Comportamento
9 de abril de 2009O guarda-roupa de Linda Eilers não tem definitivamente nada a ver com a moda produzida em massa, aquela que pode ser comprada nas lojas de departamento. Nem com as peças que estão penduradas nas lojas de grandes grifes conhecidas. Toda peça de roupa que está na loja de Eilers é única e foi confeccionada por ela própria, provando que "fazer você mesmo" é uma tendência que realmente funciona. Fazer em vez de comprar pronto; peças únicas no lugar de mercadorias produzidas em massa.
Tricotando no café
"Há muito pouca gente que não consegue aprender a costurar", diz Eilers, que tem 31 anos. Desde 2006, ela gerencia um "café costura" chamado Stitch'n Bitch, no bairro Kreuzberg, em Berlim. No pequeno estabelecimento, há uma máquina de costura atrás da outra. Sobre um mesa grande cortam-se tecidos, e ao lado se veem moldes e revistas de moda.
O mais importante, porém, são os conselhos de Eilers, que costura com entusiasmo desde a infância. A uma cliente, por exemplo, ela aconselha qual a melhor máquina a ser usada, enquanto explica a uma outra como costurar o forro de um colete.
O princípio da Stitch'n Bitch é simples. Pagando cinco euros por hora, qualquer um pode levar seu tecido e começar a costurar, sob as orientações profissionais da proprietária. Para os que querem se aprofundar, há cursos de costura.
"A ideia foi bem recebida desde o começo. As pessoas estão cansadas de comprar roupas como as que todo mundo usa. Além disso, muita gente quer fazer algo com as próprias mãos, depois de ter passado anos a fio só na frente de um computador", conta Eilers.
Técnica de desaceleração do dia-a-dia?
A descrição parece corresponder a uma tendência geral a ser observada hoje. No mais tardar depois que estrelas de Hollywood, como Julia Roberts e Cameron Diaz, foram vistas tricotando nas pausas entre os trabalhos de filmagem, os velhos trabalhos manuais voltaram a ser considerados in. Nos EUA, a atividade é chamada de crafting, o que não passa, na verdade, da execução de um trabalho manual, embora soe mais chique.
O conceito, contudo, não tem absolutamente nada a ver com "as ideias tradicionais da mulher à beira do fogão", explicam Holm Friebe e Thomas Ramge no livro Marke Eigenbau (Marca fabricação própria), dedicado à tendência do revival da manufatura em diversas áreas.
Atividades como costurar, tricotar, bordar ou fazer crochê adquriram muito mais a conotação de "técnicas de desaceleração do dia-a-dia e postura política contra a ditadura da moda e contra a produção em massa", afirmam os autores do livro.
Trabalhos manuais na era da web 2.0
Os trabalhos manuais tradicionais saem ganhando, por mais contraditório que pareça, com o uso das modernas técnicas de comunicação. Pois sem a internet a nova tendência de manufaturas provavelmente não teria se disseminado tão rapidamente e entre tanta gente.
No YouTube, por exemplo, há filmes com instruções de como trabalhar adequadamente com malha; no site burdastyle.com há moldes e instruções de costura. Além disso, os usuários podem colocar na rede fotos de seus próprios esboços. O site conta com quase 190 mil usuários registrados.
"No momento, há um verdadeiro boom: algo pretensamente antiquado se associa agora a uma coisa completamente fashion", diz Claudia Helming, fundadora e coordenadora do portal online Dawanda, que faz dessa combinação entre velho e novo o princípio de seu negócio.
"Social shopping" como modelo para o futuro?
No Dawanda, é possível comprar quase tudo, desde roupas extravagantes até brinquedos infantis ou acessórios e bolsas. Tudo é feito à mão, de forma bem ou não muito profissional. Muitas das pessoas que compram produtos através do Dawanda dizem ter "um desejo por um valor que vai além do material", diz Helming.
No portal, o cliente pode ver quem confecciona o produto e fazer ao vendedor perguntas sobre o processo de manufatura, adquirindo assim uma relação muito mais pessoal com aquilo que, no fim, vai comprar.
Essa variação simpática do negócio leva o nome de social shopping e conta, somente no Dawanda, com aproximadamente 250 mil membros registrados. Claudia Helming não tem medo de que essa avalanche de consumidores possa vir, a longo prazo, a estragar o charme de sua loja online, que, afinal de contas, começou como um pequeno nicho no mercado.
"Sempre houve trabalhos manuais, só nos últimos anos eles foram subestimados. Quanto mais esse setor crescer, melhor", diz Helming. Pois da mesma forma como os outros iniciadores do atual movimento do "faça você mesmo", ela também espera que, algum dia, a produção e o mercado massificados possam recuar um pouco.
Autora: Christiane Wolters
Revisão: Simone Lopes