"The Lancet" diz que Brasil precisa de "mudança urgente"
4 de setembro de 2022
Renomada publicação científica alerta em editorial para instabilidade em caso de derrota de Bolsonaro e destaca gestão desastrosa na pandemia, desrespeito às mulheres, ao meio ambiente e sabotagem à ciência do país.
Anúncio
Um editorial da revista científica The Lancet, intitulado "Novos Começos para a América Latina?", publicado neste sábado (03/09), afirma que há muito em jogo nas eleições presidenciais do Brasil, e alerta para uma possível instabilidade política no caso de uma derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Se as pesquisas estiverem corretas, Bolsonaro será derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro ou no segundo turno. Entretanto, a diferença entre ambos está ficando mais estreita", afirma o editorial da revista, considerada uma das mais importantes publicações científicas em todo o mundo.
"Há temores de que Bolsonaro, conhecido por sua volatilidade e incitação indireta à violência, não sairá passivamente ", diz o texto, que ressalta as críticas do atual mandatário ao sistema eleitoral brasileiro.
"O gerenciamento desastroso de Bolsonaro da pandemia de covid-19 e seu desrespeito às mulheres, minorias étnicas, povos indígenas e ao meio ambiente são amplamente conhecidos. Em seu governo [...] a desigualdade e a pobreza aumentaram vertiginosamente, e o Brasil voltou ao mapa da fome."
"Correspondências publicadas na The Lancet descrevem como cientistas e instituições científicas vem sendo sabotadas. O Brasil precisa de mudança urgente", dizem os editores da revista.
"Se as previsões para as eleições no Brasil estiverem corretas, o país se juntará a outras nações latino-americanas onde existem esperanças renovadas de mudanças progressivas na sociedade". Como exemplo, a revista cita as eleições de Gustavo Petro, na Colômbia, "um ex-guerrilheiro que tomou posse em agosto"; e Gabriel Boric no Chile.
O editorial afirma que Petro e Boric se diferenciam dos demais líderes latino-americanos por incluírem em suas agendas os temas da sustentabilidade, proteção aos direitos das mulheres e a inclusão política das minorias étnicas.
"Há uma chance sem precedentes para novos começos na América Latina; uma oportunidade de realizar mudanças positivas para aliviar a negligência, desigualdade e violência aprofundadas. Esperamos que o Brasil opte por aproveitar essa oportunidade", concluem os editores.
rc (ots)
A história das eleições presidenciais no Brasil
A história das eleições presidenciais no Brasil
Foto: Adriano Machado/REUTERS/Nelson Almeida/AFP
1989: a primeira eleição direta da redemocratização
Os brasileiros voltaram a escolher diretamente um presidente depois de 27 anos. Um total de 22 candidatos se apresentou – até hoje um recorde. O pleito foi marcado por debates na TV e acusações de manipulação jornalística. Fernando Collor, filiado a um partido nanico, largou na frente ao se apresentar como “caçador de marajás”. No final, Collor derrotou o líder sindical Lula (PT) no 2° turno.
Foto: Radiobras/Roosewelt Pinheiro
1994: o início da era tucana
No início de 94, o pleito tinha um favorito: Lula. No entanto, alguns meses antes da eleição foi lançado o Plano Real, bem-sucedido em conter a inflação. A popularidade de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um dos autores do plano, disparou. Lula, que havia criticado o real, afundou nas pesquisas. FHC acabou vencendo a eleição ainda no 1° turno. Era o início de oito anos de hegemonia do PSDB.
Foto: Acervo FHC
1998: a reeleição entra em cena
Em 1997, foi aprovada a emenda da reeleição– com denúncias de compra de votos –, abrindo caminho para FHC disputar mais um mandato. Mais uma vez seu adversário foi Lula, que indicou Leonel Brizola, seu antigo rival na esquerda, como vice. Durante a campanha, o governo omitiu que o real estava sobrevalorizado. FHC foi eleito no 1° turno. Depois da posse, o real sofreu uma desvalorização recorde.
Foto: Acervo FHC/Secretaria de Imprensa
2002: o início da hegemonia petista
Lula chegou à eleição com uma nova imagem: se comprometeu a apoiar o plano real, nomeou um empresário como vice e recorreu a marqueteiros. A estratégia para acalmar o mercado deu certo. Ciro Gomes chegou a despontar em segundo lugar, mas afundou após uma série de declarações que repercutiram mal. No final, Lula derrotou o candidato do governo FHC, José Serra, no segundo turno, com 61% dos votos.
Foto: Agência Brasil/M. Casal Jr.
2006: escândalos não impedem reeleição de Lula
Lula se candidatou novamente após a eclosão do escândalo do Mensalão. Parecia destinado a vencer no 1° turno, mas a prisão de assessores do PT na reta final abalou sua campanha. No 2° turno, os petistas contra-atacaram. Rotularam o tucano Geraldo Alckmin de privatista e de ser contra o Bolsa Família. Alckmin acabou recebendo menos votos no 2° turno do que na primeira rodada, e Lula foi reeleito.
Foto: Instituto Lula/R. Stuckert
2010: a primeira presidente mulher
Com alto índice de popularidade, Lula apresentou Dilma Rousseff como candidata à sucessão. Os tucanos voltaram a lançar José Serra, e a ex-ministra Marina Silva disputou pela primeira vez. A campanha de Serra tentou encurralar Dilma ao acusá-la de ser favorável ao aborto. No final, pesou a popularidade de Lula, e a petista ganhou no 2° turno, se tornando a primeira mulher a chegar à Presidência.
Foto: Agência Brasil/W. Dias
2014: a campanha mais cara e acirrada
Nova polarização entre PSDB e PT: Dilma disputou um novo mandato com Aécio Neves. Após a morte de Eduardo Campos (PSB), Marina Silva entrou na corrida, mas desabou nas pesquisas após ataques do PT. Dilma foi reeleita com apenas 3,28 pontos percentuais a mais que Aécio no 2° turno. A petista e o tucano gastaram R$ 570 milhões - com muitas doações de empresas acusadas de corrupção na Lava Jato.
Foto: Reuters/R. Moraes
2018: polarização entre PT e Bolsonaro
Após uma campanha que acirrou ânimos e dividiu o país, Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito com 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). A vitória do ex-capitão defensor do regime militar marcou a volta da extrema direita brasileira ao poder e representou um fracasso para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nesse pleito estava preso por corrupção e impedido de se candidatar.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
2022: inédita disputa entre presidente e ex-presidente
Os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas são o presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que recuperou os direitos políticos. Bolsonaro ampliou benefícios sociais às vésperas da campanha e vem questionando o sistema eleitoral. Já Lula busca aliança ampla contra extrema direita e capitalizar sua experiência anterior no governo.