Movimento foi iniciado por grupo internacional de artistas como reação à carnificina da Primeira Guerra Mundial. Tudo começou com eventos de estilo anárquico, promovidos no lendário Cabaret Voltaire, em Zurique.
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Hugo Ball, Tristan Tzara e Marcel Janco se encontraram em 5 de fevereiro de 1916 em Zurique com o ambicioso plano de provocar nada menos do que uma revolução artística. O Cabaret Voltaire, que haviam fundado naquela noite, era uma combinação de pub, teatro, galeria e clube noturno.
Ao longo daquele ano, eles organizaram eventos imprevisíveis, combinando caóticas performances, recitais de poesia e música. Uma apresentação filmada dá uma impressão do estilo anárquico que imperava no Cabaret Voltaire. Hugo Ball, o artista alemão pioneiro da poesia fonética, aparece no palco fantasiado como uma espécie de mestre-cuca espacial e recita um poema que começa com "Blago bung, fataka Bosso. Schampa wulla wussa..."
Para os não iniciados, tudo provavelmente parecia um hospício – e ainda assim era o início de um movimento de arte totalmente novo ou, melhor, uma antiarte, como seus fundadores a definiam. O nome do clube noturno dadaísta era uma homenagem ao autor do iluminismo francês Voltaire, que no século 18 já atacava o establishment, e é especialmente famoso por sua sátira filosófica Cândido ou O otimismo.
Cavalo de pau, linguagem de bebê, tônico capilar
Dois anos após o início da Primeira Guerra Mundial, horrorizados com o conflito sangrento, artistas de Colônia, Berlim, Nova York, Paris, Moscou e Budapeste se reuniram na neutra Zurique. Foi o movimento artístico mais internacional até então. Seus membros individualistas se uniram todos sob o desejo comum de fornecer uma reação artística ao absurdo da guerra.
De acordo com uma versão, o nome para o movimento anarquista "dada" foi encontrado por acaso em um dicionário francês-alemão, e significa "cavalo de pau". Outros dizem tratar-se simplesmente de uma onomatopeia para a fala de bebê. Numa coincidência que enfatiza o absurdo do grupo, Dada também era um tônico suíço contra queda de cabelo.
Após a guerra, o dadaísmo se transferiu de Zurique aos principais centros culturais do mundo. Tristan Tzara foi o principal promotor do movimento em Paris, acompanhado por André Breton. Kurt Schwitters criou sua própria interpretação do dadaísmo em Hannover, batizando-o de Merz.
Tendo obtido a permissão de Tzara para utilizar o nome, os dadaístas de Berlim lançaram em 1919 a revista Der Dada. Uma das figuras-chave do movimento berlinense, que atacava a Igreja e o Estado, foi o artista e autor austríaco Raoul Hausmann.
Marcel Duchamp mudou para sempre o significado da arte com seus ready mades. Hans Richter transpôs a nova estética em seus filmes experimentais. Sob a liderança de André Breton, houve um racha no grupo parisiense, dando início ao surrealismo e provocando a dissolução gradual do movimento dadaísta.
Em 2016, um século depois, vários museus comemoram o centenário do dadaísmo, particularmente em Zurique e no Museu Arp de Rolandseck, no estado alemão da Renânia-Palatinado.
Dadaísmo: a arte reage ao absurdo da guerra
Em 1916, artistas se rebelaram contra o establishment e a carnificina da Primeira Guerra Mundial. Assim surgia o movimento que celebrava o absurdo, através de performance, poesia e arte conceitual.
Foto: Gemeinfrei
Tudo começou num clube noturno
A revolução artística do dadaísmo teve início na neutra Suíça, refúgio de artistas europeus durante a Primeira Guerra Mundial. Foi lá que os dadaístas se reuniram em 5 de fevereiro de 1916, no Cabaret Voltaire, clube noturno fundado em Zurique pela cantora Emmy Hennings e o poeta Hugo Ball. Vestindo um traje cubista, Ball recita seu famoso poema absurdo "Jolifanto bambla ô falli bam ..."
Foto: Gemeinfrei
Arp, Tzara, Richter
Os artistas Hans Arp, Tristan Tzara e Hans Richter chegaram a Zurique durante a Primeira Guerra Mundial. Eles criticavam os massacres sem sentido do conflito através de suas próprias obras absurdas. Suas performances caóticas atacavam a burguesia e a Igreja.
O psicanalista e poeta alemão Richard Huelsenbeck também fugiu para Zurique e se tornou um dos membros fundadores do dadaísmo. Depois da guerra, Huelsenbeck se mudou para Berlim e, em 1920, publicou o "Dada Almanach", que incluía seu "Manifesto Dada." Nele, comparou sua famosa poesia simultaneísta a "jogar tudo numa confusão".
Foto: picture alliance/akg-images
Hannah Höch
Dadaístas se rebelaram contra interpretações tradicionais da arte. Eles eram inspirados por associações ilógicas encontradas em sonhos. As artes visuais também foram influenciadas pela introdução de novos materiais e a aceitação da imperfeição. A artista alemã Hannah Höch era especializada em colagens e montagens de fotos. Ela criou referências paradoxais, distorcendo a realidade.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Pilick
Marcel Duchamp
Ele chamava suas obras de "ready mades". Transformou um mictório enuma peça de museu, chamando-o, ironicamente, de "A fonte" e mostrou que uma roda sobre um banquinho pode ser considerada uma escultura. Duchamp também acrescentou um bigode a uma reprodução da Mona Lisa.
Foto: Getty Images/D. Kitwood
Kurt Schwitters
Ele se tornou uma estrela dadaísta solo em Hannover. Schwitters inventou seu próprio movimento artístico e o batizou de Merz. O nome surgiu através de uma montagem usando uma propaganda do banco alemão Kommerz- und Privatbank. Ele criou edifícios Merz, que eram obras de arte arquitetônicas em madeira, reboco e pintura. Também publicou revistas Merz, em que promovia sua poesia.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Hollemann
Francis Picabia
O artista francês participou de vários movimentos. Picabia começou como impressionista, passou para o cubismo, se tornou dadaísta e acabou com os surrealistas. Suas pinturas estão cheias de alusões a sonhos e desejos reprimidos, como neste trabalho, "Dresseur d'animaux", de 1923.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Bieri
Max Ernst
Em Colônia, Max Ernst se autodenominou Dadamax. Ele experimentava novas técnicas e materiais, integrando, por exemplo, objetos do cotidiano, como madeira e ferramentas, em uma obra de arte e chamando-a de "fruto de uma longa experiência". Também trabalhava suas experiências de guerra em colagens, usando imagens de pilotos e bombas, retiradas de reportagens ilustradas da frente de batalha.
Foto: picture-alliance/dpa
Man Ray
O americano é um dos representantes mais importantes do dadaísmo, mesmo que tenha passado depois para o surrealismo. Ray também criava associações inesperadas, sobretudo através de fotos. Esta transforma o corpo de uma musa enigmática num violoncelo. Os retratos que fez de seus colegas vanguardistas também o tornaram famoso.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Lux
Sophie Taeuber-Arp
Às vezes, ela preferia dança às artes visuais. A artista suíça usava máscaras quando se apresentava no Cabaret Voltaire. Suas pinturas, compostas de formas geométricas, não eram provocantes. Taeuber-Arp preferia fazer círculos, quadrados e retângulos brilharem alegremente. Ela se casou com o dadaísta Hans Arp em 1922.
Foto: VG Bild-Kunst
Hans Arp
O franco-alemão era também ativo em várias formas de arte. Foi pintor, escultor e poeta. Seus trabalhos consistiam em colagens e xilogravuras. Arp colaborava frequentemente com sua mulher. O casal tinha como objetivo criar uma arte impessoal, que não era realizada por apenas uma pessoa. Ele também colaborou com Max Ernst em Colônia.
Foto: VG Bild-Kunst, Bonn 2016
André Breton
O autor do "Manifesto surrealista" conheceu em Paris o artista romeno Tristan Tzara, que era então um dos principais promotores do movimento Dada. Os dois começaram a organizar eventos dadaístas juntos. Breton publicou textos escritos por dadaístas na revista "Littérature", ajudando a popularizar o movimento na capital francesa.
Foto: picture alliance/Heritage Images/Fine Art Images