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Wieland Speck

13 de agosto de 2011

Diretor do festival de Berlim e criador do Teddy Awards, Wieland Speck completa 60 anos e ganha uma retrospectiva completa. Sua história é pontuada pela emancipação gay e a reunificação de Berlim.

Retrospectiva celebra os 60 anos de Wieland SpeckFoto: Berlinale 2009

No circuito dos festivais de cinema, Wieland Speck é conhecido por ser diretor da Panorama, a segunda principal mostra do festival de Berlim. Ele também é um dos criadores do Teddy Awards, o prêmio gay do festival.

Personalidade no mundo do cinema, Speck também é um artista de vanguarda e em seus filmes e vídeos experimentais trata de temas como a emancipação gay e o osexo seguro.

Nascido em Freiburg, no sudoeste da Alemanha, Speck mora em Berlim desde 1982. Seu mais conhecido filme, Westler (1985), narra o romance entre dois berlinenses, um de cada lado do muro. Sem filmar desde 2000, o diretor comemora seus 60 anos com uma completa retrospectiva no Arsenal, instituto de filme e videoarte em Berlim.

Como artista, Speck sempre levou em conta que filmes também são imagens individuais. Quadros de filmes se tornam fotografias independentes, slides e polaroides são usados para contar histórias autobiográficas, montagens fotográficas viram imagens abstratas. As possibilidades oferecidas pelo cinema são experiências que emergem de seus filmes e peças de arte.

Em entrevista para a Deutsche Welle, Speck relembra sua carreira, fala sobre Berlim, emancipação, festivais, cinema gay e sobre o futuro.

Deutsche Welle: Como surgiu a ideia da retrospectiva?

Mostra relembra carreira de Speck em filmes e fotosFoto: picture alliance/dpa

Wieland Speck: Berlim atrai muitas pessoas do mundo todo que querem viver um estilo de vida alternativo ao do lugar de onde vieram. Não há muito dinheiro na cidade, o que gera muita liberdade e deixa espaço para a improvisação. Quando há dinheiro, o profissionalismo dita as regras, e isso dá espaço e poder a pessoas não criativas.

Sendo assim, cada geração tem uma necessidade de se reinventar. As duas últimas gerações se estagnaram porque tinham muito medo de não se adequar ao mundo. Digo sempre para os jovens serem eles mesmos. O mundo tem que se adaptar a você.

A geração que dita as regras agora está próxima dos 40 anos e está descobrindo que eu não sou apenas o famoso diretor de festival, mas que eu também tive uma carreira bastante avant-garde. Quando se vive por tanto tempo, você tem muitas coisas a dizer e uma vontade de dizê-las. Assim surgiu o convite da nova geração do Arsenal para a retrospectiva.

O que será exibido?

Tudo. Eu acredito na transparência. Dei a eles tudo que podia. O nome da retrospectiva é Imagens estáticas e em movimento. Além dos meus filmes, curtas e vídeos, haverá também debates, painéis nas paredes com fotos, montagens, cartazes. Usava muito Polaroid em painéis que são mosaico da época. Outra técnica que eu usava como videomaker era capturar um quadro de um vídeo e usá-lo como fotografia.

O efeito era como um filtro que me dava muita liberdade. Levar ao público situações privadas era uma manobra política na época que a emancipação estava começando a realmente acontecer. Não queríamos nos esconder e sim mostrar para a sociedade que eles tinham que aprender a lidar com quem éramos. O resultado é que hoje temos leis diferentes e outra maneira de lidar com a sociedade.

Há na retrospectiva outros filmes que representam seu trabalho como diretor da Berlinale e criador do Teddy. Como foi feita essa seleção?

O Teddy será representado por dois filmes que eu selecionei. Hedwig and the Angry Inch é um filme extraordinário que nunca foi lançado na Alemanha, feito por um diretor americano que cresceu em Berlim Ocidental. O outro é o curta Trevor, que foi o primeiro filme gay a ganhar o Oscar. Há uma seleção com alguns filmes da Panorama, alguns documentários sobre o festival e temas relacionados ao mundo gay em Berlim, além do fantástico filme Anderes als die Anderen, feito em 1919 por Richard Oswald e que é considerado o primeiro filme gay da história.

Qual é a importância do cinema gay hoje?

A emancipação gay ainda não ocorreu em vários lugares do mundo e os festivais de cinema ainda são muito importantes. Ainda há muitos lugares na Europa, como Sarajevo, onde festivais gays não podem acontecer. No ano passado estive no primeiro festival de cinema gay da Índia. Da minha parte e do Teddy Awards tentamos sempre apoiar esse tipo de iniciativa. Compilamos todos os vencedores e oferecemos as cópias sem custos aos festivais que querem começar.

Como foi o processo do seu último filme, Escape to Life?

Eu dirigi a parte ficcional e Andrea Weiss, a parte documental. Quando conheci Andrea, descobrimos que tínhamos uma admiração muito grande por Erika e Klaus Mann, filhos do escritor Thomas Mann. Ele era escritor e ela, uma artista de cabaré político. Eles fugiram da Alemanha quando a repressão nazista começou a se intensificar. O engraçado é que ambos se alistaram no exército e lutaram contra a Alemanha, ele com os americanos e ela com o ingleses. Se eu vivesse naquela época, teria feito o mesmo.

Os filmes em que você atuou estarão na retrospectiva?

Só um pequeno vídeo com algumas imagens. Eu fiz filmes terríveis quando era ator porque precisava do dinheiro. Tinha muito que dizer e acabei fazendo filmes. Acabei estudando cinema. Meu primeiro curta me trouxe para a Berlinale. Quando voltei para Berlim, em 1982, eu consegui um emprego no festival e estou lá até hoje.

Você pretende voltar a dirigir?


Filmes demandam muito tempo e estou muito ocupado com o festival. Tenho alguns roteiros que quero filmar antes de morrer, mas será impossível nos próximos cinco anos.

Wieland Speck – Imagens estáticas e em movimento está em cartaz no Arsenal em Berlim até 22 de agosto.

Entrevista: Marco Sanchez
Revisão: Roselaine Wandscheer

"Hedwig and The Angry Inch" venceu o Teddy Awards em 2001Foto: picture alliance/Mary Evans Picture Library
Erika e Klaus Mann: temas do filme "Escape to Life"Foto: ullstein bild
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