"Síria não precisa de mais armas", afirma líder europeu
20 de outubro de 2016
Em entrevista à DW, Martin Schulz diz que ações da Rússia são inaceitáveis e é necessário enviar mensagem firme a Putin. UE pode servir de mediadora na guerra civil, diz.
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Para o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, as ações da Rússia na Síria são inaceitáveis e a União Europeia (UE) precisa enviar uma mensagem clara ao presidente russo, Vladimir Putin. "Portanto, a mensagem dos europeus ao senhor Putin deve ser: nós não concordamos com o senhor."
Porém, a porta para o diálogo deve se manter aberta, acrescentou. "Nesse ponto a União Europeia poderia ser um mediador. De fato, nós já fazemos isso", disse Schulz, em Bruxelas.
DW: O que o senhor espera da cúpula da União Europeia em relação à Rússia?
Martin Schulz: O que a Rússia está fazendo é totalmente inaceitável. Por trás das ações agressivas da Rùssia encontra-se um outro conceito de sociedade, uma visão de mundo que não é condizente com a nossa filosofia europeia de respeito mútuo e de ser uma sociedade de mente aberta.
Portanto, a mensagem dos europeus ao senhor Putin deve ser: nós não concordamos com o senhor! E nós nos mantemos firmes na nossa contra-estratégia, mas a porta permanece aberta caso o senhor queira retornar à mesa de negociações.
O senhor está frustrado por a União Europeia não ter qualquer influência sobre o conflito na Síria?
A União Europeia é quem mais envia auxílio humanitário à Síria. O nosso problema é que, mesmo assim, ainda não podemos dar às pessoas o apoio de que elas necessitam...
...o senhor quer dizer armas?
Eu não concordo que a União Europeia não tenha qualquer influência. E já que você mencionou armas: eu digo que o que a Síria precisa não são mais armas. Muito pelo contrário. A Síria precisa de menos armas e menos confronto militar.
Neste ponto a União Europeia poderia ser um mediador. De fato, nós já fazemos isso. Federica Mogherini [chefe da diplomacia da UE] e os ministros europeus do Exterior, como o da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, estão muito empenhados.
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.