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Republicanos no caso Khashoggi: muita crítica, pouca ação

Michael Knigge ca
23 de novembro de 2018

Congressistas se mostram indignados com declaração de Trump sobre assassinato de jornalista saudita. Mas histórico mostra que, na prática, nada ocorre, e assunto acaba esquecido.

Mohammed bin Salman e Donald Trump
Príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, durante visita a Donald Trump em WashingtonFoto: picture-alliance/dpa/SPA

Como esperado, os senadores republicanos Jeff Flake e Bob Corker – os críticos usuais, que repetidamente atacaram o presidente Donald Trump e vêm discutindo com ele desde que assumiu o cargo, há quase dois anos – assumiram a liderança das vozes críticas no caso Khashoggi.

"'Grandes aliados' não planejam o assassinato de jornalistas, senhor presidente", escreveu Flake no Twitter. "'Grandes aliados' não atraem seus próprios cidadãos para uma armadilha e depois os matam", acrescentou.

Corker, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, não ficou para trás: ele também recorreu ao Twitter e declarou: "Eu nunca pensei em, um dia, ver a Casa Branca fazendo hora extra como assessora de relações públicas do príncipe herdeiro da Arábia Saudita".

Em tuítes adicionais, Corker escreveu que o presidente é obrigado por lei a relatar ao Comitê de Relações Exteriores do Senado se o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, é o responsável pelo assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi. Além disso, o senador prometeu que o Congresso usará todos os meios a sua disposição para abordar o problema.

Há, porém, um problema com os duros pronunciamentos de Corker. Restam ao senador apenas cerca de 30 dias como presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado antes de ele deixar o Congresso, já que optou por não buscar a reeleição diante da oposição de Trump à sua candidatura.

O mesmo vale para Flake, que também decidiu desistir em vez de tentar lutar contra Trump e manter seu assento no Senado. Durante grande parte de seus mandatos, Corker e Flake poucas vezes transformaram suas críticas a Trump em atos legislativos, o que levanta a questão de por que isso deveria seria diferente agora.

O que esvazia ainda mais o duro discurso de Flake e Corker, e também o de outros republicanos proeminentes, como os senadores Lindsay Graham ou Rand Paul, é o fato de ser altamente improvável que o ineficiente Congresso dominado pelos republicanos, nas últimas semanas que lhe restam, venha a votar qualquer lei significativa sobre qualquer assunto, muito menos um que certamente colidirá com a Casa Branca.

"No passado, vimos muitas vezes que uma série de políticos republicanos expressou sua infelicidade com o presidente ou consternação com uma medida tomada por ele, prometendo fazer alguma coisa contra isso, mas raramente algo aconteceu", disse o analista Norman Ornstein, estudioso do Congresso americano no think tank conservador American Enterprise Institute (AEI).

O ex-estrategista republicano Reed Galen, que trabalhou nas campanhas de John McCain, Arnold Schwarzenegger e George W. Bush, foi ainda mais incisivo em sua crítica. Como atual estrategista-chefe do Serve America Movement, seu objetivo é acabar com o domínio bipartidário em Washington.

"Há muito que já perdi a esperança de que eles o confrontem em qualquer tema em que ele aja contra as tradições ou até mesmo contra a decência", respondeu Galen quando indagado sobre a possibilidade de os congressistas republicanos não somente criticarem Trump, mas também fazerem algo diante do assassinato de Khashoggi.

Jornalista Jamal Khashoggi foi morto no início de outubro no consulado saudita em IstambulFoto: Getty Images/AFP/M. Al-Shaikh

Para Jamie Fly, ex-assessor de política externa do senador Marco Rubio, a questão está muito longe de ser resolvida. Embora ele admita que seja improvável que o ineficiente Congresso venha a agir, o futuro Congresso, incluindo muitos parlamentares republicanos, poderá abordar a questão.

"Se o governo continuar a agir como se não houvesse nenhum problema e como se as coisas pudessem prosseguir como de costume, acho que vai se deparar com algum tipo de confrontação com o Congresso", afirmou Fly, que hoje é pesquisador sênior da fundação independente German Marshall Fund, que estuda as relações transatlânticas na política, economia e sociedade.

Ele assinalou que, ao contrário de muitas outras questões, como a imigração, a forma de lidar com a Arábia Saudita não é uma preocupação primordial para a base política de Trump, o que torna mais fácil para os republicanos romper com o presidente sobre o assunto.

Segundo Fly, nos últimos anos, tanto entre democratas como entre republicanos, tem havido questionamentos sobre os estreitos laços entre EUA e Arábia Saudita, as vendas de armas para o país e o conflito do Iêmen. "Então, não será difícil para os republicanos tomarem uma posição clara sobre esse problema", disse Fly.

Ornstein compartilha o ponto de vista de que a Arábia Saudita não seja uma grande questão para os eleitores do Trump. Mas, dado o histórico do Partido Republicano e os possíveis obstáculos que um projeto de lei enfrentaria, ele disse continuar profundamente cético de que qualquer ação legislativa significativa contra a Arábia Saudita venha a ser bem-sucedida, seja no atual, seja no futuro Congresso.

"Quase tudo que o Congresso fizer, o presidente vai vetar", diz Ornstein. Para ser derrubado, um veto presidencial exige dois terços nas duas câmaras do Congresso. "Espero vir a me surpreender e estar errado, mas não vejo nada neste momento – nada na história – que sustente isso."

Além disso, acrescenta Galen, "a política é um negócio muito rápido hoje. Se esse assunto se estender por muito tempo, então a atenção pública vai se voltar para outra coisa na próxima semana."

Assim, Ornstein pode estar certo ao dizer que "há muito burburinho e confusão, mas nenhuma ação se seguirá".

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