Candidato do SPD a chanceler federal, Martin Schulz revela plano com dez pontos por uma "Alemanha moderna". Ao criticar atual governo, promete mais investimentos em infraestrura e educação e defende fortalecimento da UE.
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O líder do Partido Social-Democrata (SPD), Martin Schulz, apresentou neste domingo (16/07) suas propostas de governo em prol de uma "Alemanha moderna", com as quais tentará vencer a atual chanceler federal alemã, Angela Merkel, na eleição legislativa marcada para 24 de setembro.
O projeto revelado por Schulz contém dez pontos, que incluem esforços por uma Europa mais forte e unida e maiores investimentos em áreas como infraestrutura e educação no país. "A Alemanha pode fazer mais", disse o candidato à chefia de governo, em conferência do partido em Berlim.
"Se não investirmos fortemente em pesquisa e desenvolvimento, em veículos elétricos e em processos de produção que poupem energia, ficaremos para trás", completou Schulz.
A maior economia da Europa vem registrando superávits orçamentários nos últimos anos, e suas despesas públicas são tema bastante discutido tanto internamente como no exterior. Parceiros comerciais clamam para que o governo gaste mais, como forma de reduzir seu enorme superávit comercial – o saldo positivo das exportações em relação às importações.
A revista americana The Economist dedicou a capa de sua penúltima edição à questão, classificando o excedente orçamentário como "o problema alemão" e explicando por que ele não é bom para a economia mundial. "O país economiza demais e gasta muito pouco", afirma o veículo.
"O Estado não pode criar déficits ilegais, isso é certo. Mas precisa usar seu dinheiro para melhorar a infraestrutura pública", prosseguiu Schulz no discurso. "O que é mais importante para nós: distribuir presentes fiscais aos ricos ou garantir que a chuva não invada o telhado da escola?", questionou.
De acordo com o projeto do candidato social-democrata, o Estado seria obrigado a investir em pontos como conexão de internet de alta velocidade, transporte, energia renovável e educação, especialmente nas regiões economicamente mais fracas do país. Para Schulz, deve haver ainda uma quantia mínima destinada a esses investimentos.
Merkel – que vê o líder do SPD como seu principal oponente na eleição de setembro, apesar de as pesquisas anteciparem um resultado mais favorável a ela – se defendeu das acusações do rival neste domingo, negando que seu governo esteja negligenciando a infraestrutura do país.
"Atualmente não podemos gastar o dinheiro que temos", afirmou a chanceler federal em entrevista à emissora pública alemã ARD, mencionando burocracias regionais como um dos motivos. Ela garantiu, no entanto, que o governo já incluiu investimentos adicionais em rodovias e educação, por exemplo, em seus planos de orçamento de médio prazo.
"Ainda temos muito a fazer nesse sentido", argumentou a líder da União Democrata Cristã (CDU), que apresentou seu programa de governo no início deste mês.
Europa solidária
Em seu projeto de governo revelado neste domingo, Schulz, que era presidente do Parlamento Europeu até o início deste ano, também defendeu maiores esforços por parte do governo a fim de impulsionar o crescimento e a unidade da União Europeia (UE) como bloco econômico.
O candidato disse apoiar as propostas do presidente francês, Emmanuel Macron, sobre um orçamento conjunto para a zona do euro como forma de promover investimentos, acrescentando que a Alemanha deve estar preparada para aumentar sua contribuição ao bloco no pós-Brexit – o país contribui hoje com 15 bilhões de euros líquidos anualmente.
Schulz ainda destacou que Polônia e Hungria, ao mesmo tempo em que estão entre os países que mais se beneficiam do orçamento da União Europeia, se recusaram a receber refugiados, conforme demandava um acordo europeu para compartilhar o peso da crise migratória entre seus membros.
"Solidariedade não é uma via de mão única", disse o líder do SPD, defendendo sanções financeiras aos países que violarem o espírito de solidariedade da UE.
Entre outros pontos de seu projeto para "uma Alemanha moderna", estão salários mais altos, estabilidade nos empregos, educação gratuita até o mestrado, bem como cortes de impostos para famílias.
EK/afp/ap/dpa/rtr/dw
Merkel a caminho do quarto mandato
Quem poderia pensar? Vista como líder interina de seu partido após saída de Helmut Kohl, Merkel chefia a CDU desde 2000 e, há 11 anos, a Chancelaria Federal. Confira momentos de uma carreira que ainda não chegou ao fim.
Foto: Getty Images/C. Koall
Primeiro juramento
"Eu quero servir a Alemanha". A promessa foi feita por Angela Merkel no dia 22 de novembro de 2005, quando tomou posse como chanceler. Depois da vitória apertada nas eleições gerais, ela se tornou a primeira mulher e a primeira alemã da antiga parte oriental a ocupar o cargo. Merkel se tornou a chefe de governo, comandado pela grande coalizão formada entre os partidos CDU, CSU e SPD.
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Quem tem medo do cão de Putin?
Merkel é conhecida por sempre ser racional e se manter calma. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, quis aparentemente testar os nervos da chanceler quando a recebeu na residência presidencial em Sochi, em 2007. Putin conseguiu revelar o ponto fraco de Merkel: ela tem medo de cães. Isso não impediu que o presidente russo deixasse o labrador Koni farejar os sapatos da chanceler.
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Resgate financeiro
Em situações de crise, Merkel age com frieza. Quando os mercados financeiros entraram em colapso em 2008 e ameaçaram prejudicar a economia alemã, a chanceler se empenhou na proteção do euro e na criação de fundos de resgate para as economias mais fracas do bloco europeu. Ela se destacou como eficiente gestora de crises, mas não escapou de receber críticas de países como Grécia e Espanha.
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Caminho para o segundo mandato
Apesar do pior desempenho da aliança conservadora na história, Merkel venceu as eleições de 27 de setembro de 2009. Depois de se aliar ao Partido Social-Democrata (SPD), a chanceler estava pronta para iniciar o segundo mandato ao lado de outro parceiro, o Partido Liberal Democrático (FDP).
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Resposta rápida
Merkel que, como física, é conhecida por pensar de forma objetiva, não previu a catástrofe nuclear de Fukushima, no Japão. Defensora da política nuclear na Alemanha, Merkel mudou de posição em tempo recorde. A extensão do prazo de funcionamento das usinas foi suspenso e a Alemanha iniciou o processo de colocar fim ao uso da energia nuclear.
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O homem ao seu lado
Quem o reconheceria? Quem conhece sua voz? Há dez anos, o marido de Merkel, Joachim Sauer, professor de Química da Universidade Humboldt, em Berlim, se mantém discreto. Eles estão casados desde 1998.
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Amizade em crise
As escutas de comunicações de políticos alemães por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos, abalaram as relações da Alemanha com a Casa Branca. Até o celular de Merkel foi alvo de espionagem. Uma frase da chanceler ficou famosa: "Não é aceitável que países amigos espiem uns aos outros".
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O paciente grego
O clube de fãs de Merkel é extenso, mas na Grécia é provavelmente menor. A hostilidade contra a chanceler alemã nunca foi tão grande como em 2014, no auge da crise da dívida grega. A imagem de velha inimiga ressurgiu, mas Merkel se manteve firme em relação à política de austeridade que previu cortes e reformas a serem cumpridos por Atenas.
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Emotiva, às vezes
Tipicamente reservada, Merkel quebrou os protocolos durante a final da Copa do Mundo de 2014 no Rio de Janeiro. A chanceler federal alemã celebrou a vitória da Alemanha sobre a Argentina ao lado do presidente alemão, Joachim Gauck. Ela estava no auge de sua popularidade, assim como a seleção vitoriosa.
Foto: imago/Action Pictures
"Nós podemos fazer isso!"
Para Merkel, o direito de asilo a refugiados não pode ser limitado. "Nós podemos fazer isso" se tornou o credo da chanceler sobre a política alemã de acolhida aos migrantes que fogem de guerras e perseguições. Se o país dará conta da enorme demanda, isso já é uma pergunta ainda em aberto.
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"E agora, Merkel?"
Sexta-feira 13 – um massacre em novembro. A França está em situação de emergência e Merkel ofereceu "toda a assistência" ao país vizinho. O medo do terrorismo se espalha. Não há dúvidas de que esse é o maior desafio de Merkel em dez anos no poder.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Barulho na coalizão
Foi o castigo máximo para a chanceler federal. No congresso da CSU, em novembro de 2015, Horst Seehofer a repreendeu. O líder da legenda-irmã do partido de Merkel na Baviera criticou que a política migratória da chefe alemã de governo fez com que o país perdesse o controle de suas próprias fronteiras. Uma humilhação que Merkel teve que suportar de pé e sem oportunidade de resposta.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Hoppe
Será que ele não poderia ficar?
Seria um alívio para Merkel continuar a lidar com Obama. Mas, no início, ela era bastante cética quanto a ele. O monitoramento do celular da chanceler federal, no contexto do escândalo de espionagem da NSA, parecia abonar a sua postura reservada. Mas, agora, um parceiro previsível sai de cena e dá lugar a Donald Trump. O jornal "New York Times" já a chama de "defensora do Ocidente liberal".
Foto: Reuters/F. Bensch
Merkel mais uma vez
Finalmente, após meses de intensas especulações em torno de sua candidatura à reeleição, Merkel confirma a sua intenção de concorrer a um quarto mandato. Durante entrevista coletiva em 20/11, ela diz à liderança de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), estar preparada para chefiar a legenda na eleição parlamentar alemã, prevista para setembro ou outubro de 2017.