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Liberdade de imprensaGlobal

RSF afirma que insultos à imprensa são marca de Bolsonaro

20 de abril de 2021

Crise sanitária reforça tendências repressivas mundo afora, aponta ranking da Repórteres Sem Fronteiras. No Brasil, Bolsonaro é citado como exemplo de propagador de notícias falsas em meio à disseminação do coronavírus.

Jair Bolsonaro segura caixa de cloroquina
Bolsonaro defende uso da cloroquina contra a covid-19, medicamento sem eficácia comprovada contra a doençaFoto: Carolina Antunes/PR

Maus tempos para jornalistas: "A pandemia do coronavírus reforça e solidifica tendências repressivas por todo o mundo", declarou o diretor-executivo da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Christian Mihr, falando à DW. Em todos os continentes a situação se agravou, em maior ou menor grau, segundo demonstra o Ranking da Liberdade de Imprensa 2021.

Mihr indica exemplos de diversas regiões: o Egito proibiu a divulgação de estatísticas não oficiais de novos casos de covid-19; na Síria, o regime de Bashar al-Assad decretou uma proibição de noticiário sobre o tema pandemia, excetuada a agência de notícias estatal.

A desinformação também esteve em alta: o diretor cita como exemplo tanto o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump como os atuais mandatários no Brasil, Jair Bolsonaro, e na Venezuela, Nicolás Maduro, cujas notícias falsas foram por diversas vezes colocadas em questão pela imprensa. Nesse contexto, o jornalismo independente é "o único meio eficaz contra a pandemia de desinformação", aponta Mihr.

Brasil piora no ranking

O Brasil retrocedeu quatro posições, para a 111ª entre 180 países, e entrou na zona vermelha, classificada como de "situação difícil". "O contexto tóxico em que trabalham os profissionais da imprensa brasileira desde a chegada ao poder de Bolsonaro, em 2018, explica em grande parte essa degradação", afirma a ONG.

"Os insultos, a estigmatização e as humilhações públicas orquestradas contra os jornalistas se converteram em marca registrada do presidente Bolsonaro, sua família e seu círculo próximo", afirma a RSF.

Com o início da crise sanitária, os ataques se intensificaram para ocultar a desastrosa gestão da pandemia, e Bolsonaro obstinadamente propagou notícias falsas e ao mesmo tempo criticou as restrições para limitar a propagação do vírus, afirmou a ONG.

A RSF também criticou que tanto Bolsonaro como Maduro promoveram medicamentos de eficácia não comprovada, como a cloroquina, na pandemia de covid-19. "Afortunadamente, investigações como as da mídia brasileira Agência Pública ou os detalhados textos que publicam os últimos periódicos independentes venezuelanos estabeleceram a veracidade dos fatos".

Liberdade em declínio na Europa?

Os três campeões de liberdade de imprensa são países escandinavos: Noruega, Finlândia e Suécia, Por outro lado, a principal fronte de preocupação para a RSF na Europa, são os acontecimentos em Belarus, onde a repressão é "maciça e incomparável".

Apenas no fim de 2020, mais de 400 jornalistas foram detidos sumariamente, "e soubemos de diversos casos de maus tratos", relata Mihr. O país ocupa o 158º de 180 lugares em termos de liberdade de imprensa. A Rússia está apenas um pouco melhor, em 150º lugar.

A organização jornalística julga de forma igualmente severa o Reino Unido, devido ao processo contra Julian Assange, fundador da plataforma de revelações Wikileaks, dando-lhe a 33ª colocação. Para a mídia internacional, noticiar sobre o processo de extradição só foi possível em âmbito muito reduzido.

O fato de o país ter, mesmo assim, subido duas colocações no ranking, em relação ao ano anterior, só se deve a questões metodológicas, já que outros fatores também influenciaram a avaliação total. "E um lugar 33 para o berço da democracia não é uma boa colocação", frisa Mihr, e vai mais adiante: os britânicos violaram seus deveres enquanto Estado de direito, emitindo assim "um sinal devastador para a liberdade de imprensa em todo o mundo".

Na Alemanha, jornalistas foram alvos de ataques durante manifestações contra as restrições no contexto da pandemia Foto: Yann Schreiber/AFP/Getty Images

A queda da Alemanha, do 11º para o 13º lugar, não tem apenas motivos metodológicos. Da avaliação constou também o "índice de violência", relativo a agressões contra membros da imprensa. Registrou-se no país "um salto da violência contra profissionais da mídia": no primeiro ano da pandemia os ataques se quintuplicaram, de 13 para 65.

E a RSF conta com uma "cifra oculta", pois este é apenas o número dos casos que puderam ser verificados. A maior parte das agressões ocorreu durante manifestações contra as restrições no contexto da pandemia. Devido a esse fato, a Alemanha saiu da zona branca (boa) para a amarela (satisfatória).

Muitas sombras e alguns clarões na África

A África continua sendo o continente com a pior cotação em termos de liberdade de imprensa, com a Eritreia no fim da lista. De 48 países, 23 encontram-se nas zonas vermelha (difícil) ou negra (muito severa).

Porém também há desdobramentos satisfatórios: o Burundi subiu 13 lugares, ficando em 147º, depois que foram libertados diversos jornalistas encarcerados arbitrariamente por longo tempo. Também a Serra Leoa deu um salto positivo, da 85ª para a 75ª colocação, graças à anulação da lei punindo notícias falsas. No Mali, reduziu-se o número de ataques contra membros da imprensa, e o país em guerra civil subiu nove pontos, para o 99º lugar.

Apesar desses avanços locais, a África ainda é o lugar mais perigoso para os jornalistas, e a Europa, o mais seguro, onde se encontram nove dos 12 países classificados como "bons" pela Repórteres Sem Fronteiras. Os outros três são Costa Rica (5º), Jamaica (7º) e Nova Zelândia (8º).

Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.
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