Regime de Assad denuncia que três soldados morreram e outros 13 ficaram feridos num ataque da coalizão internacional ocorrido. EUA, que lideram a aliança contra o EI na região, negam o incidente.
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O regime de Bashar al-Assad acusou nesta segunda-feira (07/12) a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos de realizar um ataque aéreo a uma base do Exército sírio, que teria matado três soldados e ferido outros 13. Damasco enviou uma carta ao Conselho de Segurança da ONU e ao secretário-geral Ban Ki-moon protestando sobre o incidente.
No documento, divulgado nesta segunda-feira pela imprensa estatal síria, o governo Assad denuncia que quatro aeronaves da coalizão internacional atingiram uma base militar na cidade de Deir el-Zour, no leste do país, na noite de domingo. O ataque também destruiu veículos e um depósito de munições. A localidade, situada na província de mesmo nome, está na maior parte sob poder do EI, ainda que tropas do governo controlem algumas áreas da capital.
"A República Árabe Síria condena com veemência essa agressão flagrante pelas forças da coalizão liderada pelos EUA, que viola abertamente os objetivos do estatuto da ONU", afirma a carta. "O Ministério do Exterior da Síria exige que o Conselho de Segurança aja imediatamente frente a essa agressão e tome as medidas apropriadas para evitar que isso se repita."
O documento afirma ainda que o incidente "prejudica os esforços para combater o terrorismo e comprova mais uma vez a falta de seriedade e credibilidade desta coalizão para lutar efetivamente contra o terrorismo".
O coronel Steve Warren, porta-voz da coalizão, negou o incidente, afirmado que não foram realizados ataques nessa região durante o domingo. "Atacamos a 55 quilômetros de distância da área que os sírios dizem ter sido atingida", rebateu, dizendo que o alvo do ataque teria sido um manancial numa região desabitada. O representantes do presidente americano, Barack Obama, na coalizão, Brett McGurk, também negou o ataque.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que monitora o conflito na Síria através de uma rede de ativistas no país, reconheceu o incidente, afirmando acreditar que a aeronave responsável pelo ataque seria de fato da coalizão internacional.
Se confirmado o ataque, esta será a primeira vez que as forças da coalizão que combatem os extremistas do "Estado islâmico" (EI) na Síria e no Iraque atingem posições do Exército sírio.
RC/afp/ap
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.