Desenhista da Marvel e da DC Comics adapta história do único movimento separatista do período colonial que ultrapassou a fase conspiratória: "O povo não tem a menor ideia do que aconteceu", diz.
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Pouco antes de se tornar oficialmente independente de Portugal, o Brasil abrigou, durante 74 dias, uma pequena república libertária e abolicionista, muito diferente da monarquia absolutista vigente.
Único movimento separatista do período colonial que ultrapassou a fase conspiratória, a Revolução Pernambucana de 1817 é pouco conhecida entre o grande público. Mas isso pode, aos poucos, mudar. Desenhista da Marvel e da DC Comics, o pernambucano Thony Silas acaba de lançar A Noiva, uma história em quadrinhos sobre a revolta republicana, que está completando 200 anos.
Conhecido por desenhar super-heróis como Homem-Aranha, Batman, Super-Homem e Mulher Maravilha, Silas adaptou seu traço e sua paleta de cores para contar a história do amor proibido entre Maria Teodora, filha de um rico comerciante português, e Domingos Martins, um dos principais líderes da revolução. O casamento dos dois acabou sendo um dos momentos mais emblemáticos da revolução de 1817.
"Topei com a história por acaso durante um projeto de restauração de pontos históricos de Recife", conta Silas. "E, de imediato, a sensação que eu tive foi de uma frustração muito grande por não ter conhecido a história antes e ter podido produzir algo sobre ela já há muito tempo."
O roteiro, assinado por Eron Villar, é baseado no livro do jornalista Paulo Santos Oliveira, também pernambucano, A noiva da revolução, lançado há dez anos.
"Não é que a Revolução de 1817 não seja estudada por grandes historiadores; ela é. Mas o conhecimento ficou restrito à academia", diz Oliveira. "O povo não tem a menor ideia do que aconteceu."
E aconteceu muita coisa. Influenciados pelas ideias iluministas vindas da França, pela independência dos Estados Unidos e pressionados pelo governo absolutista português, que tinha se instalado no Brasil poucos anos antes, os pernambucanos derrubaram o poder local e instauraram o primeiro governo independente do país – que durou 74 dias.
Desafiando a tradição, Domingos Martins, logo nos primeiros dias da revolução, se casou com Maria Teodora, que era filha de um português – a mistura não era bem vista na época. Mas não foi só isso. A noiva apareceu na igreja sem os penteados altos e elaborados que a aristocracia usava então. Surgiu de cabelos cortados bem curtos, sem joia alguma, a exemplo das revolucionárias francesas. O casamento acabou virando um símbolo da revolução e foi comemorado pelo povo nas ruas.
A revolução, diz Oliveira, acabou influenciando a Revolta do Porto, em Portugal, em 1820, que forçou a volta de Dom João, contribuindo para a independência brasileira, em 1822.
"Vivemos uma crise de referência muito grande", afirma Silas. "Louvamos essa história de dominação, de uma independência que nos foi dada e não mostramos interesse, reverência por essa outra história, que mostra a luta pela liberdade. Então resolvi usar a minha arte para mostrar isso."
Curiosamente, a Inconfidência Mineira, um movimento mais conservador, e seu principal líder, Tiradentes, são muito mais conhecidos dos brasileiros.
"Temos que entender que quem escreve a história é quem tem o poder", resume a historiadora Socorro Ferraz, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). "Era uma revolução republicana, uma tentativa de deixar o Império Português. E ela foi totalmente dizimada, os pernambucanos perderam, não estavam preparados militarmente e não receberam o apoio que esperavam. O restante do Brasil queria a independência, mas dentro de uma solução bem mais conservadora, de um império brasileiro com Dom Pedro."
Por outro lado, diz Socorro, embora tenha durado pouco tempo, a Revolução Pernambucana deixou uma semente importante: "Ela foi responsável pelo início da desagregação do bloco de poder que sustentava o Império Português."
A revolução foi dizimada de forma sangrenta, deixando cerca de 1.800 mortos e mais de 800 degredados. Domingos Martins foi preso em combate e fuzilado.
Dez coroas reais europeias
Desde a Antiguidade, a coroa tem sido um dos símbolos de poder e autoridade de reis e imperadores. Veja aqui exemplos dessas insígnias ao longo da história na Europa. Uma delas foi até mesmo confeccionada no Brasil.
Foto: gemeinfrei
Coroa Real Portuguesa
O Brasil é o único país das Américas onde um rei europeu foi elevado ao trono. Em 6 de fevereiro de 1818, Dom João 6° foi aclamado no Rio de Janeiro soberano do Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves. Feita na capital fluminense, a coroa portuguesa é composta por oito arcos fechados e foi executada exclusivamente em ouro. Ela foi usada pelos reis de Portugal até o fim da monarquia, em 1910.
Foto: gemeinfrei
De diadema a mitra
Inicialmente, as coroas se pareciam com diademas, como a coroa de louros na Antiguidade (foto). Depois, no Império Bizantino, elas se tornaram uma cobertura de cabeça com adornos pendentes, assumindo posteriormente a forma de mitra, o que, de certa forma, é válido até hoje. Com este símbolo sacerdotal do Velho Testamento, os soberanos transmitiam a ideia da dignidade imperial como dádiva divina.
Foto: public domain
Coroa do Sacro Império Romano-Germânico
Confeccionada entre 960 e 1000, esta insígnia real foi usada até o início do século 19 pelos monarcas do Sacro Império Romano-Germânico. Diferente de outras coroas, ela é octogonal, pois consta que somente oito pessoas sobreviveram ao dilúvio bíblico. Além disso, ela tem 240 pérolas e 120 pedras preciosas: cifras divisíveis por 12 para representar os 12 apóstolos e as 12 tribos de Israel.
Além da cruz inclinada que a encima, esta insígnia do antigo Reino da Hungria é uma das poucas coroas que ainda guardam adornos pendentes. Conhecida como Coroa de Santo Estêvão, sua origem remonta ao século 12. Durante sua longa existência, ela já foi roubada, enterrada e até mesmo perdida. Depois da Segunda Guerra, ela foi levada para os EUA, sendo devolvida aos húngaros definitivamente em 1978.
Foto: Public Domain
Coroa da Boêmia
Esta insígnia real foi executada em 1346 para a coroação do rei da Boêmia, região que hoje faz parte da República Tcheca. Toda em ouro, ela tem forma de diadema com quatro flores-de-lis verticais, conectadas por arcos transversais. A cruz no topo conteria um espinho da coroa de Jesus, segundo a inscrição latina nela gravada: "Hic est spina corona Domini" (aqui está um espinho da coroa do Senhor).
Foto: picture alliance/dpa/M. Dolezal
Joias dinamarquesas
Estas duas coroas pertencem às insígnias do monarca dinamarquês. Desde cerca de 1680, tais joias são guardadas no Palácio de Rosenborg, em Copenhague. Na foto, vê-se em primeiro plano a chamada Coroa de Christian 5°, executada por volta de 1670. Atrás dela, está a coroa das rainhas. Desde meados do século 19, elas são usadas somente em cerimônias de sepultamento, sendo colocadas sobre o caixão.
Foto: picture alliance/Scanpix Denmark
Coroa Imperial da Rússia
A coroa dos czares foi confeccionada para a entronização de Catarina 2ª. Mas ficou pronta tarde demais, sendo o czar Paulo 1° o primeiro a usá-la, em 1796. Ela foi utilizada pelos soberanos russos até o fim da monarquia, em 1917. Feita em ouro e prata, a insígnia contém pérolas e 4.936 diamantes, espalhados em forma de mitra. No topo, ela é encimada por um espinélio vermelho de 398,72 quilates.
Foto: picture alliance/dpa/J. Lampen
Coroa de Napoleão
Feita em prata dourada e bronze, esta insígnia foi executada em 1804 para a entronização de Napoleão Bonaparte, que foi realizada na Catedral de Notre Dame. Durante quase toda a cerimônia, no entanto, o imperador preferiu usar uma coroa de louros de ouro, como os antigos romanos. A coroa da foto foi utilizada somente para a sua autocoroação, sendo logo recolocada sobre o altar.
Foto: picture alliance/akg-images
Coroa holandesa
Em comparação com outras monarquias europeias, as joias da Casa Real holandesa são relativamente novas, tendo sido executadas em 1840, sob encomenda do rei Willem 2°. A coroa (foto) é feita de prata dourada e não contêm nenhum diamante ou pérola de verdade. Os reis holandeses optam por não usá-la: junto ao cetro e ao orbe, ela é deixada sobre uma mesa durante a cerimônia de juramento do monarca.
Foto: picture alliance/dpa/P. van Katwijk
Coroa Imperial Britânica
As joias da Casa Real britânica contêm a mais preciosa coleção de brilhantes do mundo. Entre eles está o famoso Cullinan 2°, que adorna a coroa usada por Elizabeth 2ª (foto). Essa insígnia imperial possui 2.868 diamantes, 273 pérolas, 17 safiras, 11 esmeraldas e cinco rubis. Ela foi confeccionada para a coroação de George 6°, em 1937, e modificada para a entronização da rainha britânica, em 1953.