Cerimônia reúne autoridades e representantes da comunidade judaica, que lembram importância de "vigiar o passado". Local receberá exposições nacionais e internacionais sobre direitos humanos, tolerância e humanismo.
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Após quase dois anos em construção, um monumento em memória às vítimas do Holocausto foi inaugurado neste domingo (13/12) no Rio de Janeiro.
O espaço, batizado de Memorial às Vítimas do Holocausto Gerson Bergher e construído no Morro do Pasmado, em Botafogo, com vista para a Baía de Guanabara, é fruto de uma parceria entre a prefeitura carioca, a Associação Cultural Memorial do Holocausto e a iniciativa privada.
O evento de inauguração reuniu diversas autoridades, como o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, o prefeito Marcelo Crivella e o governador em exercício Cláudio Castro, bem como representantes da comunidade judaica.
Nos discursos, foram lembrados os mais de 6 milhões de judeus mortos sob o regime nazista (1933-1945), bem como a importância de recordar atrocidades do passado.
"Nesse memorial, cada visitante vai testemunhar e sentir na alma o sofrimento dos inocentes e aprender uma lição de que na vida é preciso vigiar o passado, porque ele sempre volta, se a gente se descuidar. Aqui se construirá no coração de cada visitante um sentimento de repúdio à violência e à covardia", declarou Crivella, a poucos dias do fim de seu mandato.
O ministro Fabio Wajngarten, chefe da Secretaria de Comunicação do governo federal, representou o presidente Jair Bolsonaro na cerimônia. Ele lembrou seus antepassados judeus, que foram aprisionados pelos nazistas.
"Não podemos esquecer as atrocidades do Holocausto, neto que sou de sobreviventes do Holocausto. A minha avó tinha número tatuado no braço. O que a minha avó contou eu nunca vou esquecer. Com muita felicidade, participo do governo mais amigo do Estado de Israel", disse Wajngarten, referindo-se à aproximação do governo Bolsonaro com os israelenses.
Por sua vez, o ministro Luiz Fux destacou que não se pode ficar indiferente à dor do próximo, citando o escritor Elie Wiesel, sobrevivente do Holocausto e ganhador do Prêmio Nobel da Paz.
"O maior perigo da humanidade é a indiferença. Tudo isso ocorreu por força da indiferença. E não relembrar o Holocausto significa matar essas pessoas novamente. Esta obra representa uma memória, para que nós não padeçamos desse vício da indiferença. E, pelo contrário, continuemos a manifestar a nossa indignação", afirmou o presidente do Supremo.
Já o governador do Rio defendeu a tolerância e o respeito, afirmando que o mundo inteiro vive "essa questão da polarização", que "traz o ódio" e "já levou a sociedade a atos terríveis como o Holocausto". "Este espaço mostra que a gente tem que olhar para trás e aprender a caminhar novamente no sentido da tolerância e da paz, mesmo discordando."
O embaixador de Israel no Brasil, Yossi Avraham Shelley, reforçou que memoriais ao Holocausto são necessários para que as novas gerações não esqueçam os crimes que ocorreram no passado.
"A importância desta obra é para que as pessoas no Brasil e no mundo não esqueçam a tragédia desse momento obscuro que aconteceu na Alemanha nazista", declarou. "Quando o tempo passa, as pessoas esquecem. As crianças quase já não sabem nada disso. Mas este memorial vai lembrar uma coisa: Holocausto nunca mais."
O memorial possui um monumento de quase 20 metros de altura, dividido em dez partes, representando os Dez Mandamentos. Em sua base, foi escrita a frase: "Não matarás." No total, a estrutura tem 1.624 metros quadrados, com um grande espaço no subsolo dedicada à memória do Holocausto, com área para exposições.
O futuro museu oferecerá, a partir de 2021, programação educacional aos alunos das redes pública e privada. O espaço também receberá exposições nacionais e internacionais com temas que dizem respeito à defesa dos direitos humanos, à tolerância e ao humanismo.
Ele funcionará em cooperação com outras grandes instituições do gênero, como os memoriais de Jerusalém, Washington e a Casa Anne Frank, em Amsterdã.
EK/abr/ots
Dez filmes sobre o Holocausto
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
Foto: picture-alliance
Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.