Organização das Nações Unidas afirma que prestará assistência humanitária a três cidades sírias, incluindo Madaya, onde 42 mil pessoas correm risco de morrer de fome. Localidade não recebe suprimentos desde outubro.
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O governo sírio autorizou o envio de ajuda humanitária a três cidades sitiadas na Síria, afirmou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quinta-feira (07/01). De acordo com o órgão, em uma das cidades, Madaya, há por volta de 42 mil pessoas presas correndo risco de morte por falta de suprimentos.
"A ONU saúda a aprovação do governo sírio de acesso a Madaya, Fua e Kefraya, e está se preparando para prestar assistência humanitária a essas cidades nos próximos dias", diz um comunicado da entidade, que também usou o Twitter para dar a notícia.
De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos, a cidade de Madaya, situada a cerca de 40 quilômetros de Damasco, está cercada pelas tropas do regime sírio e pelo grupo radical xiita libanês Hisbolá há mais de 170 dias.
A cidade é bombardeada constantemente na tentativa de combater os rebeldes que vivem no local em meio aos civis. Madaya fica próxima à fronteira com o Líbano e, por isso, é uma localidade estrategicamente importante.
Segundo ativistas, 39 pessoas já morreram na cidade por fome e frio, embora esse número não tenha sido confirmado oficialmente. Agências de notícias afirmam que os cidadãos têm se alimentado inclusive da carne de cachorros e gatos e de vegetação, além de queimar móveis e outros itens para se aquecer durante o inverno.
A última vez que Madaya recebeu ajuda humanitária foi em outubro, por funcionários da Cruz Vermelha e da Meia Lua Vermelha Síria. "O que na época já era ruim", diz Dibeh Fakhr, porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vemelha. "Quando levamos ajuda em outubro, as pessoas não tinham comida, água ou acesso a serviços médicos."
Segundo as Nações Unidas, cerca de 4,5 milhões de pessoas vivem em áreas de difícil acesso na Síria. Dessas, 400 mil estão presas em 15 localidades sitiadas, sem acesso a suprimentos necessários à sobrevivência.
EK/afp/dpa/efe/rtr
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.