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Robôs dominam debate político nas redes sociais

Thomas Baerthlein/Albert Steinberger (ek)23 de agosto de 2016

Perfis falsos na internet tornaram-se parte da comunicação política e podem influenciar o discurso online, ao inflar discussões sobre um determinado tema, a fim de marginalizar outros pontos de vista.

Twitter Logo Tastatur Bot Social Media
Foto: picture-alliance/dpa/J.Arriens

É comum no Twitter encontrar os chamados bots, robôs que geram contas falsas e espalham conteúdo em escala industrial. Aquele novo seguidor que não tem foto de perfil e compartilha uma mensagem aleatória apenas uma vez ao dia, provavelmente é uma dessas contas automatizadas.

Há os bots para fins comerciais – muito difundidos na internet –, mas há também aqueles criativos, como o perfil @MagicRealismBot, programado para gerar, a cada duas horas, pílulas de sabedoria que imitam citações de escritores famosos como Jorge Luis Borges e Gabriel García Márquez.

O aumento do uso de robôs nas redes sociais tem aberto uma série de discussões, principalmente quando são utilizados para fins políticos. Para especialistas ouvidos pela DW, essa prática pode afetar a credibilidade da internet e até a própria democracia de um país.

Bots políticos podem trabalhar de diferentes formas: contas falsas são principalmente usadas para amplificar a rede de seguidores de um determinado político, mas também são capazes de inflar discussões sobre um determinado tema, a fim de marginalizar outros pontos de vista.

"Já vimos bots discutindo uns com os outros. E já vimos pessoas reais discutindo com eles", explica o especialista Phil Howard, professor do Instituto de Internet da Universidade de Oxford, à DW.

Em comparação com outras plataformas sociais, como o Facebook, os robôs são mais eficazes e mais fáceis de implementar no Twitter – e é nessa rede social que eles têm sido mais comumente usados para fins políticos.

Manipulando o debate online

Os bots se tornaram uma ferramenta comum entre regimes autoritários e ditatoriais, que têm o interesse de manipular as discussões na internet. Também são empregados em democracias a fim de influenciar a opinião de cidadãos sobre questões controversas ou para fazer diferença nas eleições.

México, Turquia e Rússia, por exemplo, são países amplamente afetados por essa prática. "Os bots são eficazes em semear confusão ou sufocar uma conversa política sobre uma questão global que envolva um governo autoritário. Por isso, eles são bastante ativos na Rússia, onde fazem parte de uma estratégia de sucesso do governo para espalhar a desinformação", diz Howard.

Políticos brasileiros

A pedido da DW, o especialista em redes sociais Torsten Müller analisou as contas no Twitter do presidente interino Michel Temer e da presidente afastada Dilma Rousseff. O teste usou a ferramenta Twitter Audit, software capaz de avaliar quem são os seguidores reais e os falsos dentro de um perfil.

Na conta de Temer (@MichelTemer), 78% foram detectados como sendo perfis reais. Entre os quase 613 mil seguidores, 132.962 seriam falsos e 479.766, reais.

Já no perfil de Dilma (@dilmabr), o resultado é um pouco pior: 71% dos usuários que a seguem seriam pessoas de verdade. Ou seja, entre os 4,8 milhões de seguidores da presidente afastada, 1.406.220 seriam falsos e 3.409.603, reais. O Twitter Audit alerta que a pesquisa contém margem de erro. Müller explica que contas inativas ou com pouco uso podem ser contadas como falsas.

Perfis falsos e bots muitas vezes vêm de locais conhecidos como click farms, fazendas de cliques onde pessoas trabalham criando perfis falsos e aumentando a popularidade de clientes. Índia, Arábia Saudita e Madagascar são alguns dos locais conhecidos por abrigarem click farms.

O especialista acredita que o uso de bots é mais comum do que os políticos querem admitir. "Com mais seguidores, as pessoas vão achar que você tem mais influência. Mas os bots também vão ajudar a espalhar o seu conteúdo. Eles vão te retweetar, por exemplo. Então, é uma ferramenta que muita gente usa, inclusive partidos políticos", afirma ele.

Perigo para a democracia?

Os algoritmos das redes sociais que definem o que aparece na timeline de cada usuário dão preferência a temas que estão sendo comentados por muitas pessoas. Por isso, os bots têm o papel de criar um efeito de manada dentro da internet e, assim, influenciar a opinião pública.

"Algumas vezes basta uma simples fagulha e, por meio dos bots, a coisa se espalha por todo o mundo. E isso pode colocar em risco a democracia", opina o especialista em marketing digital Hendrik Unger. "Por isso, os administradores das redes sociais devem cuidar para que os robôs, por meio de medidas de segurança, sejam completamente bloqueados."

Unger estima que a quantidade de bots nas redes sociais varia de 10% a 30%, dependendo da plataforma. "O que algumas vezes notamos em páginas de Facebook ou de Instagram de famosos, como a do cantor pop Justin Bieber, é uma queda súbita na quantidade de fãs e seguidores. De repente, elas têm meio milhão de fãs a menos. E isso acontece quando os administradores de redes sociais fazem uma limpeza e apagam todas as contas falsas detectadas", explica.

O especialista ainda alerta que o uso de bots é uma praga na internet, mas que só traz efeitos de curto prazo. "É realmente como o doping: os meus músculos crescem e eu fico bombado, super forte, mas não dura muito tempo", avalia. Ele acredita que a compra de cliques é arriscada, podendo gerar danos à imagem de empresas e políticos e resultar na perda de confiança.

Convivendo com os robôs

Já Saiph Savage, cientista da computação da Universidade de West Virginia, não está muito preocupada com a ameaça dos robôs na internet. "Eu acho que é muito provável que nós, como sociedade, iremos estabelecer normas sobre quais tipos de bots são inofensivos para uso – e quais não", diz Savage. "Por exemplo, se um candidato é flagrado com um exército de robôs, isso é algo que a sociedade vai punir."

Por outro lado, os políticos que usam bots de uma forma mais sofisticada, a fim de se comunicarem melhor com seu eleitorado, poderiam muito bem ser recompensados, acrescenta ela. "É tudo uma questão de usar a mídia social para permitir colaborações entre os candidatos e os cidadãos", opina.

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