Em cerimônia com a presença de parentes, restos mortais do lendário rei são sepultados como convém a um monarca britânico. O esqueleto fora encontrado em 2012 sob o estacionamento do conselho municipal de Leicester.
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O caixão contendo os restos mortais do monarca Ricardo 3º, morto 530 anos atrás, foi reenterrado, nesta quinta-feira (26/03), na cidade inglesa de Leicester, num culto supervisionado pelo arcebispo de Canterbury, Justin Welby. "Estamos devolvendo os ossos de Vosso servo Ricardo ao túmulo", disse Welby numa oração.
O esqueleto foi amortalhado em lã e linho, selado dentro de um ossuário de chumbo, e então depositado num caixão de carvalho feito por Michael Ibsen, um parente canadense do monarca. "Ele está sendo finalmente enterrado da maneira como deveria ter sido feito, independentemente da sua reputação", disse Ibsen.
Milhares de espectadores se reuniram para assistir a cerimônia em telas instaladas nas proximidades da Catedral de Leicester. Muitos portavam rosas brancas, símbolo da Casa de York, a que pertencia Ricardo 3º. No domingo, cerca de 35 mil pessoas haviam acompanhado a processão fúnebre, em que o caixão foi levado até a catedral numa charrete puxada por cavalos.
Morte indigna
A rainha do Reino Unido Elizabeth 2ª enviou uma mensagem à cidade, dizendo que Ricardo 3º agora poderia "descansar em paz na cidade de Leicester, no coração da Inglaterra". Ele o descreveu como "um rei que viveu momentos turbulentos e foi sustentado por sua fé cristã".
À cerimônia compareceram uma nora da rainha, a condessa de Wessex Sophie, acompanhada de seu primo, o príncipe Ricardo, patrono da Sociedade Ricardo 3º e parente do monarca. Os parentes vivos mais próximos de Ricardo 3º, todos descendentes diretos de sua irmã mais velha, Anne de York, também estavam presentes.
Depois de os soldados baixarem o caixão no túmulo, o ator Benedict Cumberbatch, que interpretará o monarca numa série televisiva, leu um poema escrito pela poeta laureada Carol Ann Duffy.
Imortalizado por William Shakespeare em um de seus dramas históricos, Ricardo 3º foi o último rei britânico dos York. Ele foi morto em 1485 durante a Batalha de Bosworth, num dos vários conflitos da chamada Guerra das Rosas, na qual as Casas de York e Lancaster se combateram pelo poder durante décadas.
O cadáver do rei derrotado foi exposto nu numa estalagem e enterrado sem cerimônias fúnebres num mosteiro franciscano. Na época, a coroa passou para a Casa dos Tudors, que até hoje rege o Reino Unido.
Em 2012, pesquisadores encontraram um esqueleto sob o estacionamento do conselho municipal de Leicester. Exames de DNA confirmaram que os restos mortais pertenciam a Ricardo 3º.
PV/afp/rtr/dpa
Ricardo 3º: repouso eterno de um monarca
Durante 500 anos o paradeiro dos restos mortais do rei inglês imortalizado por Shakespeare foi um mistério. Em 2012, o achado sensacional sob um estacionamento em Leicester. Agora Ricardo 3º jaz na catedral da cidade.
Foto: Reuters/D. Staples
Leicester festeja
Uma cidade em júbilo por seu rei "reencontrado": Leicester homenageia Ricardo 3º com cinco dias de festividades. Milhares acorreram às ruas, para a procissão que levou até a catedral municipal o caixão com os restos mortais do soberano inglês morto em 1485.
Foto: Reuters/S. Plunkett
Sob um estacionamento
Durante mais de cinco séculos não se sabia o paradeiro do corpo de Ricardo 3º (1452-1485). Em 2012, pesquisadores encontraram um esqueleto sob o estacionamento do conselho municipal da cidadezinha inglesa de Leicester. O exame de DNA confirmou: os ossos pertenciam a ninguém menos que o lendário monarca imortalizado por Shakespeare.
Foto: Getty Images/AFP/A. Cowie
Enterro desonroso
Os restos mortais não se encontravam num sarcófago, nem mesmo envolvidos por uma mortalha. Isso significaria que o corpo de um rei consagrado teria sido simplesmente jogado numa vala. Impensável?
Foto: REUTERS/University of Leicester
Destino de perdedor
Nem tanto. Afinal, Ricardo foi o perdedor da Guerra das Rosas, pela sucessão ao trono da Inglaterra. Nela, as casas de Lancaster e York se lançaram em décadas de luta pelo poder. O rei só regeu por dois anos. Após sua morte, na Batalha de Bosworth, em 22 de agosto de 1485, seu cadáver foi desonrado, exposto nu em uma estalagem e enterrado sem cerimônias num mosteiro franciscano.
Foto: Hulton Archive/Getty Images
Depois da morte, a difamação
Durante séculos, Ricardo 3º foi visto como um monstro coroado. Também graças a William Shakespeare: 100 anos após a morte do rei, o dramaturgo inglês o descrevia como usurpador inescrupuloso e intrigante, que ao fim estava pronto para trocar seu reino por um cavalo. No drama histórico ele é apresentado, além disso, como feio e deformado: para a época, clara expressão de um caráter maligno.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Filaktou
O vencedor define a história
Tal distorção histórica é facilmente compreensível. Desde a morte de Ricardo 3º a dinastia dos Tudors regia a Inglaterra. Para eles era interessante apresentar seu finado rival da forma mais negativa possível. Quando Shakespeare escreveu seu "Ricardo 3º", quem ocupava o trono era Elisabeth 1ª, neta de Henry Tudor, o vencedor da Guerra das Rosas que entrou para a história como Henrique 7º (foto).
Esclarecido, em vez de vilão
Neste meio tempo, já se reviu a concepção de Ricardo 3º como arquivilão da história britânica. Segundo diversos historiadores, ele era até bastante esclarecido e aberto, para sua época. Por exemplo, desenvolveu uma forma precursora de assistência legal. O rei também não era especialmente pequeno nem tinha corcunda, embora sofresse de escoliose.
Foto: picture-alliance/dpa/University of Leicester
Ascensão sem escrúpulos
Por outro lado, está confirmado que, para alcançar o poder, Ricardo 3º não media escrúpulos diante de seus adversários – mesmo dentro da própria família. Entre suas vítimas constam o próprio irmão e os sobrinhos. Estes eram ainda crianças ao serem confinados na Torre de Londres.
Foto: public domain
Honras tardias
Passados 530 anos desde a morte do soberano, soldados uniformizados levam o féretro de Ricardo 3º para o antigo campo de batalha de Bosworth. Lá ele é homenageado num breve culto religioso, antes de ser levado para a catedral de Leicester.
Foto: Reuters/E. Keogh
Rosas brancas para um York
Diante da catedral, uma estátua e uma placa comemorativa relembram o último rei inglês da Casa de York. Admiradores de Ricardo 3º depositaram flores brancas, símbolo daquela dinastia nobre.
Foto: Reuters/S. Plunkett
Despedida de um soberano
Depois de um réquiem para o "rei reencontrado", os restos mortais do controvertido nobre jazem agora na catedral, no centro de Leicester. Lá, ele finalmente encontra o repouso eterno em local consagrado, como convém a um monarca inglês.