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Richard Wagner e o sexo frágil

30 de dezembro de 2012

Não era fácil ser uma mulher na vida de Wagner. Afinal, além de inconstante, o gênio era um grande sedutor. Especialistas da Staatsoper de Berlim pesquisaram os traços que elas deixaram em sua obra e biografia.

Rheingold_W. Koch c) WIlfried Hösl IMG_9019.jpg Das Copyright liegt bei unserem Fotografen Wilfried Hösl zugeliefert von: BAYERISCHE STAATSOPER Melanie Lechmann Pressebüro
Andreas Kriegenburgs "Rheingold" an der Bayerischen StaatsoperFoto: Wilfried Hösl

"A música é uma mulher", constatou Richard Wagner em seu escrito Ópera e drama. Seu organismo "apenas dá à luz, mas não gera; a força geratriz está fora dele". Só quando fecundada pelo pensamento do poeta, a música produz a "verdadeira e viva melodia", afirmava o compositor e dramaturgo.

Para Wagner, arte e vida privada sempre estiveram intimamente entrelaçadas. Por isso, não é de admirar que a posteridade veja não só suas personagens femininas, mas também as mulheres reais em sua vida, como abnegadas servidoras do homem. Por amor ao maestro, elas teriam posto de lado os próprios interesses. No entanto, num simpósio da Staatsoper de Berlim, especialistas wagnerianos apresentaram facetas completamente diferentes.

Minna, a primeira

Minna Planer nasceu na região do Erzgebirge e na juventude foi uma atriz de grande êxito. O compositor esteve casado com ela durante 30 anos. Uma relação com muitos altos e baixos, abalada por aventuras amorosas e dificuldades financeiras crônicas, que pioravam cada vez mais devido ao estilo de vida opulento de Wagner. Após o casamento em 1836, na cidade de Königsberg, Minna seguiu com o marido para Riga, de onde, três anos mais tarde, partiram para Londres e Paris, fugindo dos credores.

A imagem que se impôs de Minna foi a de uma mulher firme e maternal, totalmente dedicada a Wagner, mas que não conseguia acompanhá-lo intelectualmente. A jornalista de música Dorothee Riemer, porém, observa que deve ter havido um intercâmbio mais intenso entre os dois: mais de 400 cartas trocadas entre os cônjuges chegaram até nós.

Minna Wagner e o cãozinho Peps (Aquarela de Clementine Stockar-Escher, 1853)Foto: cc-by-sa/JosefLehmkuhl

"Wagner considerou mais tarde seu primeiro casamento como um engano de juventude, mas afirmou também que não poderia viver sem Minna", explica Riemer. "Afinal de contas, ele concebeu ao lado dela todas as óperas, exceto Parsifal."

Ao que tudo indica, Wagner não teve a menor consideração pela forte necessidade de segurança material de Minna. Ao participar em 1849 da Revolta de Maio em Dresden, ele perdeu o invejável cargo de mestre de capela da Saxônia, passando a ser procurado pela polícia. Em Zurique, onde encontrou asilo, o casamento foi submetido a mais uma prova de fogo.

Mathilde, a musa

Em Mathilde Wesendonck, a esposa de um rico mecenas, Richard Wagner encontrou uma alma gêmea e fonte de inspiração para o seu trabalho. "A Musa de Wagner teve uma intensa participação na criação de O Ouro do Reno", explica Detlef Giese, assistente teórico da Staatsoper de Berlim.

"Além disso, ele musicou cinco poemas escritos por ela, hoje conhecidos como Wesendonck Lieder." O compositor dedicou a Mathilde o prelúdio de A Valquíria, e inspirou-se no próprio triângulo amoroso com Minna e Mathilde para a ópera Tristão e Isolda.

Mathilde Wesendonck (óleo de Karl Ferdinand, Filho, 1850)

A relação provavelmente apenas platônica entre ele e a autora, que também tocava piano, tornou-se tão estreita que acabou separando o casal Wagner. Quando Minna interceptou uma carta eufórica dedicada a Mathilde, Wagner se viu forçado a fugir novamente, dessa vez para Veneza. Apesar de todas as escapadas, Otto Wesendonck seguiu financiando o compositor e apoiou seu projeto de construir um teatro de ópera na cidade de Bayreuth.

Após o fracasso das relações com Minna e Mathilde, Wagner aproximou-se de Cosima von Bülow, filha ilegítima do pianista e compositor Franz Liszt e a condessa francesa Marie d'Agoult. Segundo aponta seu biógrafo Oliver Hilmes, Cosima, na época ainda casada com o regente Hans von Bülow, tornou-se amante e empresária de Wagner.

Foram anos de prosperidade financeira, graças ao generoso apoio de Ludwig 2º, rei da Baviera. Quando os dois finalmente celebraram matrimônio em 1870, já tinham três filhos juntos: Isolde, Eva e Siegfried. Com este, Cosima fundaria mais tarde a dinastia de Bayreuth.

Cosima, senhora da Colina Verde

Hilmes descreve a segunda esposa de Wagner como uma pessoa dominante e fria que, por exemplo, exigiu impiedosamente dos proprietários a devolução dos manuscritos presenteados pelo compositor. Beatrix Borchardt, professora da Escola Superior de Música e Teatro em Hamburgo, compara Cosima a Clara Schumann: "Ambas conseguiram estabelecer um perfil público próprio e deixaram claro o quanto participaram da obra dos maridos", afirma.

Cosima e Richard Wagner

Após a morte de Richard Wagner em 1883, Cosima assumiu a direção do festival na Colina Verde e fez de Bayreuth uma atração para a alta sociedade. Wagner não havia deixado nenhum testamento ou qualquer indicação sobre o futuro do festival.

Sua viúva transformou o experimento numa instituição e estabeleceu os alicerces para o culto wagneriano, colocando sua vida totalmente a serviço da obra musical do esposo. Voltada para o poder e apta a agir de forma independente, Cosima sacrificou com toda consequência a própria identidade, a fim de preservar a memória pública de um gênio criador.

Autoria: Corina Kolbe (sc)
Revisão: Augusto Valente

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