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Síndrome de Hellp: um grande risco para gestante e bebê

Clare Roth
2 de março de 2024

Forma de pré-eclâmpsia rara, mas perigosa, costuma aparecer de repente com sintomas que parecem normais da gravidez.

Mão sobre barriga de grávida
Manter um cuidado pré-natal regular é uma das formas mais eficazes de acompanhar alterações sutis que poderiam indicar pré-eclâmpsia ou síndrome de HellpFoto: Andrey Popov/Pond5 Images/IMAGO

Lisa, uma escocesa que mora em Abu Dhabi, estava no meio do que parecia ser uma gravidez normal. Sua pressão arterial estava dentro dos padrões e, em suas consultas regulares, tudo parecia estar evoluindo de maneira adequada.

Contudo, por volta das 20 semanas, Lisa notou um único sinal de que algo poderia não estar bem: o feto estava menor do que o esperado para aquela fase. Seu médico afirmou que monitorariam a situação, mas que não havia motivo para preocupação. Quatro semanas depois, ela começou a sentir o que ela achava ser azia. Alguns dias depois, a sensação ainda persistia, então procurou o médico.

Após alguns exames, incluindo de urina e medição da pressão arterial, ela foi liberada. O médico afirmou que tudo aparentava estar normal. Mas a dor aumentou ao longo das próximas 24 horas, tornando-se tão intensa que Lisa sabia que precisava ir ao pronto-socorro.

Lá, após mais exames, Lisa foi transferida às pressas para um hospital regional maior. Ao chegar, ela teve uma convulsão. Ela foi levada para a cirurgia para realizar o parto.

Dois dias depois, ela acordou ao lado do filho, Angus, e recebeu a notícia de que enquanto ela estava dormindo, seu fígado havia se rompido – uma complicação muito rara de uma forma de pré-eclâmpsia grave denominada síndrome de Hellp,

"Hellp" é a sigla em inglês para hemólise (H), aumento das enzimas hepáticas (EL) e redução na contagem de plaquetas (LP). Hemólise significa que as células vermelhas do sangue estão se rompendo, enquanto a elevação das enzimas hepáticas indica uma lesão no fígado.

"Não compreendemos completamente por que cada uma dessas coisas acontece", comenta Brian Brocato, médico e professor de medicina materno-fetal da Universidade do Alabama. Os médicos suspeitam ser uma consequência do processo de pré-eclâmpsia que apresenta uma taxa de sobrevivência de 50% para as mães. 

Sinais sutis da síndrome de Hellp

Os bebês também correm riscos: nascidos entre 23 e 24 semanas são tão pequenos e frágeis que frequentemente não conseguem sobreviver. Angus, o filho de Lisa, viveu apenas sete dias.

"Quando meu pai me levou para [a sala de emergência] naquela segunda-feira às 20h, eu não achava que esse seria o resultado, que Angus nasceria", compartilhou Lisa. "Não sei exatamente o que eu esperava que fizessem, mas certamente não imaginava que seria isso."

Histórias como a de Lisa são emblemáticas do perigo da síndrome de Hellp. Essa doença rara é geralmente caracterizada por médicos como uma forma grave de pré-eclâmpsia, explica Brocato.

Apesar de muitas mulheres que desenvolvem a síndrome manifestarem sintomas de pré-eclâmpsia, como pressão alta no início da gravidez, algumas delas não apresentam esses sinais. Muitas vezes a doença parece surgir de maneira repentina, como no caso de Lisa.

"Uma mulher nem sempre vai saber através dos sintomas que sua contagem de plaquetas diminuiu, que a função do fígado está elevada", diz Brocato. "Os sintomas extremos de dor no lado direito ou sangramento das gengivas podem não ocorrer até que os resultados laboratoriais estejam muito anormais."

Sintomas intensificados, como dor de cabeça ou inchaço persistente,podem ser um sinal de HellpFoto: Erik Reis/IKOstudio/Zoonar/picture alliance

Os médicos precisam estar cientes disso, ressalta Brocato, acrescentando que sintomas comuns da gravidez, como azia, inchaço, dores de cabeça e um leve aumento da pressão arterial não são necessariamente sinais de pré-eclâmpsia ou Hellp, mas podem ser e exigem atenção adicional.

"Uma grande quantidade de pacientes, e eu até diria profissionais de saúde, muitas vezes ignora sintomas muito sutis porque podem ser sintomas normais da gravidez", diz Brocato.

Coisas "que não entendemos"

A DW conversou com outras duas mulheres que relataram experiências semelhantes com a síndrome de Hellp. Sandra teve uma gravidez aparentemente saudável, mas que ela deu à luz cinco semanas antes do previsto após desenvolver a Hellp. Isso foi apenas um dia depois de um check-up de rotina e exames de sangue indicarem que tudo estava bem.

Já Katie desenvolveu a síndrome em sua terceira gravidez. Suas duas primeiras gestações foram saudáveis, e embora ela tenha tido pressão alta durante a terceira, a Hellp surgiu rapidamente e com pouco aviso, resultando no parto de seu bebê com 28 semanas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera prematuros os bebês que nascem antes de completar 37 semanas de gestação.

Na pré-eclâmpsia clássica, a pressão arterial sobe devido à constrição dos vasos sanguíneos. Isso pode reduzir o fluxo de sangue para o fígado e levar a uma diminuição na contagem de plaquetas. O conhecimento atual sobre a doença e sobre a Hellp indicam que ambas derivam de complicações no desenvolvimento da placenta.

É provavelmente por isso que Angus, o bebê de Lisa, estava com um tamanho menor do que o esperado às 20 semanas, explicou Brocato. "Frequentemente, observamos restrição de crescimento e pré-eclâmpsia acontecendo em conjunto."

É essencial monitorar a pressão arterial durante a gravidez para verificar sinais de pré-eclâmpsia ou síndrome de HellpFoto: Ute Grabowsky/photothek/picture alliance

O desenvolvimento comprometido da placenta eventualmente se revelará como uma complicação da gravidez, explicou Brocato, destacando que, na maioria dos casos, isso se manifesta como pré-eclâmpsia próxima à data do parto. Nessas situações, normalmente, é possível realizar o parto de um bebê saudável.

"Contudo, há um grupo de mulheres, e estamos abordando questões que ainda não compreendemos, que desenvolverão essa doença grave muito rapidamente ou muito cedo na gravidez. E não há uma explicação para isso", disse Brocato. Isso pode incluir mulheres que não apresentam aparentemente nenhum fator de risco para pré-eclâmpsia.

Os médicos também não compreendem completamente por que uma pequena porcentagem de mulheres desenvolve a síndrome de Hellp ou pré-eclâmpsia grave após o parto, quando a placenta já foi removida.

Brocato disse que isso é particularmente perigoso porque após o parto, as mulheres não são monitoradas tão de perto quanto durante a gravidez, e os sinais de pré-eclâmpsia podem passar despercebidos. "Pode ser que vejamos a mulher uma ou duas vezes por semana, justo antes do nascimento do bebê. E depois que o bebê nasce, podemos não vê-la por várias semanas".

Ele ressaltou que é crucial que as mulheres e seus profissionais de saúde estejam atentos a quaisquer sintomas potenciais de pré-eclâmpsia que possam surgir após o parto, como dores de cabeça ou aumento do inchaço.

Incidência da síndrome varia conforme região

A síndrome de Hellp é uma complicação rara na gravidez. É muito difícil medir quão comum é globalmente, afirma Peter von Dadelszen, professor de saúde global da mulher no King's College de Londres, porque em muitos países não há uma definição local para pré-eclâmpsia ou Hellp.

Os fatores de risco incluem hipertensão antes da gravidez, histórico familiar, diabetes, obesidade, pré-eclâmpsia em gestações anteriores, tratamentos para infertilidade e condições autoimunes, como o lúpus. Ambos os especialistas, Brocato e von Dadelszen, afirmaram que as mulheres negras parecem ter uma probabilidade maior de desenvolver pré-eclâmpsia.

Em geral, as pesquisas mostram que cerca de 3% a 8% das grávidas terão pré-eclâmpsia. No entanto, isso pode variar dependendo de onde a mulher mora. Brocato, que trabalha no estado do Alabama — que possui a sexta maior taxa de pobreza, a sexta maior taxa de obesidade e a terceira maior taxa de hipertensão nos Estados Unidos — disse que a porcentagem lá se aproxima de 20%.

Das mulheres que apresentam pré-eclâmpsia, segundo Brocato, cerca de 5% das pacientes que ele atende desenvolvem a síndrome de Hellp. Algumas estimativas indicam que a síndrome possui uma taxa de mortalidade de 25%. No entanto, von Dadelszen ressaltou que essas taxas também variam conforme a região.

"Não tive nenhuma morte materna em quase 40 anos. Isso provavelmente é mais sorte do que habilidade, e tenho visto muitos casos da síndrome de Hellp. Portanto, em países de alta renda, se você tiver essa síndrome e procurar o hospital, posso quase garantir que você sobreviverá", afirmou von Dadelszen. "Agora em um hospital distrital em uma área rural da África, o resultado é menos previsível."

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