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Sérvios levam Alemanha ao banco dos réus

ef16 de outubro de 2003

Quatro anos após os ataques da Otan para deter a ação militar do ditador Milosevic no Kosovo, familiares das vítimas do bombardeio de uma ponte exigem da Alemanha, na Justiça, indenização de 1,5 milhão de euros.

Restos da ponte destruída por bombardeiros da OtanFoto: AP

No domingo ensolarado de 30 de maio de 1999, dez pessoas foram mortas e outras 17 ficaram gravemente feridas, em duas ondas de ataques que jatos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) fizeram sem advertência. O número de vítimas foi grande porque a população festejava nas ruas o Dia da Santa Trindade. O alvo foi a ponte de Varvarin, uma cidade de apenas quatro mil almas. Não havia soldados estacionados no lugar.

Ironicamente, a ponte destruída sobre o Rio Morava tinha sido uma reparação do Reich alemão por danos causados na Primeira Guerra Mundial. A obra de aço foi desmontada na Alemanha e montada nos Bálcãs.

Os autores da ação judicial atual são 35 parentes das vítimas, entre eles o prefeito de Varvarin, Zoran Milenkovic, que perdeu sua filha Sanja, de 15 anos, no bombardeio. A Alemanha está sendo processada por participação na guerra da Otan, que acabou com a ditadura no que restou da antiga Iugoslávia e levou o ditador Slobodan Milosevic ao banco dos réus do Tribunal da ONU, que julga, em Haia, crimes de guerra e contra a humanidade cometidos na Iugoslávia.

Zoran Milenkovic (dir), prefeito de Varvarin, perdeu a filha no bombardeioFoto: AP

Processo inédito

- O julgamento, com sentença esperada para 10 de dezembro, é o primeiro do gênero contra a Alemanha. Até agora o país só reparou danos de guerra através de acertos com outros Estados e nunca com pessoas isoladamente. Mas a recente sentença da Suprema Corte sobre o massacre perpetrado por alemães na Grécia, durante a Segunda Guerra Mundial, deixou em aberto se pode haver reparação de guerra também para cidadãos.

O processo em Bonn trata, portanto, de uma questão de princípio: cidadãos têm o direito de exigir judicialmente indenização de guerra de um Estado ou isto é uma causa a ser decidida entre dois Estados? Representantes do Ministério da Defesa alemão expressaram suas condolências aos familiares das vítimas, no Tribunal, e justificaram que a Otan teria feito tudo para evitar vítimas civis. O ataque a Varvarin teria sido um incidente lamentável.

Proteção civil -

A Alemanha rejeita, todavia, exigências individuais de indenização. O advogado Ulrich Karpenstein, que representa o Estado alemão no processo, alega que nenhum dos 14 aviões de reconhecimento do tipo Tornado que a Alemanha mandou para a guerra na Iugoslávia participou do bombardeio da ponte. Portanto, o país não teria culpa alguma. Além do mais, reparação de guerra só seria regulamentada entre Estados.

Os advogados das vítimas insistem em sua acusação no Tribunal: o ataque da Otan sobre a ponte foi uma violação ao direito internacional humanitário, que ordena a proteção da população civil em guerras. Outro agravante que eles apontam é o fato de que não havia soldados estacionados no lugar e, por conseguinte, também não havia motivo para o bombardeio. O fato de aviões alemães terem participado ou não do ataque à ponte de Varvarin não teria importância no processo judicial, segundo a advogada das vítimas Gül Pinar:

"Na Otan prevalece o princípio de unanimidade. Decisões sobre quais aviões participam de um ataque, onde, quando e qual é o alvo só podem ser tomadas por todos os participantes da guerra. E quem participou da decisão faltou com o seu dever de proteger a população civil."

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