Série "Deutschland 86" revive colapso do comunismo
Nik Martin av
19 de outubro de 2018
Depois do sucesso mundial de "Deutschland 83", segunda temporada estreia em streaming. Pano de fundo são os anos finais da Alemanha Oriental, passando pelo apartheid na África do Sul e os bastidores da Cortina de Ferro.
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É 1986, e o comunismo está se desmoronando. A República Democrática Alemã (RDA), sob regime socialista, esta indo à falência, enquanto na União Soviética se fala de reformas abrangentes, segundo as políticas glasnost e perestroika do presidente Mikhail Gorbachev.
Depois de ser banido para Angola, em seguida a uma missão fracassada na Alemanha Ocidental (RFA), o espião Martin Rauch – interpretado por Jonas Nay na série Deutschland 86 – é novamente convocado para trabalhar com sua tia Lenora (Maria Schrader), alta funcionária da HVA, o serviço secreto exterior da antiga Alemanha Oriental.
Como o governo da RDA está desesperado por divisas, a fim de sustentar sua economia em apuros, a agência encarrega Rauch, codinome "Kolibri", de vender para a África do Sul, em pleno apartheid, armas, ironicamente fabricadas na Alemanha Ocidental.
E assim começa a tão esperada sequência da série dramática de espionagem Deutschland 83. Ao ir ao ar em 2015, depois de um começo morno, sua primeira temporada cativou os fãs da Guerra Fria, ganhando popularidade a cada novo episódio.
Nos bastidores da Guerra Fria – e mais além
Deutschland 86 se concentra tanto na resistência e opressão na África quanto nos acontecimentos por trás da Cortina de Ferro, onde o clima era de mudança. O novo enredo foi uma espécie de revelação para o ator principal, Jonas Nay, nascido em 1990, um ano após a queda do Muro de Berlim.
"Eles [o governo da RDA] tentaram de todos os modos possíveis conseguir dinheiro para o Estado falido. Tinha tantas coisas acontecendo, como negócios ilegais com armas e experimentos farmacêuticos ou médicos, e são coisas de que eu nunca tinha ouvido falar", diz.
A missão de salvar a Alemanha Oriental da destruição leva sua personagem, Rauch, a Trípoli, Paris, Berlim Ocidental e mais além. Após passar por tantos acontecimentos dramáticos na primeira temporada, Rauch está em conflito entre a necessidade de espaço e o desejo de voltar para casa.
Na primeira temporada, "ele matou um homem e teve que enterrar a mulher que amava – na floresta, coisa super pesada – e isso o transformou muito", disse Nay em entrevista à DW. "Ao mesmo tempo, ele tem um filho de três anos que nunca viu, que vive em Berlim Oriental com a ex-namorada dele."
A temporada dois promete mais missões escusas e perigosas para "Kolibri", tendo como pano de fundo a perestroika, sujas guerras por procuração, a luta contra o apartheid e um ano de terrorismo na Europa Ocidental.
Poder da música
Nay promete que Deutschland 86 terá "um monte de cenas loucas", totalmente filmadas na África do Sul em 2017– até mesmo as passadas em Berlim Oriental. "Uma sequência que eu adoro foi filmada nas dunas da Cidade do Cabo. É como um deserto, mas só com alguns quilômetros. Mas você está guiando veículos 4x4 pelo meio das dunas, então, se sente como se estivesse no Deserto da Líbia."
Os fãs de Deutschland 83 elogiaram a forma como hits do início dos anos 80, de Nena, Blondie, Duran Duran e outros, foram criativamente entrelaçados na trama. O tema musical da série, Major Tom, de Peter Schilling, também a ajudou a tornar-se imediatamente identificável.
A segunda temporada igualmente apresenta sucessos de meados dos anos 80, de artistas como Talk Talk, Falco, Salt 'n' Pepper e Talking Heads. "A música sempre tem a capacidade de transportar você para um [determinado] tempo, num instante", comentou Nay. Assim, os espectadores podem "pintar seu próprio quadro e retornar a um sentimento muito pessoal" que tinham na época.
Deutschland 86 estreia em streaming na Alemanha, pela Amazon Prime, nesta sexta-feira (19/10); e nos Estados Unidos, na Sundance TV, em 25 de outubro. A série deverá ir ao ar em diversos outros países a partir do começo de 2019. Os autores já prometem uma terceira temporada, Deutschland 89, situada no ano em que o Muro de Berlim caiu.
Com o fim da Alemanha Oriental e da Guerra Fria, muitos prédios históricos ficaram abandonados em Berlim, e uma aura de mistério paira sobre sanatórios fechados e áreas militares evacuadas após a retirada dos soviéticos.
Foto: picture-alliance/dpa/K. D. Gabbert
Era uma vez um parque temático
O blogueiro Ciaran Fahey listou, em seu livro "Abandoned Berlin", locais da capital alemã que perderam seu sentido original, ficando quase esquecidos. É o caso do parque temático conhecido como Plänterwald antes da queda do Muro. Após 1989, ele foi reformado e virou o Spreepark, atraindo até 1,5 milhão de visitantes por ano. Hoje está inteiramente abandonado.
Foto: picture-alliance/dpa/K. D. Gabbert
De centro de escuta a street art
O Teufelsberg ("Montanha do Diabo", em tradução literal) é um monte de entulhos de 120 metros de altura. Sobre os escombros de uma faculdade nazista explodida, os Aliados ergueram uma estação de escuta durante a Guerra Fria, para espionar a então Alemanha Oriental, subordinada à União Soviética. Hoje é um ponto de street art, com trabalhos de artistas mundialmente famosos.
Escondida nas profundezas de uma floresta em Brandemburgo fica uma cidade perdida construída pelos soviéticos como base militar após a Segunda Guerra. "Vogelsang já teve 18 mil moradores, entre militares e suas famílias, inclusive com escolas e lojas", conta Fahey. Agora, o local está sendo reflorestado.
Foto: Imago/C. Ditsch
Sanatório de Beelitz
Um silêncio mortal reina nos quartos em ruínas deste antigo hospital militar usado nas duas guerras mundiais, e pelos russos na Guerra Fria. Hitler foi tratado aqui na 1ª Guerra; assim como o líder alemão-oriental Erich Honecker em 1990, após sua saída do Partido Socialista Unitário (SED). Partes dos filmes "O pianista" e "Operação Valquíria" foram rodadas neste sanatório abandonado.
Foto: Imago/CHROMORANGE
Colossal complexo químico
A fábrica de produtos químicos e cimento Rüdersdorf está desativada desde 1999. No início do século 20, eram produzidos aqui ácido sulfúrico e cimento. O antigo complexo industrial também continha prédios de escritórios. Suas paredes fazem hoje a alegia dos grafiteiros.
Foto: Imago
Sede do serviço secreto comunista
Informações detalhadas sobre os moradores da então Alemanha Oriental eram meticulosamente reunidas e armazenadas na sede da Stasi, a polícia secreta da antiga República Democrática Alemã (RDA). Após a queda do Muro, em 1989, o prédio virou a sede do Escritório Federal de Estatísticas e dos arquivos da Stasi. Desde que as duas instituições se mudaram, em 2008, o prédio está abandonado.
Foto: picture-alliance/dpa/K. D. Gabbert
Sanatório Hohenlychen
A antiga clínica para tuberculosos virou centro de "medicina desportiva" durante a Segunda Guerra Mundial. Não só figurões do nazismo se trataram aqui, mas também pacientes vindos de várias partes do mundo. Apesar da beleza do prédio, o sanatório Hohenlychen tem uma história macabra: "O médico-chefe fazia experiências com internas do campo de concentração de Ravensbrück, aqui perto", conta Fahey.
Foto: picture-alliance/dpa/K. D. Gabbert
Aeroporto Tempelhof
Construído em 1920, o Aeroporto Tempelhof foi centro de produção de armamentos na 2ª Guerra, virando depois local de pouso para o transporte aéreo a Berlim Ocidental. Aventureiros que visitam esta vasta área podem ver antigos abrigos antiaéreos e bunkers. O maior espaço aberto em Berlim também é usado para eventos como festivais de música e concertos.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Steinberg
Cidade fantasma de Wünsdorf
Esta cidade fantasma é rica em história militar. Depois de ser usada pelo Exército alemão na 2ª Guerra, foi quartel-general das forças militares soviéticas durante a Guerra Fria. Os berlinenses a chamam de "cidade proibida", porque é expressamente proibido entrar em Wünsdorf. Tratava-se de uma cidade completa, com 600 hectares para casas, escolas, creches, lojas, uma enorme piscina e um teatro.
Foto: picture-alliance/ZB/R. Hirschberger
Casernas de Krampnitz
Hoje caindo aos pedaços, estes quartéis construídos em 1937 foram usados pelos nazistas na Segunda Guerra. Durante a Guerra Fria, as casernas de Krampnitz foram ocupadas pelos soviéticos, que as deixaram em 1992.