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Síria aceita monitoramento internacional proposto por Kofi Annan

16 de março de 2012

O governo sírio disse querer "facilitar" a missão do enviado da ONU e da Liga Árabe, mas continuará combatendo "terroristas". Em reunião com o Conselho de Segurança, Annan pediu que membros busquem consenso.

Foto: picture alliance/Photoshot

Em conversa com o Conselho de Segurança das Nações Unidas nesta sexta-feira (16/03), o enviado especial para a Síria, Kofi Annan, disse que enviará técnicos a Damasco na próxima semana, para discutir a possível missão de monitoramento. A informação partiu de diplomatas que participaram da reunião a portas fechadas.

O Ministério sírio do Exterior "saúda a visita da equipe técnica formada pelo enviado Kofi Annan para discutir questões ligadas à sua missão na Síria", relatou a agência de notícias estatal Sana.

Damasco prometeu cooperar com Annan, porém não abre mão de combater o "terrorismo", que é como o regime chama a revolta. O governo está "determinado a proteger seus cidadãos, desarmando os terroristas, e continua em busca de uma solução pacífica para a crise, ao cooperar com o enviado especial", como consta de uma carta endereçada à ONU, publicada pela agência Sana.

Rússia e China seguem bloqueando

Annan, que falou ao Conselho de Segurança a partir de Genebra por meio de vídeoconferência, deu poucos indícios de que o presidente Bashar al-Assad esteja disposto a cessar a investida militar contra as cidades insurgentes.

O enviado da ONU e da Liga Árabe alertou para um "sério impacto sobre toda a região, se a situação não for tratada da maneira certa". Ele declarou ter encorajado o Conselho de Segurança a "se pronunciar numa só voz" sobre a crise. Tratou-se de uma referência à Rússia e China, que já por duas vezes vetaram as propostas do Conselho de ação contra Assad.

"Quanto mais forte e unificada for a sua mensagem, maiores serão as nossas chances de inverter as dinâmicas do conflito", declarou Annan ao Conselho de Segurança. O ex-secretário-geral da ONU lembrou que as "seis propostas" a Assad continuam sobre a mesa, mas que não tem qualquer "ilusão" sobre a escala de sua missão, diante de um conflito que já entra em seu segundo ano.

Conflito sírio já dura mais de um anoFoto: AP

Oposição pede intervenção militar

Milhares de manifestantes antirregime pediram por uma intervenção militar estrangeira para derrubar o governo sírio, cuja brutal repressão contra os opositores já deixou mais de 9.100 mortos, entre os quais cerca de 6.600 civis, 2 mil membros das forças de segurança e 471 rebeldes.

Os protestos após as orações desta sexta-feira foram convocados pelos ativistas em sua página no Facebook, "Syrian Revolution 2011", para exigir "uma intervenção militar imediata dos árabes e muçulmanos, seguida pelo resto do mundo".

Milhares participaram de protestos nas províncias de Homs e Daraa, no sul, bem como em vários distritos de Damasco e região, disse Rami Abdel Rahman, do Observatório Sírio de Direitos Humanos, com sede em Londres.

Um dia após o primeiro aniversário do início da revolta contra o presidente Bashar al-Assad, o grupo de monitoramento registrou pelo menos 15 vítimas fatais de confrontos violentos, em todo o país. Manifestações de apoio a Assad também foram realizadas em Damasco e outras grandes cidades do país, para marcar o aniversário da revolta.

Campos de refugiados na fronteira da turco-síria abrigam mais de 17,4 milFoto: Reuters

Turquia quer zona de segurança

O primeiro ministro turco, Recep Tayyip Erdoğan, sugeriu nesta sexta-feira a criação de uma "zona tampão" ou "de segurança", na fronteira de seu país com a Síria. A ideia faz parte de uma série de medidas que devem ser discutidas durante a segunda reunião do grupo "Amigos da Síria", marcada para 2 de abril em Istambul, declarou Erdoğan à agência de notícias estatal Anatolian.

Desde a semana passada, o número de refugiados que chegam à Turquia vindos da Síria saltou de 100 para mais de mil por dia. Autoridades turcas calculam que cerca de 14,7 mil refugiados haviam entrado no país, até a quinta-feira. Erdoğan afirma que os campos, estabelecidos nas regiões fronteiriças de Hatay e Kilis como um "primeiro passo", podem abrigar até 20 mil pessoas.

A ONU estima que mais de 30 mil sírios refugiaram-se em países vizinhos, e que outros 200 mil tenham sido internamente deslocados, devido à violência. O Ministério turco do Exterior alertou seus cidadãos na Síria para deixarem o país e informou que a embaixada turca em Damasco vai interromper seus serviços consulares a partir das 17h (hora local) de 22 de março.

Erdoğan estuda "zona de segurança"Foto: dapd

Isolamento de Assad aumenta

Sublinhando o crescente isolamento do presidente sírio, quatro membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) anunciaram o fechamento de suas embaixadas, em protesto contra a repressão, segundo informou a agência Saudi Press. O Kuwait, Omã, Emirados Árabes Unidos e Catar seguiram os passos da Arábia Saudita e do Barein, interrompendo suas atividades diplomáticas na Síria.

A Rússia, um dos poucos aliados restantes de Assad, condenou a decisão, dizendo ser importante manter abertos os canais de comunicação. Mikhail Bogdanov, vice-ministro do Exterior, declarou à imprensa em Moscou que os apelos internacionais para Assad deixar o poder seriam "contraprodutivos, pois mandam à oposição o falso sinal de que não há nenhuma razão para entrar em diálogo".

FF/ap/afp/dpa/rtr
Revisão: Augusto Valente