Rival de Merkel é eleito novo líder dos conservadores
17 de dezembro de 2021
Em votação recorde, membros da CDU elegem Friedrich Merz para comandar o partido. Eleição sinaliza realinhamento mais à direita na legenda, com promessa de reconquistar eleitores que migraram para ultradireitista AfD.
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Membros da União Democrata Cristã (CDU) da Alemanha escolheram como seu novo líder o ultraconservador Friedrich Merz, considerado um rival ferrenho da ex-chanceler federal Angela Merkel dentro das estruturas do partido.
Após derrota nas recentes eleições legislativas, a legenda conservadora voltou a ocupar a oposição no cenário político da Alemanha depois de 16 anos.
Em sua terceira tentativa, Merz finalmente venceu a eleição para presidente da CDU ao derrotar dois candidatos mais moderados – Norbert Röttgen e Helge Braun – e conquistar um forte mandato: ele obteve 62,1% de apoio numa votação entre os membros do partido, conforme comunicou a própria CDU nesta sexta-feira (17/12).
Um congresso da CDU agendado para o próximo mês ainda terá que aprovar oficialmente a votação dos membros, mas trata-se apenas de uma formalidade.
Merz venceu a eleição com a promessa de que um realinhamento conservador do partido poderia reconquistar eleitores que decidiram migrar para a ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD).
"É claro que defenderei o partido em sua totalidade e tratarei de todas as questões que nosso partido considera importante", disse Merz quando o resultado foi divulgado em Berlim. "Não vamos adotar uma oposição fundamental, seremos uma oposição construtiva."
E agora? Como fica a Alemanha sem Merkel?
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Rival ferrenho de Merkel na CDU
A União Democrata Cristã vinha sendo comandada desde janeiro pelo ex-governador da Renânia do Norte-Vestfália e ex-candidato à Chancelaria Federal Armin Laschet. Ele anunciou sua renúncia à liderança da CDU e ao governo estadual depois de conduzir o partido para seu pior resultado eleitoral em setembro, quando obteve apenas 24,1% dos votos.
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O bloco conservador formado por CDU e União Social Cristã (CSU) foi derrotado por uma estreita margem pelos social-democratas do novo chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz. Após a vitória, o Partido Social-Democrata (SPD) acabou por formar um governo tripartidário numa coalizão que envolve ainda o Partido Verde e o Partido Liberal Democrático (FDP).
Merz tem experiência como líder da oposição. O conservador de 66 anos liderou o grupo de centro-direita no Bundestag (Parlamento alemão) de 2000 a 2002, quando acabou por perder uma queda de braço com Merkel dentro do partido.
O advogado corporativo deixou o Bundestag em 2009 e chefiou por anos o conselho de supervisão da filial alemã do gestor de investimentos BlackRock. Quando Merkel deixou a liderança da CDU, Merz voltou ao partido – e nas eleições de setembro retornou também ao Bundestag.
Como funcionam as eleições na Alemanha?
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Reposicionamento do partido em votação recorde
A votação interna da CDU teve a inédita participação de quase dois terços dos cerca de 400 mil membros. O resultado e o candidato escolhido apontam para qual direção os membros querem conduzir a CDU – um reposicionamento mais conservador, oposto à linha mais moderada na era Merkel.
Röttgen, ex-ministro do Meio Ambiente que presidiu o comitê depolítica externa do Bundestag nos últimos anos, recebeu apenas 25,8% dos votos – esta foi sua segunda tentativa de ocupar o cargo máximo da CDU.
Já Braun, que foi chefe de gabinete de Merkel de 2018 até ela deixar o governo na semana passada, recebeu apenas 12,1% dos votos.
Em tentativas anteriores, Merz não conseguiu ser eleito para a liderança do partido por margens mínimas nas convenções da CDU em 2018, quando perdeu para a ex-ministra da Defesa Annegret Kramp-Karrenbauer, e em janeiro deste ano, quando o partido escolheu Laschet.
pv (AFP, AP, ots)
Os principais partidos alemães
São eles: Partido Social-Democrata (SPD), União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU), Partido Liberal Democrático (FDP), Alternativa para a Alemanha (AfD), Verdes, Esquerda e Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
Foto: picture-alliance/dpa
União Democrata Cristã (CDU)
Fundada em 1945, a CDU se considera "popular de centro". Seus governos predominaram na política alemã do pós-guerra. O partido soma em sua história cinco chanceleres federais, entre eles Helmut Kohl, que governou por 16 anos e conduziu o país à reunificação em 1990, e Angela Merkel, a primeira mulher a assumir o cargo, em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
Integrante da Internacional Socialista, o SPD é uma reconstituição da legenda homônima fundada em 1869 e identificada com as classes trabalhadoras. Na Primeira Guerra, ele se dividiu em dois partidos, ambos proibidos em 1933 pelo regime nazista. Recriado após a Segunda Guerra, o SPD já elegeu quatro chanceleres federais: Willy Brandt, Helmut Schmidt, Gerhard Schröder e Olaf Scholz.
Foto: Thomas Banneyer/dpa/picture alliance
União Social Cristã (CSU)
Igualmente fundada em 1945, a CSU só existe na Baviera, onde a CDU não conta com diretório local. Os dois partidos são considerados irmãos. A CSU tem como objetivo um Estado democrático e com responsabilidade social, fundamentado na visão cristã do mundo e da humanidade. Desde 1949, forma no Bundestag uma bancada única com a CDU.
Foto: Peter Kneffel/dpa/picture alliance
Aliança 90 / Os Verdes (Partido Verde)
O partido Os Verdes surgiu em 1980, após três anos participando de eleições como chapa avulsa, defendendo questões ambientais e a paz. Em 1983, conseguiu formar uma bancada no Bundestag. Oito anos depois, o movimento Aliança 90 se fundiu com ele. Em 1998 participou com o SPD pela primeira vez do governo federal.
Foto: Christophe Gateau/dpa/picture alliance
Partido Liberal Democrático (FDP)
O Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) foi criado em 1948, inspirado na tradição do liberalismo e valorizando a "filosofia da liberdade e o movimento pelos direitos individuais". O partido é tradicionalmente um membro minoritário de coalizões de governo federais
Foto: Hannes P Albert/dpa/picture alliance
A Esquerda (Die Linke)
Die Linke (A Esquerda, em alemão) surgiu da fusão, em 2007, de duas agremiações esquerdistas: o Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do Partido Socialista Unitário (SED) da extinta Alemanha Oriental, e o Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG, criado em 2005, aglutinando dissidentes do SPD e sindicalistas).
Foto: DW/I. Sheiko
Alternativa para a Alemanha (AfD)
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam por falas incendiárias, a legenda tem vários diretórios classificados oficialmente como "extremistas" pelas autoridades
Foto: Martin Schutt/dpa/picture alliance
Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
A Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) é um partido fundado em janeiro de 2024 pela mulher que lhe dá o nome, uma ex-parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda) que defende uma mistura de política econômica de esquerda e retórica social de direita. Nas suas primeiras eleições, o partido tomou boa parte do espaço que era ocupada pela Esquerda.
Foto: Anja Koch/DW
Os pequenos
Há numerosos partidos menores na Alemanha, como Os Republicanos (REP) e o Heimat (Pátria), ambos de extrema direita, ou o Partido Marxista-Leninista (MLPD), de extrema esquerda. Outros defendem causas específicas, como o Partido dos Aposentados, o das mulheres, dos não eleitores, ou de proteção dos animais. E mesmo o Violetas, que reivindica uma política espiritualista.