: opositores do regime foram às ruasFoto: Sahar Jalili/AFP/Getty Images

Pressão antes do pleito

Há apenas um reformista entre os oito candidatos à presidência. Mesmo assim, o governo islâmico faz muita pressão. A razão disso é clara para Abbas Salimi: "Eles não querem ser surpreendidos mais uma vez por grandes protestos como há quatro anos", diz o especialista em TI, que deixou o Irã há quase 30 anos. E desta vez tumultos do gênero são realmente muito improváveis acredita Salimi.

"As pessoas viram que o regime não poupa esforços em atacar violentamente a própria população. Isso vai segurar muita gente, evitando que essas pessoas vão às ruas", estima o iraniano no exílio. Ele acredita que a única possibilidade para os iranianos é expressar sua indisposição boicotando as eleições.

Esse é um tema de debate também para Shabnam Azar em conversa com outros jornalistas amigos no Irã. "Acho que não deveriam somente convocar as pessoas a votarem. Uma participação muito baixa iria mostrar que a população iraniana não sustenta esse governo", completa Azar.

No entanto, a jornalista sabe que muitos iranianos irão, de medo, mesmo assim às urnas. "Desde a Revolução Islâmica de 1979, as eleições no Irã tem sido uma farsa", argumenta Abbas Salimi. As lideranças estatais querem forjar uma democracia ao apresentarem candidatos de diversos matizes, mas o povo já entendeu há muito o jogo. "Também não conheço nenhuma solução para o futuro do país. Só espero que, no conflito nuclear com o Ocidente, tudo não se transforme numa intervenção militar. E essa é grande preocupação que nós, iranianos no exílio, temos", completa Salimi.

Com curso superior completo, iraniano desempregado tenta sobreviver com banca nas ruas de TeerãFoto: FARS

Onda de emigração

"Até amigos que sempre disseram que queriam ficar no Irã, apesar de todas as dificuldades, estão agora procurando possibilidades de deixar o país", conta Tonekaboni. Não há mais, entre os políticos, em quem depositar esperanças. Mas mais do que o contexto político é a situação econômica que está levando muitos iranianos bem formados para a Europa, os Estados Unidos e a Austrália.

As ondas emigratórias do país já existem há mais de 30 anos, ou seja, desde que os mulás assumiram o poder, fala a jornalista Azar. Ela está intensamente envolvida com o assunto e trabalha no projeto de um filme sobre um escritor iraniano que morreu no exílio em Paris.

A história iraniana parece se repetir, resume Azar: "Há cada vez mais cabeças pensantes deixando o Irã. E não estão fazendo isso de livre e espontânea vontade. Não sei o que essa evasão de cérebros vai causar na sociedade. É triste, mas as pessoas querem viver em liberdade. E não há como levar isso a mal", conclui Azar. 

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