Roberto Jefferson é preso no inquérito das milícias digitais
13 de agosto de 2021
PF prende aliado de Bolsonaro após autorização de Alexandre de Moraes. Ministro do STF disse que ex-deputado integra núcleo político de uma organização criminosa digital que visa desestabilizar instituições democráticas.
Anúncio
A Polícia Federal (PF) prendeu na manhã desta sexta-feira (13/08) o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, no âmbito do inquérito que apura milícias digitais. Aliado de Jair Bolsonaro, ele foi detido em sua residência na cidade de Levy Gasparian (RJ).
A prisão foi solicitada pela delegada Denisse Ribeiro, da PF, e autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Ele também deu aval para o cumprimento de mandados de busca e apreensão.
A investigação que apura milícias digitais foi aberta por Moraes em julho, depois de o procurador-geral da República, Augusto Aras, pedir o arquivamento do inquérito dos atos antidemocráticos, realizados no primeiro semestre do ano passado.
Substituindo a apuração arquivada, o ministro do Supremo abriu a nova investigação visando verificar a atuação de uma possível organização criminosa na internet que atuaria com o objetivo de atacar o Estado Democrático de Direito e desestabilizar as instituições democráticas.
À época, Moraes afirmou que é preciso investigar se apoiadores de Bolsonaro estariam usando as estruturas do Palácio do Planalto, da Câmara dos Deputados e do Senado para disseminar informações falsas nas redes sociais e atacar a democracia.
O mandado contra Jefferson é de prisão preventiva, ou seja, não tem prazo determinado para acabar. O pedido foi assinado por Moraes sem o posicionamento da PGR, que perdeu o prazo de 24 horas para se manifestar sobre a prisão.
O ministro também determinou a apreensão de armas e munições na residência do ex-deputado, bem como computadores, celulares e outros dispositivos eletrônicos. Também foi autorizado o bloqueio do perfil de Jefferson no Twitter.
Mais cedo nesta sexta-feira, Jefferson havia informado em redes sociais que a PF fez buscas na casa de sua ex-mulher. "A Polícia Federal foi à casa de minha ex-mulher, mãe de meus filhos, com ordem de prisão contra mim e busca e apreensão. Vamos ver de onde parte essa canalhice", escreveu o ex-parlamentar.
Anúncio
"Mote final é derrubar a democracia"
Ao autorizar a prisão de Jefferson, Moraes escreveu que o ex-deputado faz parte do "núcleo político" dessa suposta organização criminosa digital que visa "desestabilizar as instituições republicanas". O grupo, segundo o ministro, atua "de forma sistemática para criar ou compartilhar mensagens que tenham por mote final a derrubada da estrutura democrática e o Estado de direito no Brasil".
Moraes menciona ataques repetidos do ex-deputado ao Congresso, ao Supremo e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), defendendo, por exemplo, o fechamento dos órgãos, a cassação de seus membros, "o retorno da ditadura e o afastamento da fiel observância da Constituição".
Segundo o despacho, Jefferson agiu com o "nítido objetivo de tumultuar, dificultar, frustrar ou impedir o processo eleitoral, com ataques institucionais ao Tribunal Superior Eleitoral e ao seu ministro presidente", Luís Roberto Barroso.
O presidente do PTB "pleiteou o fechamento do Supremo Tribunal Federal, a cassação imediata de todos os ministros para acabar com a independência do Poder Judiciário, incitando a violência física contra os ministros, porque não concorda com os seus posicionamentos".
Moraes também diz que ele "incitou, por mais de uma vez, a prática de crimes (invasão ao Senado Federal, agressão a agentes públicos e/ou políticos etc), ofendeu a dignidade e o decoro de ministros do STF, senadores integrantes da CPI da Covid-19 e outras autoridades públicas".
Segundo o ministro, a insistência em tais atos é "gravíssima, pois é atentatória ao Estado Democrático de Direito e às suas instituições republicanas".
ek/lf (ots)
Ataques de Bolsonaro contra a imprensa
"Encher tua boca de porrada", "você tem cara de homossexual", "imprensa lixo". Guerra do ex-presidente contra a mídia inclui ameaças, grosserias e xingamentos a comentários de cunho sexual contra profissionais da área.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Peres
"Encher sua boca de porrada"
Ao ser questionado por um repórter sobre depósitos de Fabrício Queiroz e sua mulher que teriam sido feitos na conta da primeira-dama, Bolsonaro respondeu: "Vontade de encher tua boca com porrada, tá? Seu safado". A ameaça gerou uma série de críticas e notas de repúdio.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Peres
Jornalista "bundão", "só usam caneta para maldade"
Um dia depois, ele voltou à carga contra a imprensa. “Aquela história de atleta, né, que o pessoal da imprensa vai pôr deboche, mas quando pega um bundão de vocês, a chance de sobreviver é bem menor. Só sabem fazer maldade, usar a caneta com maldade”, disse em evento no Palácio do Planalto. Bolsonaro disse que jornalista ‘bundão’ tem menos chance de sobreviver ao coronavírus do que ele próprio.
Foto: AFP/E. SA
"Grande mídia publica patifaria"
“É uma manchete canalha e mentirosa, e vocês da mídia, tenham vergonha cara. A grande parte publica patifaria”, acusou, comentando matéria da Folha de S. Paulo que noticiava a troca da superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro e suposta interferência de Bolsonaro no comando da Polícia Federal.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Lopes
"Vocês inventam tudo"
Em abril de 2021, Bolsonaro se negou a falar com a imprensa na saída do Palácio da Alvorada e atacou os jornalistas presentes: “Eu não vou falar com a imprensa, porque eu não preciso falar. Vocês não distorcem mais, inventam. O que eu li hoje…Inventam tudo. Então, podem continuar inventando aí”, disse o presidente.
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Você tem cara de homossexual"
"Você tem uma cara de homossexual terrível, mas nem por isso eu te acuso de ser homossexual", disse o ex-mandatário em dezembro de 2020, ao ser questionado sobre possível envolvimento de seu filho Flávio em suposto esquema de rachadinha quando era deputado no Rio de Janeiro.
Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Peres
"Pergunta para a tua mãe"
Na mesma ocasião, ao ser indagado sobre se teria comprovante do empréstimo de R$ 40 mil que diz ter feito a Fabrício Queiroz para justificar depósitos do então assessor de Flávio na conta da primeira-dama, retrucou: 'Pergunta para tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai'.
Foto: Reuters/A. Machado
"Imprensa lixo chamada Globo"
“Essa imprensa lixo chamada Globo. Ou melhor, lixo dá para ser reciclado. Globo nem lixo é, porque não pode ser reciclada”, disse o então presidente depois da repercussão de sua fala “E daí?”, dita quando o Brasil superou a China no número de mortes pela covid-19.
Foto: Getty Images/AFP/E. SA
"Perguntando besteira"
"Vocês da Folha têm que entrar de novo numa faculdade que presta e fazer um bom jornalismo. E não contratar qualquer uma ou qualquer um pra ser jornalista. Pra ficar semeando discórdia e perguntando besteira", afirmou o ex-presidente, ao ser questionado por uma jornalista da Folha de S. Paulo sobre o contingenciamento nos orçamentos das universidades federais.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Frazão
"Ela queria dar um furo"
“Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, ironizou o ex-presidente sobre a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo. O comentário de cunho sexual se referia à acusação, realizada sem provas, de um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa de que a jornalista teria tentado "se insinuar" sexualmente para ele em busca de informações.
Foto: Imago Images/Fotoarena/R. Pereira
"Canalhice da Globo"
“Isso é uma patifaria, TV Globo! É uma canalhice o que vocês fazem, TV Globo. Uma canalhice, fazer uma matéria dessas em um horário nobre, colocando sob suspeição que eu poderia ter participado da execução da Marielle Franco”, acusou, em outubro de 2019, após o Jornal Nacional noticiar que o porteiro de seu condomínio dissera que Bolsonaro autorizara a entrada suposto envolvido no crime.