Responsáveis por mina de carvão são presos na Turquia
18 de maio de 2014A imprensa turca noticiou neste domingo (18/05) que foram detidos pela polícia diversos responsáveis pela mina de carvão da localidade de Soma, palco do desastre que custou 301 vidas, cinco dias atrás.
Consta que foram presas 18 pessoas, entre as quais alguns empresários da operadora da mina. A detenção veio de forma inesperada, já que, ainda na véspera, o governo em Ancara exonerava de culpa a empresa mineradora, afirmando que ela cumprira todas as exigências de segurança.
A polícia de Soma, no oeste da Turquia, isolou a localidade neste sábado, depois que as equipes de resgate retiraram os últimos dois corpos de sob os destroços da mina de carvão que desabou na noite da última terça-feira, após explosão seguida de incêndio.
O governador da região proibiu protestos em massa depois dos severos choques entre manifestantes e policiais, na sexta-feira. Foram montados pontos de controle nas principais vias de acesso a Soma, enquanto forças de segurança patrulhavam a cidade devastada pelas manifestações.
A agência de notícias turca Dogan registrou a prisão de 36 pessoas, inclusive oito advogados, durante o bloqueio policial, por suspeita de estarem organizando novos protestos.
Manifestantes tratados a tapas e pontapés
As mortes dos mineiros em Soma, atribuídas a más condições de segurança, desencadearam manifestações em toda a Turquia, exacerbadas pela inabilidade do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, em lidar publicamente com a tragédia.
Os comentários aparentemente insensíveis do político conservador de 60 anos – minimizando o acidente e comparando-o a eventos nas minas inglesas do século 19 – foram recebidos com revolta pela população. Dias depois, seu assessor Yusuf Yerkel atacou a pontapés um manifestante imobilizado pela polícia, fazendo crescer a indignação popular e internacional.
Por último, vídeos em circulação em plataformas sociais como Twitter e YouTube mostram Erdogan esbofeteando um ativista, durante visita a Soma, e aparentemente gritando para ele: "Por que é que está fugindo, sua cria de Israel?"
Segundo Yalcin Akdogan, vice-presidente do partido governista AKP e consultor de Erdogan, "membros de quadrilha" teriam provocado no local a comitiva do chefe de governo. Por outro lado, neste sábado Ancara colocou em dúvida a veracidade das imagens online, em nota oficial divulgada pela agência de notícias AFP: "O primeiro-ministro definitivamente não usou tal expressão. O uso de tal expressão está fora de questão."
Campanha eleitoral na Alemanha?
Apesar das acusações de corrupção a seu governo e dos protestos de massa contra o projeto de construção no Parque Gezi, em Istambul, iniciados em 28 de maio de 2013, o Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), do premiê, venceu com margem confortável o pleito municipal em março último.
Em agosto, a Turquia realizará eleições presidenciais, tendo-se como praticamente certo que Erdogan vá concorrer. Ele já ocupa o cargo de primeiro-ministro desde 2003, e as regras internas do AKP impedem que dispute mais uma vez a chefia de governo.
Pela primeira vez, cidadãos turcos que vivem no exterior poderão votar no pleito presidencial. Nesse contexto, neste 24 de maio Erdogan faz uma visita a Colônia, cidade alemã com significativa população turca. A iniciativa vem sendo criticada por diversos políticos da Alemanha.
A comissária especial do governo alemão para integração, Aydan Özoguz, comentou ao jornal Frankfurter Allgemeine que os mais recentes registros da mobilização da polícia turca contra manifestantes são "chocantes e inaceitáveis". "Tais imagens afastam a Turquia dos padrões democráticos", resumiu.
O porta-voz do partido A Esquerda para relações internacionais, Sevim Dagdelen, criticou a linha dura do premiê contra os sindicatos e contra minorias étnicas como os alauítas e curdos.
No entanto, o deputado ressalvou ser "hipócrita" o fato de os partidos da coalizão governamental da Alemanha se posicionarem agora contra a vista de Erdogan, já que a passagem do conservador por Berlim, em fevereiro, serviu como eficiente campanha para as eleições municipais de março.
AV/afp/dpa/rtr