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Armas nucleares dos EUA continuam na Alemanha

Sven Pöhle (av)6 de agosto de 2015

Ogivas americanas já deveriam ter sido retiradas do país, mas base militar na região do Eifel ainda abriga várias delas. Para especialista, efeito da presença das armas no continente europeu é mais político que militar.

Base aérea de Büchel, na região vulcânica do EifelFoto: picture alliance/dpa

Em harmonia, as bandeiras nacionais alemã e americana tremulam à entrada da base aérea de Büchel. O vigia na cancela olha desconfiado para Katja Tempel, que, diante da entrada principal, aponta para a área atrás da cerca. As palavras da mulher de 52 anos, de cabelos grisalhos curtos, são abafadas pelo repentino barulho ensurdecedor vindo do outro lado. "São de novo os Tornados fazendo voos de exercício", comenta a parteira, natural da região de Wendland, no leste alemão.

Durante a semana, os aviões militares levantam voo regularmente daqui. Na primavera, Tempel passou muito tempo na região do Eifel vulcânico. Entre março e maio, ela organizou a ação de protesto "Büchel 65", juntamente com outros ativistas, A meta era bloquear durante 65 dias o local, onde estariam presumivelmente guardadas as últimas armas atômicas dos Estados Unidos em solo alemão.

Relíquia da Guerra Fria

Acredita-se que entre dez e 20 ogivas nucleares dos tempos da Guerra Fria estejam estacionadas na base do Esquadrão Aéreo Tático 33, num local subterrâneo isolado, sob vigilância das Forças Armadas americanas.

Sua existência nunca foi confirmada oficialmente. Por razões de segurança, nem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nem o governo federal da Alemanha se manifestam concretamente a respeito. A política de informação conjunta é não confirmar nem desmentir a presença de armas atômicas em determinados locais.

Apesar disso, o estacionamento de equipamento nuclear americano na Alemanha e em outros países europeus é uma espécie de segredo público. Documentos dos EUA não deixam dúvida quanto a isso, e Berlim tampouco nega o fato. No contrato de coalizão entre a União Democrata Cristã (CDU) e o Partido Social Democrata (SPD) consta que, sob certas condições, o governo federal se engajará pela "retirada das armas atômicas táticas estacionadas na Alemanha e na Europa".

Segundo o perito armamentista Ottfried Nassauer, do Berlin Information Center for Transatlantic Security (Bits), na realidade, a presença em Büchel de cerca de 20 armas nucleares americanas é fato confirmado. Trata-se de dois tipos de bombas da família das B-61, com potência explosiva máxima entre 50 e 170 quilotoneladas – o equivalente a entre quatro e 13 vezes a potência da bomba atômica lançada sobre Hiroshima há 70 anos, em 6 de agosto de 1945.

Efeito político-psicológico

Na base na região do Eifel, os pilotos da Força Aérea alemã também treinam o emprego dos aviões de combate que, em caso de necessidade, transportariam essas armas atômicas, naquilo que a Otan denomina "participação nuclear".

Durante a Guerra Fria, caças alemães equipados com bombas atômicas americanas estavam encarregados de interceptar o eventual avanço de tropas de tanques do Pacto de Varsóvia – após a devida autorização pelo presidente dos EUA. Nas fases mais agudas, até 7.300 ogivas nucleares americanas estiveram estacionadas na Europa.

A rigor, as 180 armas ainda existentes no continente não têm praticamente qualquer significado militar. "O efeito é, antes, político-psicológico", diz Nassauer. "É uma espécie de resseguro para os novos Estados-membros da Otan, por exemplo, de que os americanos estariam a postos, com suas armas atômicas, para a defesa da Europa, se fosse o caso."

Novo clima geopolítico

Com a iniciativa "Büchel 65", Katja Tempel luta pela remoção integral do arsenal atômico americanoFoto: DW/S. Pöhle

Na realidade, a retirada dos armamentos nucleares americanos já estava politicamente decidida na Alemanha. A CDU e o FDP a haviam projetado claramente em 2009, em seu contrato de coalizão. O Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) igualmente apoiou com grande maioria essa meta em 2010.

No entanto, a medida ainda não foi implementada. Pelo contrário. Recentemente o ministro do Exterior Frank-Walter Steinmeier admitiu: "Não se desistiu do tema, de forma alguma. Mas ele continua tão difícil como nos últimos anos."

Possivelmente a questão é agora ainda mais difícil, uma vez que a meteorologia geopolítica global aponta em outra direção. Há alguns anos Washington decidiu modernizar seu arsenal nuclear na Europa. Num programa bilionário, as antiquadas bombas B-61 estacionadas na Alemanha deveriam ser substituídas por mais precisas armas teleguiadas por controle digital.

Retirada utópica

Para Berlim, ficou claro que não se deve contar com uma retirada das ogivas americanas nos próximos anos, afirma Nassauer. Além disso, circula em certos setores do governo federal alemão o temor de que tal passo signifique perder a influência no planejamento relacionado a essas armas.

Entretanto, mantê-las significa, ao mesmo tempo, "uma pré-decisão de que o governo alemão vai ter que conviver com a modernização dessas armas, que vão ser trazidas para a Europa mais ou menos a partir de 2020", conclui o perito armamentista.

Nesse caro, os caças-bombardeiros do tipo Tornado estacionados em Büchel, potenciais portadores das atuais bombas atômicas, teriam que ser modificados. Originalmente, as Forças Armadas alemãs pretendiam tirar os aviões de circulação até 2020. Porém, agora está claro que, em número menor, os Tornados serão utilizados para além de 2025, e eventualmente serão modernizados mais uma vez.

Diante de tal quadro, a retirada integral do arsenal atômico americano do território alemão parece estar bem longe de se tornar realidade, como reivindicam Tempel e seus correligionários do grupo de protesto "Büchel 65".

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