Não-proliferação
4 de maio de 2010O governo dos EUA decidiu-se pelo fim do sigilo mantido até agora, tornando públicos dados sobre as armas atômicas do país. Segundo as informações divulgadas, o país chegou ao ápice em termos de armamentos nucleares no ano de 1967, com 31.255 ogivas nucleares, 84% das quais já foram eliminadas desde então. De acordo com os dados oficiais, Washington determinou a extinção de 8.700 ogivas nucleares entre os anos de 1994 e 2009. Hoje, o país dispõe ainda de 5.113 ogivas nucleares.
A Secretária de Estado Hillary Clinton salientou em discurso perante a conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), nesta terça-feira (04/05) na sede nas Nações Unidas em Nova York, que os EUA sabiam que o problema dos arsenais atômicos seria um dos grandes desafios a serem enfrentados no século 21. Segundo ela, o perigo hoje não é mais, em primeira linha, de uma guerra nuclear, mas sim de que terroristas armados passem a fazer uso de armas atômicas. A divulgação dos dados sobre o arsenal atômico dos EUA, afirmou Clinton, é um "claro sinal de abertura" em termos de desarmamento.
Preço alto
Clinton apelou à comunidade internacional em prol de uma postura mais rigorosa frente a países que não respeitem o desarmamento nuclear. Esses países, disse ela, devem saber "que irão pagar um preço alto por isso", salientou.
Em seu discurso, a Secretária de Estado demonstrou disposição em dar "passos concretos" em prol de um Oriente Médio isento de armas atômicas. Essa postura poderá, contudo, criar uma animosidade entre os governos norte-americano e israelense, uma vez que, apesar das negativas de Tel Aviv, sabe-se que Israel dispõe de armas nucleares.
Irã x EUA
Clinton acusou o Irã de desprezar as regras internacionais ao conduzir seu polêmico programa nuclear. Segundo ela, dos 190 participantes da conferência da ONU, o Irã seria o único país que não respeita o Tratado de Não-Proliferação de Armas Atômicas e o viola continuamente. "É por isso que crescem a exclusão e a pressão sobre o Irã e não por outras razões. Conclamo Teerã a respeitar as exigências do mundo", disse Clinton.
O discurso do presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, contra os EUA, durante a conferência da ONU, causou uma série de protestos. Vários representantes norte-americanos e europeus deixaram o salão enquanto o presidente ainda falava. Ahmadinejad acusou os EUA de "ameaçar" o Irã com armas nucleares. Segundo ele, as acusações de que o Irã possuiria um arsenal atômico não procedem. O presidente ressaltou que não há "nenhuma prova confiável" disso.
"Investigação independente"
Ramin Mehmanparast, porta-voz do ministério iraniano do Exterior, afirmou que o fato de os EUA manterem sob sua propriedade mais de 5 mil ogivas nucleares é "uma injustiça". Segundo ele, "é necessária uma investigação independente, a fim de verificar o número exato das ogivas nucleares norte-americanas".
A edição desta terça-feira do diário italiano La Repubblica assinala que os EUA não foram bem-sucedidos em sua participação na conferência da ONU, já que o país esperava que a reunião acabasse com a definição de sanções contra Teerã. Ao contrário disso, afirma o jornal, o presidente iraniano Ahmadinejad "pôde usar, mais uma vez, a Assembleia da ONU como plataforma para seus discursos acusatórios contra Washington e Tel Aviv, sem ser incomodado com nenhuma sombra de sanção" contra seu governo.
Acordo pelo desarmamento
O encontro realizado em Nova York visa uma ratificação do Tratado de Não-Proliferação. O acordo, que entrou em vigor no ano de 1970, é reavaliado a cada cinco anos, sendo considerado o principal pilar dos esforços antinucleares em todo o mundo. Nele, os países signatários que ainda não possuem armas atômicas prometem que não irão desenvolvê-las.
Por outro lado, o acesso ao uso pacífico da energia nuclear lhes é permitido. As cinco potências nucleares declaram-se, no acordo, dispostas a extinguir gradualmente seus arsenais. A Índia, o Paquistão e Israel, que desenvolveram armas atômicas neste ínterim, não participam do acordo. A Coreia do Norte – que, segundo as informações do próprio governo, trabalha na construção de uma bomba atômica e realizou há pouco dois testes nucleares – retirou-se do contrato no ano de 2003.
SV/dw/afp/dpa/apn/rtr
Revisão: Augusto Valente