Contra especulação imobiliária, ativistas ocupam dois prédios na cidade e convocam “Primavera das Ocupações”. Na década de 1980, Berlim foi a meca de movimento que deu nova vida a prédios vazios.
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Nas décadas de 1970 e 1980, Berlim Ocidental vivia a explosão das ocupações de prédios abandonados. O movimento, que surgiu devido à escassez de moradias e espaços culturais com aluguéis acessíveis, encontrou na cidade um terreno fértil e muitos edifícios antigos vazios.
A primeira ocupação na Alemanha, em Frankfurt em 1970, foi o estopim do movimento que se espalhou pelo país e chegou pouco tempo depois a Berlim. Na época, os moradores estavam insatisfeitos com a política de moradia, que desde meados dos anos 1960 priorizava a demolição de blocos habitacionais antigos para a construção de edifícios modernos. Assim surgiu, por exemplo, a região em torno da estação de metrô Kottbusser Tor.
Diversos prédios foram esvaziados para a modernização da cidade. O problema era, porém, que a construção das novas moradias não acompanhava o ritmo da escassez que surgiu com as demolições. A primeira leva de ocupações na cidade foi conduzida principalmente por jovens, desempregados, estudantes e sem-tetos. Ao grupo se juntaram integrantes de movimentos de contracultura, como hippies e punks.
Vários edifícios no lado ocidental da cidade foram tomados pelos ativistas, principalmente no bairro Kreuzberg. Na década de 80, Berlim Ocidental se tornou a meca do movimento, com mais de 200 prédios ocupados. O período também foi marcado pela violência. Em 1981, a União Democrata Cristã (CDU) assumiu o governo local, decretando tolerância zero para as ocupações. A polícia ficou livre para agir com truculência contra os ocupadores, e as ações de desocupação se transformam em batalhas.
Uma dessas ações terminou em tragédia: em setembro de 1981, um jovem de 18 anos morre após ser atropelado por um ônibus durante um protesto. A morte chocou a população e mudou o curso da política habitacional. Antigos prédios passaram a ser reformados, ao invés de demolidos, e quase metade das ocupações foi legalizada. Na época, 40% da população apoiava o movimento.
Com a queda do muro de Berlim e a reunificação da cidade, o movimento de ocupação viveu um novo esplendor na década de 90, e mais de 100 edifícios foram ocupados por ativistas, principalmente no lado oriental da cidade, nos bairros de Friedrischshain, Mitte e Prenzlauer Berg.
Depois dessa onda, o movimento foi perdendo força. Até poucos anos atrás, Berlim tinha aluguéis baratos e abundância de apartamentos. Entretanto, esse cenário mudou completamente e a cidade foi conquistada pela gentrificação, processo de (super)valorização de espaços urbanos, e pela especulação imobiliária.
Hoje, os moradores da capital alemã enfrentam uma violenta explosão nos preços dos aluguéis e muitos são "expulsos” de bairros onde viveram a vida inteira, por não terem mais condições de pagar o valor exigido pelos locatários. Estima-se, ainda, que haja em Berlim cerca de 6 mil moradores de rua, parte deles vítimas diretas da especulação imobiliária.
Diante dessa realidade, o movimento de ocupações parece estar ressurgindo. No penúltimo domingo de maio, um grupo ocupou vários prédios na cidade. Em seis edifícios, apenas faixas com a inscrição "Besetzen" (ocupar) foram colocadas nas fachadas. Outros dois imóveis vazios há anos, um em Kreuzberg, outro em Neukölln, foram de fato ocupados.
A ação terminou horas depois com a chegada da polícia, que esvacuou os prédios. Os 56 ativistas que participaram do ato foram denunciados pelos donos dos imóveis e podem responder a processo. A ocupação dos prédios estava sendo planejada há alguns meses.
Após a ação do domingo, os ativistas disseram que não vão parar e anunciaram a "Primavera das Ocupações” na capital. Eles pretendem ocupar, além de prédios vazios, apartamentos alugados para turistas. Com a ação, o grupo já conseguiu incitar o debate sobre a política habitacional na cidade.
Se esse debate renderá frutos, só o futuro dirá. Olhando para o passado, os movimentos de ocupação das décadas de 70 a 90 conseguiram salvar muitos prédios antigos da demolição e mudar a política habitacional na época.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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Dez centros de vida noturna na Alemanha
Procurando por casas noturnas, bares ou pubs? Sem problema: a Alemanha tem muito a oferecer a festeiros e notívagos. Confira os dez "points" mais badalados de Hamburgo até Munique.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Berlim: 24 horas de festa
De manhã ou de noite: em Berlim as pessoas podem dançar 24 horas ao dia. Muitas pessoas viajam à capital alemã somente para passar o fim de semana, indo de uma casa noturna a outra. Friedrichshain e Kreuzberg, um bairro de cada lado do rio Spree, são populares para as noitadas. O lendário clube de música eletrônica Berghain e o complexo RAW são os destinos mais conhecidos.
Foto: Visit Berlin
Hamburgo: a "milha do pecado"
Cartazes luminosos piscando em todos os lugares, música ecoando de clubes e pessoas seguindo de um bar ao outro: quanto mais tarde na noite, mais cheia está a Reeperbahn, a avenida mais famosa de Hamburgo e conhecida como a "milha do pecado" devido aos notórios prostíbulos. Entre as casas noturnas mais famosas estão Golden Pudel Club, Molotow e Grosse Freiheit 36.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Heimken
Munique: como celebridades
Os clubes noturnos mais movimentados da capital bávara estão localizados principalmente nos bairros de Glockenbachviertel, Schwabing e no centro antigo. Para uma noite chique, o P1 é o destino correto. A elegante discoteca promete exclusividade. Lady Gaga, os Rolling Stones e Paris Hilton estão entre as celebridades que frenquentam o P1, que recebe o nome de seu endereço: Prinzregentenstrasse 1.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Horhager
Frankfurt: metrópole da música house
Dançar numa casa noturna ou desfrutar de um tradicional vinho de maçã num bar: a vida noturna de Frankfurt é bastante variada. O bairro de Sachsenhausen, com um bar colado ao outro, é um local popular para os notívagos. Frankfurt também é conhecida pelo amplo leque de discotecas famosas, que contam com renomados DJs residentes de house e minimal techno, como, por exemplo, Sven Väth.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Colônia: noite "open-end"
Caso queria celebrar uma boa noitada em Colônia, vá à área em torno da rua Zülpicher Strasse. A boate Roonburg toca os hits do momento, música pop e sucessos da década de 90, enquanto o MTC acolhe regularmente shows de rock. Mesmo depois de a maioria dos clubes terem fechado, a festa pode continuar: a balada no Venus Cellar é "open-end".
Foto: Roonburg
Düsseldorf: o bar mais longo do mundo
Cerca de 300 bares, discotecas e restaurantes estão agrupados em aproximadamente 500 metros quadrados no centro antigo de Düsseldorf. Por isso, a capital da Renânia do Norte-Vestfália ostenta o apelido de "bar mais longo do mundo". O coração da vida noturna na cidade está localizada na rua Bolkerstrasse, onde há cerca de 50 bares, cervejarias e discotecas. A maior casa noturna se chama Kuhstall.
Foto: Kuhstall
Stuttgart: tour de bares no "Theo"
O centro festivo de Stuttgart é a rua Theodor-Heuss-Strasse – ou simplesmente "Theo" para os nativos. Nos fins de semana, noites regadas a techno, house, hip hop são bastante populares. A entrada na maioria dos estabelecimentos é gratuita – principal pré-requisito para o "bar-hopping", o tour de bares. Os clubes Muttermilch, 7Grad e Barcode são os principais endereços em Stuttgart.
Foto: Stuttgart-Marketing GmbH-Gilardone
Bochum: o Triângulo das Bermudas
O Triângulo das Bermudas não pode ser encontrado somente no Oceano Atlântico, há também um em Bochum. Com três milhões de visitantes por ano, é a principal área de festa da região do Ruhr, localizada no leste do país. Há de tudo que possa ser desejado: muitos pubs, restaurantes chiques e discotecas com capacidade para até 10 mil pessoas.
Foto: Stadt Bochum, Presse- und Informationsamt
Leipzig: o culto de "Karli"
A rua Karl-Liebknecht-Strasse – também conhecida como "Karli" – é a principal atração para estudantes em Leipzig. Bares e restaurantes formam uma mistura interessante com lojas alternativas, que vendem calças coloridas de algodão e vinis. Além disso, há ainda muita cultura a ser desbravada na antiga cervejaria Feinkost.
Foto: Andreas Schmidt
Bremen: diversão no "Bairro"
Caso esteja procurando sair para a noite em Bremen, não será necessário se lembrar de nomes e endereços complicados: a área de entretenimento é simplesmente chamada de "Viertel", ou seja, "bairro". Existem inúmeros cafés, pubs e casas noturnas. E próximo há o "Schlachte", o passeio público ao longo do rio Weser, onde se pode relaxar no final do dia e começar as festas de noite.