Até a última semana, desconfiança dominava a cidade olímpica, em meio à grave crise política e econômica, aos problemas de segurança e às obras intermináveis. Mas retirada dos tapumes e chegada de turistas mudam o clima.
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Orla de Copacabana, perto da abertura oficial dos Jogos Olímpicos. Uma brisa quente sopra do mar, e o sol banha turistas e cariocas que ocupam a areia da praia em pleno inverno – mais turistas do que moradores, no último dia de trabalho antes de um feriado atípico para muita gente no Rio de Janeiro.
Os sotaques das mais diferentes partes do Brasil entregam os visitantes, bem como as diversas línguas estrangeiras. Bandeiras de vários países tremulam em homenagem aos Jogos, e o movimento é grande na loja oficial de souvenirs olímpicos instalada na areia. O logo da Rio 2016 está por toda parte, e o clima geral é de expectativa para o início do maior evento esportivo do planeta.
“Eu estava bem pessimista, mas agora, vendo os atletas e os visitantes chegarem, comecei a ficar emocionada”, conta a dentista carioca Elisa Martins, de 38 anos, que caminhava no calçadão. “Acho que, no fim das contas, vai dar tudo certo; torço para isso, pelo menos.”
No metrô, a decoração é toda alusiva aos Jogos, tanto nas estações, quanto nos trens. Atletas olímpicos do Brasil gravaram a chamada para as estações, e as sinalizações para embarque e desembarque, surpreendendo positivamente os viajantes.
O clima de expectativa se repete na Praça Mauá, ou Porto Maravilha, como a rebatizou o prefeito Eduardo Paes, com a montagem de food-trucks e diversas barracas para a venda de bebidas. O movimento é intenso no Museu de Arte do Rio, onde já há fila para ver o Abaporu, de Tarsila do Amaral, principal estrela da exposição de arte nacional inaugurada esta semana especialmente para os Jogos. Do outro lado, no futurista Museu do Amanhã, também há filas.
“Cheguei antes justamente para ver um pouco da cidade, conhecer os museus”, conta o americano Erol Gabronski, de 33 anos, aguardando na fila do Museu do Amanhã. “Até agora estou achando tudo lindo.”
A animação marcou também os dois primeiros dias de funcionamento da Casa da Suíça, na Lagoa, a primeira das casas temáticas dos países a abrir as portas. Diante do belo cenário natural da Lagoa Rodrigo de Freitas, muitas crianças já de férias se divertiam nas atrações da casa.
O pessimismo era generalizado até a última semana, com a grave crise política e econômica, os problemas da segurança pública e as obras intermináveis por toda a cidade. Sem falar da epidemia de zika, na poluição da Baía de Guanabara e das ameaças terroristas. Para piorar ainda mais, os problemas de infraestrutura presentes nas acomodações dos atletas geraram insatisfação e reclamações de várias delegações.
A política e a economia seguem em crise, claro. Obviamente o problema da violência policial e do desmonte das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não foram resolvidos. Mas o esquema especial de segurança montado para os Jogos – com policiamento ostensivo de militares fortemente armados – e a retirada dos tapumes que há tempos tornavam a cidade mais feia contribuíram para uma melhoria do clima desde o início da semana passada. Por fim, a chegada maciça dos turistas nos últimos dois dias trouxe alguma alegria de volta para a cidade.
Segundo o governo, a expectativa é que, durante os Jogos, a cidade receba pelo menos 500 mil pessoas – um terço delas estrangeiras. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hoteis do Rio de Janeiro, até a abertura oficial dos Jogos, nesta sexta, a ocupação da rede hoteleira, que conta com 60 mil quartos, deve chegar a 93%. Os principais hotéis da orla já estão completamente lotados. O site Airbnb, de hospedagem em residências, confirma a reserva de mais de 55 mil pessoas para o período dos Jogos.
“O movimento aumentou muito, o restaurante está cheio de gringos”, confirma Verônica Oliveira, garçonete de um café em Copacabana. “Já estou praticamente falando inglês”.
A turista canadense Rachel Johanssen, de 27 anos, que compra dois cafés para viagem, confirma a boa vontade dos cariocas:
“Quase ninguém fala inglês, mas todo mundo tem boa vontade”, diz. “Eu sei que o país tem problemas, mas eu estou gostando muito, não tenho do que reclamar.”
Momentos inesquecíveis nas aberturas de Olimpíadas
As cerimônias de abertura de Jogos Olímpicos são sempre acompanhadas de suspense ou efeitos especiais surpreendentes, como Muhammad Ali acendendo a pira olímpica ou uma sósia da rainha Elizabeth descendo de paraquedas.
Foto: dapd
1896: primeiros Jogos da Era Moderna
Os Jogos Olímpicos da Antiguidade aconteceram de 776 a.C. até 393, quando o imperador Teodósio os proibiu por considerá-los pagãos. Eles ressurgiram por iniciativa do francês Pierre de Coubertin. De 6 a 15 de abril de 1896, se realizaram pela primeira vez os Jogos Olímpicos da Era Moderna. Eles foram abertos em Atenas pelo então rei George da Grécia, e neles soou pela primeira vez o Hino Olímpico.
Foto: picture-alliance/dpa
1920: Bandeira e juramento olímpicos
Dois anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, os Jogos foram realizados na Antuérpia. Pela primeira vez, foi içada a bandeira olímpica, concebida em 1913. As seis cores dos anéis – azul, amarelo, preto, verde e vermelho – podem ser encontradas em bandeiras nacionais. Os anéis representam os continentes habitados do planeta. Pela primeira vez, atletas fizeram o juramento olímpico.
Foto: picture-alliance/Xinhua
1928: Amsterdã e a ordem do desfile
A maior parte do cerimonial de hoje em dia já foi adotada em Amsterdã em 1928. Pela primeira vez, atletas gregos abriram o desfile, sendo seguidos pelas delegações dos demais países, na ordem alfabética de acordo com o nome no idioma do país-sede, cuja delegação é a última a desfilar.
Foto: Getty Images/Central Press
1936: primeiro revezamento da tocha
Em 1936, aconteceu pela primeira vez o revezamento da tocha olímpica, de Atenas até Berlim, onde foi acesa a pira olímpica. Cerca de 3 mil atletas participaram da corrida. A pira olímpica foi acesa pelo atleta alemão Fritz Schilgen (foto). Os Jogos Olímpicos de Berlim foram usados como instrumento de propaganda do regime nazista.
Foto: picture-alliance/akg-images
1964: homenagem a Hiroshima
Yoshinori Sakai nasceu em 6 de agosto de 1945, exatamente no dia do lançamento da bomba atômica sobre a cidade japonesa. Na abertura dos primeiros Jogos na Ásia, em 1964, o rapaz de 19 anos carregou a tocha olímpica para o estádio em Tóquio. Um momento inesquecível, que virou um símbolo da paz mundial.
Foto: Getty Images
1980: boicote em Moscou
A tensão durante a Guerra Fria ficou evidente nos Jogos em Moscou, em 1980. Em vez da bandeira de seu país, o presidente do comitê olímpico britânico, Dick Palmer (esq. à frente na foto) carregou a bandeira olímpica. Em protesto à invasão do Afeganistão por tropas russas em 1979, o Japão e a Alemanha boicotaram os Jogos junto com os Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/AP Photo
1992: tiro perfeito em Barcelona
Em 1992, o arqueiro paralímpico Antonio Rebollo acendeu a pira olímpica da 25ª edição dos Jogos Olímpicos em Barcelona, com uma flecha em chamas. Na realidade, a flecha passou muito perto da pira, mas o fogo foi aceso exatamente ao mesmo tempo.
Foto: picture-alliance/Lehtikuva Oy
1996: momento mágico
Quatro anos mais tarde, outro momento emocionante. Muhammed Ali, a lenda do boxe, já visivelmente afetado pela doença de Parkinson, acendeu a pira nos Jogos em Atlanta, nos Estados Unidos. Ele foi uma figura controversa em seu país por ter se negado a combater no Vietnã, mas seus feitos esportivos foram reconhecidos.
Foto: picture-alliance/dpa
2004: vestido mágico em Atenas
A cerimônia de abertura das Olimpíadas segue um rígido protocolo, mas mesmo assim ainda oferece espaço para a criatividade. Enquanto Björk, cantora da Islândia, interpretou "Oceana" em 2004 nos Jogos de Atenas, seu vestido se abriu lentamente num enorme véu, que cobriu as delegações como um tapete.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Baker
2008: superlativos em Pequim
O custo da abertura dos Jogos em Pequim é estimado em 100 milhões de dólares. Quatro anos mais tarde, os de Londres custaram 40 milhões de dólares. A cerimônia na capital chinesa contou com extamente 2.008 percussionistas, usando baquetas iluminadas e tambores tradicionais do país. A apresentação deles foi o ponto alto de um show perfeitamente planejado, que durou três horas.
Foto: Getty Images/AFP/P. Ugarte
2012: homenagem à rainha
A rainha Elizabeth abriu os Jogos de Londres, em 2012. E com estilo: uma dublê trazida pelo agente 007, James Bond, pulou de paraquedas de um helicóptero. A rainha britânica foi a primeira chefe de Estado a abrir duas Olimpíadas. Como rainha do Canadá, ela já havia feito o mesmo em Montreal, em 1976.