Com o fechamento da rota dos Bálcãs, atravessar o Mar Mediterrâneo passa a ser uma opção para quem quer chegar à Europa. Mas números ainda não confirmam tendência.
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"Atualmente, a rota do Mediterrâneo, do Norte da África para a Itália, é a única forma de os refugiados chegarem ao continente europeu", criticou Ulrike von Pilar, colaboradora da organização de ajuda humanitária Médicos Sem Fronteiras. O grupo tem dois barcos em ação no Mar Mediterrâneo e opera outro em colaboração com a associação SOS Méditerranée. "Os três navios navegam por onde se suspeita que passem muitos barcos", explicou Pilar.
Mesmo que as operações tenham reiniciado há apenas duas semanas, após a pausa de inverno, já houve diversas missões: no final de abril, o barco Dignity 1 participou do resgate de mais de 300 pessoas; na sexta-feira passada, o navio Bourbon Argos salvou 121 migrantes que estavam à deriva num bote de borracha no Mediterrâneo. A Guarda Costeira italiana contou 1,8 mil pessoas que foram salvas num espaço de tempo de 24 horas.
Especialistas estimam que o número de refugiados deva aumentar consideravelmente nos próximos meses na chamada rota do Mediterrâneo, já que esse caminho está se tornando o preferido dos migrantes. "Estamos muito atentos para o que pode acontecer nos próximos meses", afirmou o porta-voz da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Joel Millman.
Segundo ele, a rota, que tem início na Líbia, é utilizada sobretudo por migrantes da África Ocidental e do Chifre da África, mas não por sírios, iraquianos e afegãos. É possível, porém, que em breve esses também tentem chegar à Europa através do Mar Mediterrâneo, já que a chamada rota dos Bálcãs, privilegiada por eles, foi fechada.
Guarda Costeira italiana confirma resgate de migrantes
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Até agora, os números não confirmam as projeções ascendentes. Segundo dados da Agência da ONU para Refugiados (Acnur), mais de 28,5 mil migrantes chegaram à Itália através do Mediterrâneo desde o início do ano. Nos primeiros quatro meses de 2015 foram 26 mil pessoas. De acordo com a OIM, 192,5 mil refugiados chegaram à Europa em 2016.
Nos primeiros quatro meses deste ano, a travessia marítima provocou a morte de 1.357 pessoas, segundo a OIM. A maioria delas fazia a perigosa travessia do Mediterrâneo entre o norte da África e a Itália. Porém, especialistas, como Pilar, acreditam que o número real seja mais elevado.
Por meio da missão Sophia, os países da União Europeia (UE) participam do resgate marítimo de refugiados. Ao mesmo tempo, a UE empreende medidas para proteger e até mesmo fechar suas fronteiras externas. Nesse contexto, em abril último, os ministros do Exterior do bloco concordaram com uma ajuda de 100 milhões de euros para que a Líbia restabeleça sua guarda costeira. Além disso, está prevista a construção de um centro de acolhimento de migrantes no país, para impedir que continuem viagem até a Europa.
A Alemanha fechou diversos acordos bilaterais com países de trânsito e de origem de refugiados. Marrocos, Argélia e Tunísia foram considerados países seguros. Com esses governos, a Alemanha fechou acordos para a readmissão de seus cidadãos. Posteriormente, o número de migrantes provenientes desses Estados diminuiu consideravelmente.
Viagem à Europa da perspectiva de refugiados
Exposição em Hamburgo mostra longa jornada do ponto de vista dos migrantes, resultado do projeto #RefugeeCameras. Risco, desamparo e raros momentos de alegria permeiam as imagens.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Partida sem volta?
Em dezembro de 2015, o alemão Kevin McElvaney entregou 15 câmeras descartáveis e envelopes pré-selados a migrantes em Izmir, Lesbos, Atenas e Idomeni. Sete retornaram ao jovem fotógrafo e fazem parte do projeto #RefugeeCameras. Zakaria recebeu sua câmera em Izmir. O sírio fugiu do "Estado Islâmico" e do regime Assad. Em seu diário de fuga, ele escreve que só Deus sabe se ele voltará à Síria.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Travessia de bote
Zakaria documentou sua viagem marítima da Turquia até a ilha grega de Chios. Ele ficou sentado na parte de trás do bote. Na exposição em Hamburgo, as imagens feitas por refugiados são complementadas por uma seleção de fotos tiradas por profissionais, que ajudaram a montar a representação das rotas de fuga. Todos eles doaram suas obras para apoiar o projeto.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Chegada perigosa
Hamza e Abdulmonem, ambos da Síria, fotografaram a perigosa chegada de seu barco a uma ilha grega. Não havia voluntários para recebê-los. Foi justamente isso que McElvaney tinha em mente quando lançou a #RefugeeCameras. Segundo o jovem fotógrafo, até agora a mídia proporcionou somente um "vazio visual" a esse respeito.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Sobrevivendo ao mar
Após o desembarque, vê-se um menino com roupas molhadas e colete salva-vidas numa praia. A imagem faz recordar Aylan Kurdi, o pequeno garoto sírio cujo corpo sem vida foi encontrado no litoral turco em setembro de 2015. A criança nesta foto conseguiu chegar viva à Europa. O seu destino é desconhecido.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Sete câmeras
Hamza e Abdulmonem também tiraram esta foto instantânea levemente desfocada de um grupo de refugiados fazendo uma pausa. Das 15 câmeras que McElvaney entregou, sete retornaram, uma foi perdida, duas foram confiscadas, e duas permaneceram em Izmir, onde seus donos ainda estão retidos. As três câmeras restantes estão desaparecidas – assim como seus proprietários.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Família em foco
Dyab, um professor de Matemática sírio, tentou registrar alguns dos melhores momentos de sua viagem até a Alemanha. Na foto, veem-se sua esposa e seu filho pequeno, Kerim, que nos mostra um pacote de biscoito que recebeu num campo de refugiados macedônio. A imagem revela a profunda afeição de Dyab por seu filho, diz McElvaney: "Ele quer cuidar dele, mesmo na árdua viagem que foi forçado a seguir."
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Do Irã à Alemanha
A história de Said, do Irã, é diferente. O jovem teve de deixar seu país, depois de ter se convertido ao cristianismo. Ele poderia ter sido preso ou morto. Para ser aceito como refugiado, ele fingiu ser afegão. Após a sua chegada à Alemanha, ele explicou sua situação, para a satisfação das autoridades. Ele vive agora – como iraniano – em Hanau, no estado de Hessen.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Não apenas selfies
Said tirou esta foto de um pai sírio e seu filho num ônibus de Atenas a Idomeni.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Momento de alegria
Em outro registro feito por Said, um voluntário que trabalha num campo de refugiados em algum lugar entre a Croácia e a Eslovênia brinca com um grupo de crianças, que tentam imitar seus truques.