Programa de animação é criticado como nojento e inapropriado. Pesquisador acusa "celebração do poder da genitália masculina" de ser prejudicial à igualdade de gêneros.
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Um personagem de uma série de animação trajando roupas de banho listradas, caracterizado por ter o "pênis mais comprido do mundo", estreou no último fim de semana em um programa infantil dinamarquês, criando polêmica no progressista país escandinavo.
"Consideramos uma tarefa importante poder contar histórias sobre o corpo. Com a série, reconhecemos a crescente curiosidade [das crianças] pelo corpo e pelos órgãos genitais, assim como a vergonha e o prazer do corpo", defendeu a emissora pública dinamarquesa DR nesta terça-feira (06/01) no Facebook.
O protagonista John Dillermand dá nome à série de animação transmitida pelo canal infantil Ramasjang, da rede DR. O primeiro dos 13 episódios já teve 140 mil visualizações.
O programa é dirigido a meninos de quatro a oito anos. O protagonista John é um homem bigodudo com um pênis exageradamente comprido, representado por uma corda, que sai de seu traje de banho listrado de vermelho e branco quando ele o veste para atividades diárias, como levar seu cachorro para passear, andar de bicicleta ou passear no zoológico.
O personagem costuma se encontrar em situações rocambolescas, chegando a voar sobre a cidade com o pênis preso a balões.
"É um programa muito dinamarquês", diz Sophie Münster, especialista em educação, em entrevista à agência de notícias AFP. "Temos uma tradição de ultrapassar os limites de uma forma humorística e considerar isso totalmente normal."
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Indignação
No entanto, muitos dinamarqueses mostraram sua indignação. "É o programa mais nojento e menos apropriado para crianças em uma rede especializada em muito tempo", criticou um internauta.
"Não acho que ver a genitália de um homem adulto deva se tornar normal para as crianças. Isso é um serviço público?", questionou o parlamentar de extrema direita Morten Messerchmidt no Facebook.
"Esse debate parte da perspectiva dos adultos, em que o pênis comprido é sexualizado. As crianças, por sua vez, têm uma perspectiva totalmente diferente", diz Münster. "O tamanho do pênis é tão exagerado que as crianças percebem se tratar de uma piada."
Christian Groes, professor e pesquisador de gênero na Universidade de Roskilde, na Dinamarca, disse acreditar que a celebração do programa do poder da genitália masculina só pode prejudicar a luta pela igualdade de gêneros.
"Está perpetuando a ideia padrão de uma sociedade patriarcal e normalizando a 'cultura do vestiário', que tem sido usada para desculpar muitos maus comportamentos dos homens. É para ser engraçado, por isso é visto como inofensivo. Mas não é. E estamos ensinando isso aos nossos filhos”, afirmou, em reportagem do jornal britânico The Guardian.
"É essa realmente a mensagem que queremos enviar às crianças enquanto estamos no meio de uma enorme onda #MeToo?", escreveu a escritora dinamarquesa Anne Lise Marstrand-Jorgensen.
MD/afp/ots
Os 30 anos da Convenção sobre os Direitos da Criança
Texto foi adotado pelas Nações Unidas em 20 de novembro de 1989. Três décadas depois, o que as crianças sabem sobre os seus direitos? Meninos e meninas de três continentes responderam à Deutsche Welle.
Foto: picture-alliance/F. Gentsch
Direito ao respeito
"As crianças têm que estudar, brincar, ser o que quiserem e ser respeitadas, que é o direito mais importante."
Thalita Fernanda, 9 anos, São Luís, Maranhão, Brasil
Foto: Plan International Brazil
Direitos iguais a todas as crianças
"Há direitos especiais às crianças, como o direito à educação, o direito a não serem exploradas e o direito ao lazer. As crianças também têm o direito de serem cuidadas e não apanhar. Acho que nos países em desenvolvimento muitos desses direitos são ignorados. Mas as crianças têm os mesmos direitos em todo o mundo."
Pekka, 11 anos, Bonn, Alemanha
Foto: DW/I Wrede
Direito à identidade
"Toda criança tem direito a um nome e também de ser cuidada por seus pais ou pais adotivos. O direito de que eu mais gosto é o de poder expressar a minha opinião. Costumo exercer esse direito de maneira constante."
Hlib, 13 anos, Kiev, Ucrânia
Foto: DW/L. Rzheutska
Uma criança, muitos direitos
"Tenho direito a ir à igreja e rezar. Tenho direito de brincar com meus amigos. Tenho direito de me defender na escola. Tenho o direito de viver. Tenho direito a um teto sobre a minha cabeça e também a comida. Tenho direito à educação e a visitar a minha família."
Neil Amoah, 10 anos, Acra, Gana
Foto: DW/I. Kaledzi
Direito de ser criança
"Eu aprendi que temos direito a uma boa educação, de qualidade, e a não sermos obrigados a trabalhar como os adultos. Também temos direito a brincar com outras crianças, sem sermos discriminados por raça, sexo ou cor. Criança tem direito a ser criança."
Brenda Maria, 12 anos, Teresina, Piauí, Brasil
Foto: Privat
Direito à educação
"As crianças têm direito à educação, à alimentação, à água potável, atenção das outras pessoas e proteção. O direito à educação é o mais importante para mim, pois quero ser uma pessoa educada e ter uma boa profissão."
Sakina, 8 anos, Bonn, Alemanha
Foto: Kishwar Mustafa
Direito de brincar
"Conheço meus direitos como criança. O mais importante, para mim, é o direito à liberdade de expressão. Também de brincar e descansar, porque nenhuma criança ou mesmo um adulto podem ser produtivos por muito tempo. No que diz respeito à liberdade de expressão, a opinião de uma criança deve ser aceita pela sociedade, mesmo que seja diferente de outras."
Bohdan, 14 anos, Kiev, Ucrânia
Foto: DW/L. Rzheutska
Direito à saúde
"Eu sei que as crianças têm direitos. E sei também que existe o Estatuto da Criança e do Adolescente, que fala de um conjunto de direitos voltados para nós. E o direito que eu acho mais importante é à saúde porque, sem saúde, você não pode brincar nem estudar."
Nicole, 10 anos, São José de Ribamar, Maranhão, Brasil
Foto: Plan International Brazil
Alimentação, educação e segurança
"As crianças têm os seus próprios direitos. Considero especialmente importante que todas as crianças tenham comida e bebida, educação, segurança, uma família e que não precisem ser exploradas ou trabalhar. Há países onde isso acontece. Acho isso muito ruim, já que as crianças não podem se defender contra isso. Os adultos são muito mais fortes."
Friederika, 12 anos, Colônia, Alemanha
Foto: DW/H. Jeppesen
Jovens são politicamente ativos
"Acho que o direito à educação é o mais importante, porque todas as crianças devem ter oportunidade de ter educação, inclusive as meninas. Naturalmente, as questões climáticas também são muito importantes para mim. E o exemplo de Greta Thunberg mostra que os jovens, agora, são mais ativos politicamente. Acho isso muito bom."
Tadeo, 16 anos, Bonn, Alemanha