Explosões e ataques suicidas em quatro localidades controladas pelo regime de Damasco e por curdos deixam cerca de 50 mortos. Grupo extremista "Estado Islâmico" reivindica autoria das "operações de martírio".
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Uma série de explosões reivindicada pelo grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) matou dezenas de pessoas na Síria nesta segunda-feira (05/09). Segundo informações da imprensa local e de ativistas, as explosões ocorreram em regiões sob controle do governo sírio e de curdos, resultando na morte de ao menos 48 pessoas, além de dezenas de feridos.
O maior número de mortos foi registrado em Tartus, um dos redutos do regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, no litoral do Mar Mediterrâneo. O atentado duplo resultou na morte de ao menos 35 pessoas e deixou cerca de 43 feridos, segundo a mídia estatal síria.
Os bombardeios atingiram a ponte Arzuna, localizada próxima à capital da província e que leva o mesmo nome. "A primeira [explosão] foi um carro-bomba e, em seguida, um homem-bomba detonou seu colete de explosivos quando pessoas se reuniram para ajudar os feridos", relatou a televisão estatal.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos elevou para 38 o número de mortos no duplo atentado e acrescentou que entre eles há 16 soldados das tropas governamentais. Segundo a ONG, o ataque teve como alvo um posto de controle do regime no sul da cidade. Tartus vinha sendo poupada da violência do conflito na Síria e se tornou um refúgio para muitos sírios que fogem dos combates.
Na cidade de Al-Hasakeh, no nordeste do país, um homem-bomba numa motocicleta matou seis membros das forças de segurança curdas e dois civis. A cidade é majoritariamente controlada pelos curdos, embora o governo sírio também esteja presente.
Em Homs, o alvo foi o bairro de Al-Zahraa, cujos residentes em sua maioria pertencem à mesma seita alauita do presidente Assad e regularmente têm sido alvos de atentados. Quatro pessoas morreram em decorrência de um carro-bomba que atingiu um posto de controle na entrada do distrito.
Outro ataque foi registrado numa estrada ao oeste da capital Damasco. A mídia estatal relatou a morte de uma pessoa, já o Observatório Sírio para os Direitos Humanos afirmou que a explosão matou ao menos três pessoas.
Reação do "Estado Islâmico"
A agência de notícias Amaq – afiliado aos jihadistas do EI – emitiu um comunicado no qual o "Estado Islâmico" reivindicou "uma série de ataques suicidas simultâneos". A agência disse que "seis operações de martírio atingiram Damasco, Tartus, Homs e Al-Hasakeh". A nota, cuja autenticidade não pôde ser verificada, informou que os atentados tiveram como objetivo zonas sob controle do regime e dos curdos.
Os ataques ocorreram um dia após o EI ter perdido o controle do último trecho da fronteira síria com a Turquia. Paralelamente, também nesta segunda-feira, Washington e Moscou fracassaram na tentativa de selar um acordo para cessar a violência na Síria.
Na China, onde as potências mundiais se reuniram para o encontro do G20, o presidente dos EUA, Barack Obama, e seu homólogo russo, Vladimir Putin, salientaram "diálogos produtivos" e "certo alinhamento" em respeito à crise na Síria.
PV/efe/afp
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.