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Terrorismo

Resposta ao terrorismo gerou abusos na Bélgica, diz ONG

4 de novembro de 2016

Relatório da Human Rights Watch afirma que ações antiterrorismo no país, após os ataques em Bruxelas, foram demasiadamente severas e às vezes cruéis.

Relatório de 56 páginas inclui detalhes sobre "ações policiais abusivas durante operações antiterrorismo e detenções"
Relatório de 56 páginas inclui detalhes sobre "ações policiais abusivas durante operações antiterrorismo e detenções"Foto: picture-alliance/dpa/B. De Avellaneda

A resposta da Bélgica às ameaças de terrorismo no país foram demasiadamente severas e até mesmo cruéis, afirmou nesta quinta-feira (03/11) a organização humanitária Human Rights Watch (HRW).

Um relatório da ONG denuncia abusos por parte da polícia, que em muitos casos manteve os suspeitos detidos em isolamento por períodos prolongados, suspendeu passaportes e vasculhou registros de telefones e e-mails sem autorização judicial.

"A Bélgica trabalhou intensamente no ano passado para evitar novos ataques, mas suas reações legais e políticas têm sido minadas por sua natureza pouco específica e, por vezes, abusiva" afirma Letta Tayler, autora do relatório e especialista em terrorismo da HRW.

O documento de 56 páginas inclui detalhes sobre "ações policiais abusivas durante operações antiterrorismo e detenções". Ele relato, por exemplo, a história de Faycal Cheffou, um belga de origem norte-africana detido equivocadamente pela polícia por suposta associação ao ataque terrorista ao aeroporto de Bruxelas em março.

Ele contou à HRW que a polícia o deixou nu antes de agredi-lo e chamá-lo de "jihadista sujo". O episódio, segundo afirmou, o deixou "completamente destruído".

"Compartilhamos a revolta e o pesar de franceses e belgas e a vontade de levar os responsáveis à Justiça. Mas ações policiais demasiadamente severas arriscam alienar as comunidades, cuja cooperação pode ajudar a lidar com as ameaças", diz Tayler.

O HRW examinou 26 incidentes em que suspeitos ou seus advogados alegam que a polícia utilizou termos como "árabe sujo" ou "terrorista sujo", além de dez casos em que eles teriam sido agredidos fisicamente ou jogados com violência ao chão. Destes últimos, apenas um não era muçulmano, e dois não eram de origem norte-africana, afirma a organização.

"Reações desproporcionais enfraquecem o Estado de direito, alimentam a desconfiança das comunidades muçulmanas em relação às autoridades e dividem a sociedade quando ela precisa se unir contra grupos como o EI", afirma Tayler.

Em resposta ao relatório, o governo belga disse à HRW que está investigando os casos suspeitos de ter havido "violência física ou verbal" por parte das autoridades. Bruxelas, porém, afirmou que estes incidentes são isolados e que "em hipótese alguma resultam de uma política deliberada".

Em março, terroristas associados ao "Estado Islâmico" (EI) lançaram ataques suicidas ao aeroporto e uma estação de metrô em Bruxelas, que mataram 35 pessoas. Os ataques em Paris em novembro de 2015, que resultaram na morte de 130 pessoas, foram realizados por jihadistas que, em muitos casos, possuíam ligações com a Bélgica 

O governo belga afirma que ao menos 450 cidadãos do país aderiram – ou tentaram aderir – a grupos ligados ao EI. Este é o maior número per capita num país da Europa Ocidental.

RC/dpa/afp

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