Síria reposiciona forças diante de ameaça de ataque
12 de abril de 2018
Militares do regime de Bashar al-Assad esvaziam bases e aeroportos do país, embora sinais em Washington sejam de que bombardeio pode não ser mais tão iminente como fez parecer Trump.
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Diante da ameaça de uma retaliação militar iminente por parte dos EUA e de seus aliados, as Forças Armadas da Síria reposicionaram aviões e outros recursos militares para evitar os possíveis ataques com mísseis, disseram autoridades americanas na quarta-feira (11/04).
Não ficou claro se as ações do regime sírio podem afetar o planejamento americano, que provavelmente vai envolver uma resposta militar ao ataque químico que teria sido executado pelo regime do ditador Bashar al-Assad no último sábado (07/04).
Mas a tentativa da Síria de mover as aeronaves, que foram possivelmente posicionadas ao lado de equipamentos militares da Rússia – os quais Washington provavelmente relutaria em atacar – pode limitar os danos que os EUA e seus aliados planejam infligir aos militares sírios.
Uma avaliação semelhante sobre as ações da Síria foi divulgada pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos, que informou que as forças do governo sírio estavam esvaziando os principais aeroportos e bases aéreas militares do país.
No ano passado, os militares dos EUA notificaram formalmente a Rússia pouco antes de 59 mísseis de cruzeiro atingirem a base aérea de Shayrat. O objetivo dos EUA era minimizar o risco para o pessoal russo.
Os alvos do ataque incluíram aviões sírios, hangares, instalações de armazenamento de petróleo, depósitos de munições, sistemas de defesa aérea e radares.
Na época, o Pentágono alegou que um quinto das aeronaves militares operacionais da Síria fora danificada ou destruída.
Críticas
Mas neste ano, se os Estados Unidos e seus aliados – Reino Unido, a França e países do Oriente Médio – lançarem ataques contra a Síria, o regime de Assad pode ter mais tempo para se preparar. Tudo por causa da retórica de Trump, que chegou a indicar no Twitter que um ataque é iminente ao dizer nesta quarta-feira que “misseis vão chegar” à Síria.
"A Rússia ameaçou derrubar todos os mísseis disparados na Síria. Prepare-se, Rússia, porque eles vão chegar, bonitos, novos e 'smart'. Vocês não deveriam ser parceiros desse animal que mata com gás seu próprio povo e tem prazer nisso", escreveu. Nos últimos dias, o presidente também disse que daria uma reposta à questão síria em até 48 horas.
Segundo o jornal Washington Post, auxiliares da Casa Branca foram pegos totalmente desprevenidos com a mensagem de Trump.
Mais tarde a porta-voz da Casa Branca Sarah Sanders tratou de afastar a expectativa da iminência de um ataque e disse que o próprio Trump está avaliando ainda algumas das "outras opções" que tem à sua disposição e que a resposta militar não é a única possibilidade. "Não é a única opção, existem outras opções sobre a mesa", garantiu a porta-voz.
A retórica de Trump provocou críticas.
"Ao anunciar nosso ataque tão cedo, você dá aos sírios a oportunidade de se protegerem como alvo e você dá a eles a oportunidade de ter mais tempo para pensar em qual seria nossa potencial resposta", disse Christine Wormuth, ex-subsecretária de Defesa no governo Obama.
O Exército russo disse nesta quarta-feira que havia observado movimentos da Marinha dos EUA na região. Qualquer ataque dos EUA vai certamente envolver mísseis disparados pela Marinha, dado o risco de envolver aeronaves contra as defesas aéreas russas e sírias. Um contratorpedeiro de mísseis guiados dos EUA, o Donald Cook, está no Mediterrâneo, e outros recursos navais poderiam ser usados em um ataque.
Wormuth disse que o anúncio antecipado das ações militares americanas também permite que Síria, Rússia e Irã pensem em "como eles, em troca, poderiam tentar contra-atacar".
Trump, no passado, repetidamente criticou outros líderes dos EUA por anunciar antecipadamente ações contra adversários. Durante sua campanha, por exemplo, ele se recusou a adiantar detalhes sobre sua estratégia de como lidar com a Coréia do Norte.
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Jim Mattis, tem pressionado internamente as autoridades do Pentágono a se tornarem mais atentas à segurança operacional, particularmente em suas conversas com a mídia.
Mattis não respondeu a uma pergunta sobre se ele estava preocupado em anunciar antecipadamente os movimentos americanos na Síria. Mas foi cauteloso em seus comentários públicos sobre a Síria na quarta-feira, divulgando pouco sobre o processo de tomada de decisão.
Opções
Os aliados dos EUA que podem tomar parte em uma eventual resposta militar também ainda estão estudando o que fazer. A primeira-ministra britânica, Theresa May, convocou para esta quinta-feira uma reunião de emergência para discutir a reação.
Um porta-voz de May revelou que a premiê decidiu convocar seus ministros para "discutir que resposta adotar diante dos acontecimentos na Síria".
Segundo o jornal New York Times, os EUA, o Reino Unido e a França – que possivelmente deve tomar parte em uma eventual resposta militar – não parecem ter combinado se a resposta militar deve ser mais robusta do que a de 2017, que também ocorreu em resposta a acusações de uso de armas químicas pelo regime de Bashar al-Assad.
Ainda de acordo com o NYT, a Casa Branca e conselheiros de segurança desta vez avaliam opções que incluem atacar mais de um alvo ou atacar por mais de um dia.
Nesta quarta-feira, Trump também discutiu o assunto com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Segundo a Casa Branca, Trump e Erdogan “trocaram pontos de vista” sobre os últimos acontecimentos na Síria.
No mesmo dia, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que está “preocupado com o impasse” e exortou os cincos membros permanentes do Conselho de Segurança a “evitarem uma situação fora de controle” na Síria.
“Contatei os embaixadores dos cinco membros permanentes (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido) para reafirmar a minha grande preocupação com o impasse atual e sublinhei a necessidade de se evitar uma situação fora de controle”, disse Guterres em comunicado.
JPS/rt/dpa/ots/afp
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Cronologia da guerra na Síria
O que se iniciou com protestos pacíficos em 2011 virou uma guerra civil brutal que já matou centenas de milhares de pessoas e fez milhões de refugiados. Reveja os principais acontecimentos.
Foto: Reuters/Stringer
2011: O início
Em 15 de março de 2011, protestos pacíficos contra a detenção de jovens acusados de fazer pichações antigoverno em sua escola, na cidade de Daraa, são reprimidos por forças de segurança, que abrem fogo contra manifestantes desarmados, matando quatro. Os protestos continuam por vários dias, fazendo 60 mortos e se espalham por todo o país. Segue-se um período de repressão violenta.
Foto: Anwar Amro/AFP/Getty Images
2011/2012: Isolamento internacional
O ex-presidente Barack Obama insta o presidente Bashar al-Assad a renunciar, e os EUA anunciam sanções a Assad em maio e congelam bens do governo sírio nos EUA em agosto de 2011. A União Europeia também anuncia sanções, em setembro. Em novembro, a Liga Árabe suspende a Síria e impõe sanções ao regime. Também a Turquia anuncia uma série de medidas, incluindo sanções, em dezembro.
Foto: AP
2012: Observadores internacionais desistem
Em dezembro de 2011, a Síria permite a entrada de observadores da Liga Árabe para monitorar a retirada de tropas e armas de áreas civis. A missão é suspensa em janeiro de 2012. Em fevereiro, os EUA fecham sua embaixada em Damasco. Em abril de 2012, chegam observadores da ONU, que partem dois meses depois por falta de segurança.
Foto: REUTERS
2013: Ataque com gás
Em março, um ataque com gás mata 26 pessoas, ao menos a metade deles soldados do governo, na cidade de Khan al-Assal. Investigação da ONU conclui que foi usado gás sarin. Em agosto, outro ataque com gás mata centenas em Ghouta Oriental, um subúrbio de Damasco controlado pelos rebeldes. A ONU afirma que mísseis com gás sarin foram lançados em áreas civis. Os EUA e outros países culpam regime sírio.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2013: Destruição de armas químicas
Em agosto, investigadores da ONU chegam à Síria para averiguar o uso de armas químicas, em meio a denúncias de médicos e ativistas. EUA afirmam que 1.429 pessoas morreram num ataque, e Obama pede ao Congresso autorização para ação militar. Em setembro, o Conselho de Segurança da ONU ameaça usar a força e, em outubro, Damasco inicia a destruição de seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: AFP/Getty Images
2014: EUA atacam "Estado Islâmico"
Em setembro, os EUA iniciam ataques aéreos a alvos do "Estado Islâmico" na Síria. Em outubro, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, começa a negociar uma trégua ao redor de Aleppo, mas o plano fracassa meses depois.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Ghirda
2015: Rússia entra no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao governo sírio nos bastidores, entra ativamente no conflito, bombardeando opositores do regime. A ajuda se mostra decisiva, e a guerra civil passa a pender para o lado de Assad, que nos meses seguintes recupera território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
A ONU e a Opac afirmam que tanto militares sírios quanto o "Estado Islâmico" usaram gás em ataques a opositores. O ano é marcado por várias tentativas de tréguas. Em setembro, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos por forças pró-Assad num fim de semana. Em dezembro, as forças governamentais assumem controle de Aleppo, encerrando quatro anos de domínio dos rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque em Idlib
Em fevereiro, Rússia e China vetam resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo sanções ao governo sírio pelo uso de armas químicas. Em abril, ao menos 58 pessoas morrem na província de Idlib, dominada pelos rebeldes, no que aparenta ser um ataque com gás. Testemunhas afirmam que o ataque foi executado por jatos sírios e russos, mas tanto Moscou quanto Damasco negam bombardeio.
Foto: Getty Images/AFP/O. H. Kadour
2017: Resposta dos EUA
Em abril, os EUA lançam dezenas de mísseis sobre a base militar de onde se acredita ter saído o ataque em Idlib. Em maio, o presidente Donald Trump aprova planos para armar combatentes das milícias curdas YPG na luta contra o "Estado Islâmico". A medida enfurece a Turquia, que vê as YPG como um grupo terrorista. Em outubro, o "Estado Islâmico" perde o controle de Raqqa, sua autoproclamada capital.
Em janeiro, aviões turcos bombardeiam a região curda de Afrin, dando início à operação contra as YPG intitulada "Ramo de Oliveira". A Turquia anuncia a morte de centenas de "terroristas", mas entre os mortos estão dezenas de civis, dizem ativistas. Em fevereiro, as milícias YPG chegam a acordo com o regime sírio para o envio de tropas pró-governo para auxiliar no combate aos turcos em Afrin.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Ofensiva em Ghouta Oriental
Em 21 de fevereiro, tropas pró-regime executam ofensiva em larga escala contra enclave rebelde localizado ao leste de Damasco. Em torno de 400 mil civis ficam sitiados, com acesso limitado a alimentos e cuidados médicos. Os ataques matam centenas de pessoas. No dia 24 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU aprova trégua humanitária de 30 dias vigente em todo o território sírio. Ela fracassa.
Foto: Reuters/B. Khabieh
2018: O bombardeio ocidental
Após dias de ameaça, em 14 de abril Trump anuncia o lançamento de mais de cem mísseis, em conjunto com França e Reino Unido, na Síria. O ataque é uma retaliação ao ataque químico na cidade de Duma, que matou dezenas de civis e que o Ocidente atribui ao regime de Bashar al-Assad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Matthews
2019: Estados Unidos começam a se retirar da Síria
Em janeiro de 2019, os Estados Unidos começaram a se retirar da Síria. O presidente americano afirmou que o Estado Islâmico havia sido derrotado e, por isso, a presença dos EUA não seria mais necessária. A decisão foi contestada dentro do próprio governo e também pelas milícias curdas na Síria, aliadas dos EUA, que temiam enfraquecer-se.
Foto: Getty Images/AFP/D. Souleiman
2019: fim do autoproclamado califado do EI
Em março de 2019, as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança liderada por curdos, anunciaram que o autoproclamado califado do Estado Islâmico foi totalmente eliminado, após combates em Baghouz, considerado o último reduto jihadista na Síria. Militantes curdos e árabes das FDS, apoiados pela coalizão internacional liderada pelos EUA, combatiam há várias semanas os jihadistas.