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Revogaço, democracia: os destaques dos discursos de Lula

2 de janeiro de 2023

Presidente Lula diz que democracia foi a grande vitoriosa na eleição, menciona quadro "estarrecedor" deixado por antecessor e defende que responsabilidades por "genocídio" durante a pandemia não fiquem "impunes".

Posse de Lula
Lula ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin após receber a faixaFoto: Ueslei Marcelino/REUTERS

Aotomar posse como presidente neste domingo (01/01), Luiz Inácio Lula da Silva fez dois discursos - ao Congresso e ao público da Esplanada depois de vestir a faixa presidencial. Ele exaltou a democracia e o diálogo político, fez falas conciliadoras, mencionou um cenário "estarrecedor" deixado por seu antecessor e afirmou que a "atitude criminosa" do governo anterior durante o "genocídio" da pandemia  "não deve ficar impune".

Confiras destaques dos discursos:

"Democracia sempre”

Lula mencionou a palavra democracia 12 vezes em seus dois discursos.

O presidente afirmou que a eleição demonstrou "o compromisso do povo brasileiro com a democracia e suas instituições" e que é preciso reagir a "quaisquer ataques de extremistas que queiram sabotar e destruir" a democracia.

"Sob os ventos da redemocratização, dizíamos: ditadura nunca mais! Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia para sempre!", afirmou o presidente.

Lula ainda afirmou que "cidadania é o outro nome da democracia" ao abordar direitos humanos e acesso aos serviços públicos.

Ao abordar as táticas ilegais usadas por seu antecessor na campanha para se manter no poder, Lula afirmou que "foi a democracia a grande vitoriosa nesta eleição, superando a maior mobilização de recursos públicos e privados que já se viu; as mais violentas ameaças à liberdade do voto, a mais abjeta campanha de mentiras e de ódio tramada para manipular e constranger o eleitorado".

"Revogaço"

Após ser empossado, Lula já tomou seu primeiro ato como presidente e assinou um "revogaço".

Entre outras medidas tomadas por Lula neste domingo, estão o início de estudos para retirada de estatais do processo de privatização, revogação de atos que incentivam garimpo na Amazônia e que facilitaram o comércio de armas de fogo durante o governo Bolsonaro.

"Estamos revogando os criminosos decretos de ampliação de acesso a armas e munições que tanta insegurança e tanto mal causaram às famílias brasileiras. O Brasil não quer e não precisa de armas na mão do povo. O Brasil precisa de segurança, o Brasil precisa de livro, de educação e de cultura para que a gente possa ser um país mais justo", disse.

Depois da posse, o novo presidente despachou para que a Controladoria-Geral da União (CGU) reavalie os sigilos de "cem anos" assinados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ao abordar o papel do SUS na pandemia, Lula também aproveitou para afirmar que pretende revogar o teto de gastos. "O SUS é, provavelmente, a mais democrática das instituições criadas pela Constituição de 88. Certamente por isso foi a mais perseguida desde então e foi também a mais prejudicada por uma estupidez chamada teto de gastos que haveremos de revogar."

Responsabilização

Lula abordou a pandemia de covid-19 que vitimou, oficialmente, quase 700 mil pessoas no país. Ele condenou o que chamou de "atitude criminosa" do governo Bolsonaro ao longo da crise e afirmou que as "responsabilidades por este genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar impunes."

"O período que se encerra foi marcado por uma das maiores tragédias da história: a pandemia de covid-19. Em nenhum outro país a quantidade de vítimas fatais foi tão alta proporcionalmente à população quanto no Brasil, um dos países mais preparados para enfrentar emergências sanitárias, graças à competência do nosso Sistema Único de Saúde. Este paradoxo só se explica pela atitude criminosa de um governo negacionista, obscurantista e insensível à vida. As responsabilidades por este genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar impunes."

Em outra fala, Lula afirmou que defende a "plena liberdade de expressão", mas disse que é preciso "responsabilização dos meios pelos quais o veneno do ódio e da mentira são inoculados", no que parece ter sido um recado direcionado para veículos de mídia de extrema direita e influenciadores que produzem fake news. "Este é um desafio civilizatório, da mesma forma que a superação das guerras, da crise climática, da fome e da desigualdade no planeta."

Lula afirmou que não carrega "nenhum ânimo de revanche contra os que tentaram subjugar a nação a seus desígnios pessoais e ideológicos", mas disse que "quem errou responderá por seus erros, com direito amplo de defesa, dentro do devido processo legal, no que parece ter sido um recado duplo para o bolsonarismo e a Lava Jato. "O mandato que recebemos, frente a adversários inspirados no fascismo, será defendido com os poderes que a Constituição confere à democracia", disse.

Pacificação

Lula pregou a pacificação do país em diversos momentos, mas também mandou recados para extremistas que se recusam a aceitar o resultado das urnas.

"A ninguém interessa um país em permanente pé de guerra, ou uma família vivendo em desarmonia. É hora de reatarmos os laços com amigos e familiares, rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas mentiras. O povo brasileiro rejeita a violência de uma pequena minoria radicalizada que se recusa a viver num regime democrático. Chega de ódio, fake news, armas e bombas. Nosso povo quer paz para trabalhar, estudar, cuidar da família e ser feliz. A disputa eleitoral acabou. Repito o que disse no meu pronunciamento após a vitória em 30 de outubro, sobre a necessidade de unir o nosso país. 'Não existem dois brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação.'"

Em outra etapa, Lula também reforçou a diferença da sua visão de mundo em relação ao bolsonarismo. "A liberdade que sempre defendemos é a de viver com dignidade, com pleno direito de expressão, manifestação e organização. A liberdade que eles pregam é a de oprimir o vulnerável, massacrar o oponente e impor a lei do mais forte acima das leis da civilização. O nome disso é barbárie."

"Ruínas”

Em seus discursos, Lula admitiu que assume num cenário de "ruínas" deixadas pelo governo anterior e enumerou ações do antecessor que desmontaram políticas públicas.

"O diagnóstico que recebemos do Gabinete de Transição de Governo é estarrecedor. Esvaziaram os recursos da Saúde. Desmontaram a Educação, a Cultura, Ciência e Tecnologia. Destruíram a proteção ao Meio Ambiente. Não deixaram recursos para a merenda escolar, a vacinação, a segurança pública, a proteção às florestas, a assistência social. Desorganizaram a governança da economia, dos financiamentos públicos, do apoio às empresas, aos empreendedores e ao comércio externo. Dilapidaram as estatais e os bancos públicos; entregaram o patrimônio nacional. Os recursos do país foram rapinados para saciar a cupidez dos rentistas e de acionistas privados das empresas públicas", disse.

"É sobre estas terríveis ruínas que assumo o compromisso de, junto com o povo brasileiro, reconstruir o país e fazer novamente um Brasil de todos e para todos."