Aumento do nível do mar triplicou nas últimas décadas
Natalie Müller md
24 de maio de 2017
Estudo indica que nível dos oceanos subiu a uma taxa muito mais alta nos últimos 25 anos que no restante do século 20. Cientistas afirmam que regiões costeiras ao redor do mundo serão mais afetadas do que se pensava.
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Um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) sugere que a ameaça do aumento do nível do mar foi drasticamente subestimada.
"A aceleração da elevação média do nível do mar é muito maior do que se pensava", afirma Sönke Dangendorf, principal autor do estudo. "Isso sublinha que o aumento do nível do mar é uma séria ameaça", acrescenta.
Dangendorf, da Universidade de Siegen, na Alemanha, trabalhou com uma equipe internacional de cientistas de Espanha, França, Noruega e Holanda. Eles descobriram que o nível do mar aumentou de forma relativamente lenta – em cerca de 1,1 milímetro por ano – durante grande parte do século 20. Mas isso mudou no início dos anos 1990.
Entre 1993 e 2012, o nível do mar subiu a uma taxa muito mais rápida, de 3,1 milímetros por ano. A invasão dos oceanos tem sido apontada como um dos maiores impactos do aquecimento global. Os gases de efeito estufa fazem com que as temperaturas aumentem, a água do mar esquenta e se expande, e o gelo derrete no mar, resultando no aumento no nível dos mares. Algumas cidades costeiras e ilhas mais baixas já estão sendo inundadas como consequência.
Ritmo acelerado
Este estudo não é o primeiro a destacar que a taxa de aumento do nível do mar está se acelerando. Mas suas descobertas sugerem uma taxa significativamente mais rápida do que as pesquisas anteriores. Uma das razões para a recente aceleração, segundo Dangendorf, é o derretimento das calotas de gelo nas últimas décadas.
"Sempre tivemos uma grande incerteza sobre a contribuição das grandes placas de gelo, que armazenam 100 vezes mais de nível do mar equivalente do que as geleiras", diz Dangendorf.
A nova pesquisa mostra que o impacto do rápido degelo dos mantos de gelo da Groenlândia e da Antártida dos últimos 20 ou 30 anos foi maior do que o esperado, e é provável que ele acarrete futuramente um maior aumento do nível do mar do que o previsto anteriormente.
Isso representa um problema para as áreas costeira. "Cidades como Miami, que já estão impactadas pelo aumento do nível do mar, sofrerão muito mais inundações costeiras e ressacas muito mais fortes do que as observadas até agora", afirma Dangendorf.
Dados de satélite
Dangendorf e sua equipe colheram dados históricos dos marégrafos usados para medir as mudanças costeiras até 1992 e os compararam com informações de satélite mais precisas, reunidas nas décadas subsequentes.
Satélites capazes de monitorar o nível do mar só foram lançados no início dos anos 1990. Os pesquisadores ajustaram os resultados anteriores dos medidores de marés para refletir diferentes fatores que possam ter afetado o aumento do nível do mar em determinada região local.
Embora seja difícil prever a extensão global do aumento do nível do mar, as projeções publicadas no Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas alertaram para um aumento de cerca de 30 centímetros a 1 metro até 2100.
Mudanças climáticas ameaçam Ontong Java
Atol no oceano Pacífico sofre com o aumento do nível do mar e cada vez mais tempestades. Este ensaio fotográfico exclusivo mostra a luta da comunidade local para permanecer nas ilhas e manter a própria cultura.
Foto: Displacement Solutions/Beni Knight
Ilhas remotas
As ilhas do atol de Ontong Java somam 12 quilômetros quadrados de terra, que não ficam mais de 3 metros acima do nível do mar. Rodeados pelas vastas profundezas do oceano Pacífico ocidental, os habitantes do atol sempre viveram à mercê do vento e das ondas, mas as mudanças climáticas e o aumento do nível do mar estão tornando suas vidas cada vez mais difíceis.
Foto: Displacement Solutions/Beni Knight
Tradições vivas
Os polinésios chegaram às ilhas há cerca de 2 mil anos. As seculares rotinas de dança, que incluem contos sobre forças naturais poderosas, são parte integrante da cultura e da identidade da população local.
Foto: Displacement Solutions /Beni Knight
Contato com a natureza
Tradicionalmente, as moradias são construídas com coqueiros e pandanus. Hoje, essas cabanas são iluminadas com energia solar. A escuridão de um céu noturno limpíssimo é uma das vantagens do isolamento completo.
Foto: Displacement Solutions/Beni Knight
Para onde irão as crianças?
Se o nível do mar continuar a subir no ritmo atual, as ilhas acabarão varridas do mapa. As crianças de Ontong Java, incluindo Wilson Ayunga (foto acima), de oito anos, poderão não ter outra opção senão se mudar para terras mais altas.
Foto: Displacement Solutions /Beni Knight
Governo descomprometido
A beleza intocada de Luaniua, ilha permanentemente ocupada em Ontong Java, torna-se mais evidente se vista de cima. Mas, sob as palmeiras idílicas, falta um governo comprometido. Administrativamente, Ontong Java é parte das Ilhas Salomão. No entanto, a falta de investimentos em saúde, policiamento e educação está gerando problemas sociais, conforme a modernidade chega às ilhas.
Foto: Displacement Solutions /Beni Knight
Terra dividida
As consequências das alterações climáticas já ficaram claras para os moradores de Ontong Java. A ilha de Henua Aiku começou a se dividir em duas com a água do mar se infiltrando em seu centro — sinais de um futuro sombrio com relação à segurança alimentar e à erosão.
Foto: Displacement Solutions/Beni Knight
Mudanças climáticas destrutivas
Devido às mudanças climáticas, além dos prejuízos causados pelo aumento do nível do mar, cada vez mais tempestades e ventos intensos e imprevisíveis atingem as zonas costeiras e vilas do atol.
Foto: Displacement Solutions /Beni Knight
Colheita fraca
A plantação experimental de Laliana (foto) não correspondeu às expectativas devido à salinização do solo, o qual já carece de nutrientes cruciais para a agricultura.
Foto: Displacement Solutions/Beni Knight
Tempos de mudança
Sarah Abora passou toda a sua vida em Ontong Java. Ela se lembra de uma época em que não havia nada além de arbustos onde hoje está sua aldeia. Ela também se lembra de quando as pessoas viviam além da extremidade atual da ilha. A aldeia foi obrigada a recuar devido à subida das marés e a correntes.
Foto: Displacement Solutions /Beni Knight
Fora do mapa
Onde hoje há uma frágil faixa de areia branca, antes havia uma vila bonita e próspera. A elevação do nível do mar varreu do mapa cerca de 40 casas e um cemitério.
Foto: Displacement Solutions/Beni Knight
Sem terra, sem cultura
Sem sua terra, a população de Ontong Javan não sabe como manter sua cultura. Para eles, desistir de suas ilhas é desistir de sua identidade. Com os efeitos das mudanças climáticas ameaçando desabrigar os moradores, a cultura do atol se vê diante de um futuro sombrio.
Foto: Displacement Solutions/Beni Knight
Esperança de ficar
Com o passar do tempo, aumenta a probabilidade de que os habitantes de Ontong Java tenham que se deslocar. Mesmo assim, a população mantém a esperança de que será possível permanecer em suas terras – que sustentam seus moradores e sua cultura há 2 mil anos.