Ricos emitem o dobro de CO2 que os mais pobres, diz estudo
21 de setembro de 2020
Entre 1990 e 2015, o 1% mais rico do mundo foi responsável por 15% das emissões globais, segundo relatório da Oxfam. Viagens de avião e veículos SUV estão entre os grandes vilões do clima, alerta a ONG.
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O 1% mais rico da população mundial é responsável por mais que o dobro das emissões de CO2 produzidas pela metade mais pobre, mostra um estudo divulgado nesta segunda-feira (21/09) pela ONG internacional Oxfam.
O relatório se concentra em dados coletados entre 1990 e 2015, período em que as emissões dobraram em todo o mundo. O 1% mais rico (63 milhões de pessoas) foi responsável por 15% das emissões globais no período – enquanto a metade mais pobre da população global emitiu apenas 7%. Os 10% mais ricos (630 milhões de pessoas), por sua vez, foram responsáveis por mais da metade (52%) das emissões durante esse período.
De acordo com a pesquisa, conduzida em parceira com o Instituto Ambiental de Estocolmo, o tráfego é um dos principais vilões do clima, em especial as viagens de avião. Entre 2010 e 2018, a organização aponta que os veículos SUV foram os segundos maiores impulsionadores das emissões.
O relatório foi divulgado às vésperas da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, que começa nesta terça-feira. Um dos temas a ser discutido são as mudanças climáticas
O estudo mostra que, para alcançar a meta estabelecida pelo Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, os 10% mais ricos teriam que reduzir suas emissões cerca de dez vezes até 2030.
Além disso, segundo o relatório, para manter as mudanças climáticas sob controle, será necessário ajudar os países mais pobres a se desenvolver de forma limpa e implementar medidas rígidas para conter o consumo excessivo dos ricos.
Para Tim Gore, chefe da política climática da Oxfam e principal autor do relatório, a ação voluntária de indivíduos não é suficiente para conter as emissões e o aquecimento global, e é necessário que os governos impulsionem mudanças.
Na Alemanha, por exemplo, os 10% mais ricos (8,3 milhões de pessoas) foram responsáveis por 26% das emissões de CO2 no país no período examinado pela Oxfam. A metade mais pobre da população, que é cinco vezes maior (41,5 milhões), emitiu quase a mesma quantidade: 29%.
Na semana passada, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu que a União Europeiadiminua as emissões de gases do efeito estufa em 55% até 2030 em relação aos níveis de 1990. A meta atual é 40%. Em discurso aos eurodeputados, ela afirmou que a meta é "demais para alguns e muito pouco para outros", mas alcançável.
No relatório, a Oxfam destacou que, "apesar das fortes quedas nas emissões de CO2 em 2020 ligadas à pandemia covid-19, a crise climática - impulsionada pela acumulação de emissões na atmosfera ao longo do tempo - continuou a se agravar".
LE/afp,dpa,rtr
Sete efeitos surpreendentes das mudanças climáticas
Veja algumas consequências inesperadas das mudanças climáticas para a vida na Terra – de perturbações do sono à falta de violinos e o sexo das tartarugas.
Foto: picture-alliance/dpa
Cuidado: Boom de águas-vivas!
Embora haja uma combinação de fatores por trás das enxurradas de águas-vivas que chegam a paraísos de férias como a costa do Mediterrâneo, a mudança climática também é parcialmente responsável. Temperaturas do mar mais altas estão abrindo novas áreas para elas se reproduzirem, além de aumentar a disponibilidade de seu alimento favorito, o plâncton.
Foto: picture-alliance/dpa
A madeira perfeita está sumindo
Prezado pela qualidade sonora, um violino Stradivarius original pode valer milhões de dólares. Mas eventos climáticos extremos, como tempestades violentas, estão matando milhões de árvores e ameaçando a famosa floresta de Paneveggio, no norte da Itália. Replantar árvores não vai ajudar muito no curto prazo: um abeto precisa de pelo menos 150 anos antes de se transformar num violino.
Foto: Angelo van Schaik
Pode esquecer o sono
Em noites muito quentes, dorme-se mal, especialmente nas grandes cidades. Em 2050 as metrópoles europeias poderão ter temperaturas em média 3,5ºC mais altas no verão. Isso não só afeta o sono, mas também o humor, a produtividade e a saúde mental. A única forma de escapar é mudar-se para uma cidade menor, onde as noites são mais frescas, pois há menos prédios e mais vegetação.
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Coitado do nariz
Má notícia para quem sofre de alergia: o aquecimento global faz a primavera chegar mais cedo. Com um período sem geadas mais longo, as plantas têm mais tempo para crescer, florescer e produzir pólen. Portanto, o pólen espalha pelo ar muito mais cedo, o que amplia o tempo de sofrimento dos alérgicos. Será o século das máscaras antipoluição e alergias?
Foto: picture-alliance/dpa/K.-J. Hildenbrand
Bactérias e mosquitos
O calor não só faz suar, mas também afeta a saúde. No fim do século, três quartos da população mundial estarão expostos a ondas de calor mortais. O aumento das temperaturas implica mais doenças diarreicas, pois as bactérias se multiplicam melhor nos alimentos e água tépidos. O número de mosquitos provavelmente também vai aumentar, e com eles a propagação de doenças como a malária.
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Casas estão ruindo
Os solos da região do Polo Norte estão descongelando cada vez mais nos meses de verão. As consequências são dramáticas em nível local e mundial. As temperaturas mais altas tornam os pisos instáveis, as casas e as estradas racham e há muito mais insetos. Além disso, se o permafrost derreter, libertará gases CO2 e metano que podem agravar o aquecimento global. Um círculo vicioso.
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O calor e o sexo das tartarugas
A temperatura influencia o sexo de várias espécies. Para as tartarugas marinhas, o calor da areia onde os ovos são incubados determina o sexo do filhote. Temperaturas baixas beneficiam os machos, enquanto fêmeas se desenvolvem melhor nas mais altas. Pesquisadores descobriram que mais de 99% das tartarugas recém-nascidas no norte da Austrália são fêmeas, o que dificulta a sobrevivência da espécie.